As recentes declarações do governador paulista, João Doria (PSDB), que disse não ter alinhamento com o governo Jair Bolsonaro (PSL) e que considerou "inaceitável" a fala do presidente sobre a morte do comandante nacional da OAB, reforçaram o distanciamento entre militantes de parte da direita e o tucano.
Membros do PSL e militantes que apoiam Bolsonaro nas redes sociais chamaram o posicionamento de Doria de "oportunista" e "discurso eleitoreiro". Também condenaram o tucano por entenderem que a movimentação indica que o governador quer se colocar como uma alternativa de centro-direita a Jair Bolsonaro na próxima eleição presidencial.
O quadro pode levar a um rompimento do "bolsodoria", a aliança informal que o governador lançou durante o segundo turno das eleições de 2018 – e que foi apontada como decisiva para que o tucano derrotasse Márcio França (PSB) na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes.
"Não era o caso de ele [Doria] dar esse tipo de declaração. É claro que ele, como qualquer pessoa, pode dar a opinião que quiser. Mas então que seja coerente, que então não fique querendo se aproximar do presidente em outras ocasiões", atacou o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PSL-RO).
João Doria agora rejeita efeito carona que o elegeu
Para os bolsonaristas, Doria agora rejeita a "onda conservadora" que o ajudou a vencer a disputa eleitoral de 2018. "Inventou o 'BolsoDoria' e foi eleito graças a isso visto sua pequena diferença do candidato do PSB e agora já começa sua campanha dizendo que NUNCA foi alinhando com o JB [Jair Bolsonaro]", escreveu em seu perfil no Twitter o deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP), conhecido como "Carteiro Reaça".
A aproximação entre Doria e Bolsonaro na eleição de 2018 ocorreu porque o candidato do PSDB ao Planalto, Geraldo Alckmin, não emplacou. Doria foi acusado por integrantes do partido de não ter se empenhado na campanha de Alckmin e, logo após o encerramento do primeiro turno, anunciou apoio a Bolsonaro e pouco tempo depois fez eventos públicos com a marca "bolsodoria".
Como resultado deste contexto, os bolsonaristas veem em Doria uma atitude oportunista, de um político que se aproxima quando identifica a possibilidade de colher frutos, mas que se distancia quando considera necessário.
"O Doria está adotando um discurso supostamente mais democrático, mais conciliador. É um discurso de massa, populista. Tudo para tentar agradar outras faixas do eleitorado", afirmou o militante bolsonarista Evandro Araújo, do grupo Direita DF.
Doria pode dividir a direita?
Com o mal-estar colocado, a dúvida que se estabelece é se Doria terá a capacidade de dividir o eleitorado de direita na eleição de 2022. Embora o governador hoje negue o interesse em se candidatar a presidente, seu nome é considerado dentro do PSDB como o representante natural do partido na próxima disputa. Em 2018, Doria chegou a se movimentar para concorrer ao Planalto, mas o partido acabou fechando com a candidatura de Alckmin.
A possibilidade de Doria avançar em um eleitorado que hoje está com Jair Bolsonaro passa principalmente pelo forte discurso antipetista adotado pelo governador desde o início de sua trajetória política. Por exemplo, em outubro de 2017 Doria disse que iria "levar chocolates" para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba – na ocasião, o petista ainda não estava preso, mas já havia sido condenado em primeira instância pelo então juiz Sergio Moro. Ainda antes, em 2007, Doria lançou o movimento "Cansei", que fazia oposição a Lula.
E na disputa eleitoral de 2018, Doria utilizou a retórica antipetista como uma de suas principais armas. Além de pregar o voto "bolsodoria" no segundo turno, o governador buscou pregar em Márcio França a pecha de esquerdista. Para tanto, lembrou de coligações entre o partido de França, o PSB, e o PT, e também recordou que o hoje ex-governador fez parte do Conselho da República durante o governo Lula.
O deputado Chrisóstomo não vê potencial em Doria para dividir o eleitorado. "Não vejo isso no discurso dele. Acredito que ele não tem essa capacidade", destacou.
Já o militante Evandro Araújo avalia que um cenário de "divisão da direita" é pouco provável porque, mesmo com a vitória de Bolsonaro e a ascensão de uma bancada identificada com os ideais direitistas, o segmento ainda está em pequena escala no Brasil.
"Doria não deve dividir a direita porque a direita ainda está se consolidando no Brasil. E no fim das contas, essa movimentação do governador acaba tendo um efeito positivo: acaba por filtrar os movimentos, a fazer com que a gente perceba quem realmente está ao lado de Bolsonaro. O MBL, por exemplo, é um que tem adotado mais esse discurso centrista", afirmou.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF