O presidente Jair Bolsonaro vai fechar o tour internacional por Ásia e Oriente Médio como estrela de um evento-chave para o destino do “dinheiro infinito” da Arábia Saudita, proveniente do Fundo Soberano do país. A Iniciativa para Investimentos Futuro (Future Investment Initiative, em inglês) reúne 30 nações e ocorre entre esta terça e quinta-feira (29 a 31), em Riad. Bolsonaro vai falar na quarta (30), em um painel que tem como tema “a volta do Brasil ao mundo dos negócios”.
A descrição do painel pela organização do evento tem tom crítico ao retrato recente da economia brasileira. “Há muito tempo [o Brasil] tem adotado políticas que levaram à estagnação, baixa produtividade e competitividade”, diz o texto. “Durante este tempo de transformação política, quais medidas específicas estão a caminho dos desafios sociais e econômicos do Brasil?”, questiona o material.
No desembarque na capital saudita, nesta segunda (28), Bolsonaro reiterou que estava em busca de recursos para a infraestrutura brasileira. Logo depois, foi recebido em um jantar com o príncipe Mohammed bin Salman. Foi o primeiro de três encontros programados com MBS, sigla pela qual é conhecido o saudita de 33 anos.
“Mr. Everything” (Senhor Tudo), como também é chamado no mundo árabe, gere uma das maiores fortunas do mundo. No portfólio, está o Fundo Público Soberano da Arábia Saudita, com US$ 300 bilhões em investimentos. É atualmente o quarto maior fundo público do gênero no mundo, atrás dos mantidos pela Noruega (US$ 875 bilhões), Abu Dhabi (US$ 350 bilhões) e Cingapura (US$ 330 bilhões).
Após a visita de Bolsonaro aos Emirados Árabes, no fim de semana, o fundo de Abu Dhabi também anunciou o interesse em ampliar os investimentos no Brasil.
Fundo da Arábia Saudita será muito maior
Os US$ 300 bilhões atuais do fundo soberano saudita são pouco perto do que está nos planos de MBS. A ideia é abrir ao mercado parte do capital da Aramco, a empresa petroleira saudita. A IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial) de 5% das ações da Aramco, programada para as próximas semanas, deve levantar US$ 2 trilhões, mais que o dobro do valor de mercado da Apple.
Os planos do príncipe com a IPO incluem o repasse de toda a Aramco para a gestão do Fundo Soberano saudita. O que escalonaria o potencial do fundo para algo superior a US$ 40 trilhões, o dobro do produto interno bruto dos Estados Unidos em 2018.
A meta de MBS é criar o maior fundo do gênero no mundo e diversificar a economia saudita a ponto de que o país não dependa mais unicamente do petróleo em duas décadas. Nos últimos anos, o fundo tem injetado recursos em diversas empresas de tecnologia, como Uber, Wework (de escritórios compartilhados) e Magic Leap (que fabrica aparelhos de realidade aumentada).
A parceria com o Vale do Silício americano foi abalada nos últimos meses após o assassinato do jornalista saudita Jamal Kashoggi, morto em outubro de 2018 na embaixada saudita na Turquia por membros do governo da Arábia.
Gigante brasileira de carnes é exemplo de investimento
Uma das primeiras experiências da Arábia Saudita com investimento via fundo no país ocorreu em 2015, com a compra de 20% da Minerva Foods, terceira maior empresa de carne bovina do Brasil. Os R$ 750 milhões foram injetados pela Saudi Agricultural and Livestock Investments (Salic), um “braço” do fundo soberano saudita.
O CEO da empresa, Fernando Galletti de Queiroz, esteve na recepção a Bolsonaro em Riad. “Eles têm um grande interesse no Brasil, acredito que existam oportunidades”, disse à Gazeta do Povo. “A visita do presidente veio no momento certo. Vai mostrar para onde o Brasil quer ir e para onde o Brasil tem vindo.”
*O jornalista viajou a convite do governo da Arábia Saudita