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Direita pode concorrer dividida em pelo menos seis capitais nas eleições de 2024

Votação para eleger conselheiros tutelares será feita com o sistema de urnas eletrônicas, usado no último pleito presidencial.
Novo modelo de urna eletrônica. (Foto: Abdias Pinheiro/TSE)

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A direita pode concorrer às eleições municipais de 2024 dividida em ao menos seis capitais. Em Belo Horizonte (MG), Goiânia (GO), Boa Vista (RR), Campo Grande (MS), Curitiba (PR) e Fortaleza (CE) as articulações apontam para mais de uma pré-candidatura de políticos da direita. A fragmentação pode atrapalhar o movimento conservador pela conquista de prefeituras em outubro se até o início da campanha, em agosto, não houver acordos para unificação destas candidaturas.

"Dividir os votos nunca é uma estratégia positiva ou inteligente. A fragmentação do eleitorado tende a enfraquecer as candidaturas, tornando as falhas dos candidatos do mesmo espectro ainda mais evidentes. Ao invés de se unirem em prol de uma causa comum, essas candidaturas se veem ocupadas em criticar umas às outras, abrindo espaço para que oponentes de espectros opostos também as critiquem", avalia o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos.

Em Belo Horizonte (BH), apesar de o governador Romeu Zema (Novo) integrar a base de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o chefe do Executivo mineiro apoiou o lançamento da pré-candidatura de Luiza Barreto, secretária estadual de Planejamento, pelo Novo. A inciativa sugere que, pelo menos por enquanto, Zema não apoiará o deputado federal Bruno Engler (PL-MG) para a prefeitura de BH, pré-candidato de Bolsonaro.

No ano passado, Engler, que era vice-líder do governo na Assembleia Legislativa de Minas, não apoiou o candidato escolhido por Zema para a presidência da Casa. Segundo o jornal "Estado de Minas", naquela ocasião, o governador teria dito ao deputado que não contasse com ele para a eleição municipal de 2024. "Minha candidatura já conta com apoio do ex-presidente Bolsonaro, do senador Cleitinho e do deputado Nikolas, se ele deseja seguir por outro caminho, é direito dele”, disse Engler à Gazeta do Povo ao comentar o assunto. O governador, porém, revelou em entrevista ao jornal mineiro "O Tempo" que não descarta apoiar uma candidatura que se mostre mais forte.

Em Goiânia ocorre uma situação parecida. O deputado federal Gustavo Gayer (PL) deverá ter a candidatura bancada pela legenda comandada por Valdemar Costa Neto para concorrer à prefeitura, também com o apoio de Bolsonaro. No entanto, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) – que promete estar ao lado do ex-presidente no ato da Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (25) e que busca o apoio dele para lançar sua candidatura a presidente em 2026 – está resistente a apoiar o deputado e, segundo a imprensa local, tem sondado outros nomes para a disputa. O ex-prefeito de Trindade Jânio Darrot (MDB) se coloca como uma opção.

Em dezembro, Darrot chegou a dizer que seria o candidato de Caiado, mas o governador desconversou sobre o assunto. “Eu nem sei disso. Tudo na hora certa”, afirmou ao jornal "O Popular" em novembro do ano passado.

Outra opção levantada foi a candidatura do presidente da Assembleia Legislativa Bruno Peixoto (União). No entanto, o parlamentar afirmou que desistiria da disputa. Segundo a rádio CBN Goiânia e outros jornais locais, até mesmo o senador do PL Wilder Morais chegou a ser sondado por Caiado, mas recusou devido ao posicionamento do PL goiano de apoiar Gayer.

O apoio de Caiado promete ser importante na disputa pela prefeitura de Goiânia. Segundo pesquisa de opinião do Paraná Pesquisas divulgada em fevereiro, ele tem aprovação de 81% dos eleitores da capital e 30,7% dos entrevistados disseram que votariam com certeza em um indicado dele na eleição municipal de 2024 (veja metodologia abaixo).

No caso de Boa Vista (RR), o governador Antonio Denarium (PP), que apoiou Bolsonaro em 2022, não deve apoiar o candidato do PL para as eleições municipais. Sendo vice-governador de Denarium de 2019 até 2022, Frutuoso Lins, que deve ser o candidato de Bolsonaro, rompeu com o governador no primeiro ano de mandato por discordâncias políticas. Na época, um dos principais motivos do rompimento foi uma suposta priorização do governo ao agronegócio voltado aos grandes produtores.

Já na capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, há uma grande indefinição sobre quem será o candidato apoiado por Bolsonaro e PL. O deputado federal Marcos Pollon (PL), apoiado pelos atiradores, caçadores e colecionadores de armas (CACs), e o Capitão Contar (PRTB), que em 2022 disputou o segundo turno da eleição para governador do Mato Grosso do Sul, mas perdeu para Eduardo Riedel (PSDB), estão disputando o apoio do ex-presidente. Mas Bolsonaro também já sugeriu recentemente apoiar o nome de outros dois políticos: o deputado estadual João Henrique Catan (PL) e a prefeita Adriane Lopes (PP), pré-candidata à reeleição apoiada pela senadora Tereza Cristina (PP). No momento em que a escolha do PL e de Bolsonaro for confirmada é que será possível saber se os demais continuarão disputando as eleições municipais, mesmo sem o aval do ex-presidente.

A indefinição da direita também permeia a disputa na capital paranaense, com o adicional complicador de uma possível eleição suplementar para senador ainda neste ano, caso o ex-juiz Sergio Moro (União-PR) tenha o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Há pelo menos cinco pré-candidaturas sendo avaliadas: a do deputado Paulo Martins (PL), que é cotado para a prefeitura, mas deve ser o nome do PL a concorrer à vaga de Moro, eventualmente; a do deputado estadual Ricardo Arruda (PL), que afirmou à Gazeta do Povo que é pré-candidato a prefeito de Curitiba pelo PL – embora o partido tenha declarado que não há nada fechado ainda; o ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo); o atual vice-prefeito, Eduardo Pimentel, apoiado pelo governador Ratinho Jr (PSD); e a jornalista Cristina Graeml, que lançou sua pré-candidatura em janeiro pelo Por Mais Brasil (PMB).

Embora dentro do PL cogite-se, inclusive, a possibilidade de um apoio a Pimentel, o Novo não indica, até o momento, que desistirá de uma candidatura própria nas eleições municipais de Curitiba.

(Cristina Graeml é colunista e apresentadora da Gazeta do Povo e, caso a candidatura em Curitiba seja confirmada, ela se afastará das atividades no jornal durante o período eleitoral.)

PL e Novo também podem ter palanques individuais nas eleições municipais de Fortaleza. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) lançou sua pré-candidatura à prefeitura da capital cearense ainda no ano passado e o PL deve apresentar o deputado André Fernandes (PL).

Capitão Wagner (União), que também já foi aliado de Bolsonaro e acabou perdendo a disputa ao governo do Ceará no ano passado, é mais um nome da centro-direita a disputar a prefeitura de Fortaleza em outubro.

A imagem de Bolsonaro também é cobiçada por pré-candidatos de fora do PL. A disputa pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife (PE), é exemplo. Sendo eleita em 2022, a deputada federal Clarissa Tércio (PP-RJ) deverá disputar contra o prefeito Luiz Medeiros (PL) o Executivo municipal. Ele assumiu a prefeitura após Anderson Ferreira (PL) renunciar ao cargo para disputar o governo do estado no último pleito.

Apesar de não ser do PL, Clarissa é vista no estado como um dos expoentes pró-Bolsonaro na região e disputa com Ferreira a hegemonia da oposição. Ao sair do PSC para disputar a Câmara dos Deputados, ela teve guarida no PP, presidido em Pernambuco pelo deputado federal Eduardo da Fonte, e abriu uma ala no partido em apoio a Bolsonaro.

Polarização tem seu peso, mas articulações locais pesam mais nas eleições municipais

Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que as eleições municipais têm suas próprias dinâmicas locais, se diferenciando das eleições gerais em que se elegem os representantes federais em que o peso da polarização entre Lula e Bolsonaro é maior. No caso dos municípios, os acordos locais tendem a falar mais alto quando se decide qual candidato um governador deve apoiar, a exemplo de articulações nas assembleias legislativas estaduais e câmaras municipais. A performance dos candidatos em pesquisas de opinião também conta.

Como mostrado acima, alguns governadores de direita estão indicando que apoiarão um nome que não o pré-candidato de Bolsonaro nas disputas municipais. Mesmo tendo influência sobre uma parcela considerável do eleitorado em várias capitais, a situação atual é diferente da de 2020, quando ele era presidente e tinha mais poder de influência.

“O governador faz um trade off, vê a realidade regional, vê uma relação custo-benefício, entende a estrutura de incentivos eletivos e aí opta por apoiar esse ou aquele nome em vez de apoiar o candidato de Bolsonaro na região”, disse o cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Tamanho dos municípios também é considerado na distribuição de candidaturas

Segundo a legislação eleitoral, somente cidades com mais de 200 mil eleitores podem realizar o segundo turno caso nenhum dos candidatos alcancem os 50% dos votos. De 2020 para cá, mais cinco cidades passaram a ter esse número de habitantes votantes registrados pela Justiça Eleitoral: São José dos Pinhais e Foz do Iguaçu (ambas no Paraná), as paulistas Embu das Artes e Sumaré, além de Palmas – a capital tocantinense era a única do país a ter a disputa decidida em turno único.

Na avaliação do cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, as eleição municipal é um processo "mais estrutural" do ponto de vista da política local e o tamanho dos municípios influencia na disposição das candidaturas.

"É muito raro você ter em municípios de um turno só com muitos candidatos disputando. Geralmente, no máximo, são três, quando muitíssimo, quatro. Mas geralmente o prefeito vai unir os seus partidos num candidato só, e a oposição vai fazer a mesma coisa. Ou seja, ele simula um segundo turno num único turno que existe. Por outro lado, naqueles municípios em que a possibilidade do segundo turno existe, aí é muito comum você ter uma concorrência", diz o cientista.

Ele acrescenta explicando que, por conta dessa dinâmica, os partidos se sentem mais a vontade a lançarem candidaturas apesar dos acordos políticos firmados em âmbito nacional.

"A tendência nesses municípios com mais de 200 mil eleitores é ter um segundo turno e isso estimula os partidos a lançarem os seus próprios candidatos, fazer o seu nome, ter a própria campanha que movimenta dinheiro, recursos. Isso fortalece o partido, mesmo perdendo a eleição. Além disso, no segundo turno, poder negociar melhor o apoio a um dos dois candidatos", afirmou Cerqueira.

Metodologia da pesquisa citada

O levantamento do instituto Paraná Pesquisas, contratado pelo PL de Goiânia (GO), entrevistou pessoalmente 680 eleitores da cidade entre os dias 31 de janeiro e 5 de fevereiro de 2024. A margem de erro é de 3,8 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. O levantamento está registrado na Justiça Eleitoral com o protocolo GO-09948/2024.

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