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Entrevista

“Direita precisa destacar as conquistas de Bolsonaro no Nordeste”, diz Queiroga sobre Eleições 2024

Queiroga
Ex-ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, Marcelo Queiroga (Foto: Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil )

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Analisando os cenário para as eleições municipais de 2024, o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou à Gazeta do Povo que a direita precisa defender o legado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para conquistar espaço no Nordeste, região que é reduto eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele mesmo pretende cumprir esse papel, já que foi lançado pelo Partido Liberal como pré-candidato à prefeitura de João Pessoa, capital da Paraíba, nas eleições municipais do ano que vem.

Chamando Bolsonaro de "general eleitoral" – mais do que um "cabo eleitoral" –, Queiroga cita a conclusão da transposição do rio São Francisco durante o governo Bolsonaro como um dos legados da administração anterior para o Nordeste, com potencial de ampliar os votos do partido em 2024. A obra, que tem sua paternidade reivindicada pelo Partido dos Trabalhadores, foi iniciada em 2007 e sua conclusão estava prevista para 2012, mas o encerramento só ocorreu em 2022.

O ex-ministro também observa efeitos positivos da presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em eventos do PL na região. "Dona Michele tem desempenhado um papel de protagonismo muito significativo nesse cenário eleitoral de curto e médio prazo nas eleições de 2024. Ela conquista uma admiração considerável e agrega eleitores que anteriormente não haviam votado no nosso partido, especialmente os jovens e uma parcela considerável de mulheres que optaram por outros candidatos", aponta Queiroga, afirmando também que há um segmento significativo de nordestinos com valores conservadores.

Ainda sobre os preparativos do PL para as disputas municipais no Nordeste, o ex-ministro da Saúde diz que é importante que a sigla evite alianças com legendas que possuam um conteúdo programático de esquerda, semelhante ao do PT e do PSB.

"É importante buscar repetir a aliança que sustentou o governo do presidente Jair Bolsonaro", salienta. Essa missão, contudo, é difícil. Alianças partidárias neste contexto costumam seguir uma lógica local em que muitas vezes é comum ver partidos que se opõem no cenário nacional firmando parcerias para as disputas municipais.

Natural da Paraíba, Queiroga se filiou ao PL em junho deste ano e logo foi anunciado como pré-candidato à prefeitura de João Pessoa. Durante sua passagem no Ministério da Saúde, o cardiologista de 57 anos foi considerado um quadro técnico da gestão Bolsonaro. Ele assumiu a pasta após a saída do general Eduardo Pazuello, atual deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.

Questionado sobre o motivo de ingressar na política partidária, Queiroga afirmou que foi convencido por Bolsonaro a disputar pela legenda. "O presidente reconhece minhas habilidades de gestão e minha capacidade de articulação política, o que justifica minha presença na política”, afirmou.

A seguir, confira a íntegra da entrevista.

Gazeta do Povo: Além do senhor, João Roma e Gilson Machado pretendem disputar prefeituras no Nordeste. Sabemos que a região é reduto do presidente Lula, quais as expectativas para essa eleição?

Queiroga: São mais de 5.000 municípios no Brasil, e o Partido Liberal tem a expectativa de aumentar o número de prefeitos e vereadores nas eleições de 2024, principalmente após a entrada do presidente Jair Bolsonaro no partido. O desempenho do presidente em todo o Brasil tem sido muito bom, inclusive em alguns municípios desta região, que tradicionalmente votam na esquerda. Portanto, o esforço do partido, que está se organizando em todo o Brasil, é ampliar o número de prefeitos, o que é fundamental para o ano de 2026.

GP: A inelegibilidade do Bolsonaro afeta o avanço da direita no Nordeste?

Queiroga: A questão da inelegibilidade é algo que pode ser revisto. Nós esperamos que o STF [Supremo Tribunal Federal] reconsidere a posição do TSE [Tribunal Superior Eleitoral], que na nossa opinião é equivocada. Mas, independentemente do posicionamento do TSE ou do STF, a direita no Brasil foi muito fortalecida após a vitória do presidente Jair Bolsonaro em 2018 e com o início do governo de Lula. Isso mostra que estávamos no caminho certo. Portanto, independentemente do desfecho da questão Bolsonaro, estaremos muito fortes em 2024.

Ele não é somente um cabo eleitoral, ele é um general eleitoral. Como demonstra o apreço que ele tem recebido, apesar de todos esses ataques injustos que ele vem sofrendo. Vemos que a popularidade dele se mantém preservada, ao contrário do atual governante, que não consegue andar na rua, simplesmente sair, porque o povo não está com ele. Isso ficou ainda mais evidente após o julgamento do TSE. Vemos uma atuação muito mais forte, inclusive por parte da primeira-dama.

GP: A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro tem feito viagens ao Nordeste. Acha que esse movimento facilita essa quebra de hegemonia do PT?

Queiroga: Com certeza, dona Michele tem desempenhado um papel de protagonismo muito significativo nesse cenário eleitoral de curto e médio prazo nas eleições de 2024. Ela conquista uma admiração considerável e agrega eleitores que anteriormente não haviam votado no nosso partido, especialmente os jovens e uma parcela considerável de mulheres que optaram por outros candidatos. Já estamos observando uma mudança nesse comportamento, especialmente entre as mulheres mais jovens, que estão se aproximando do nosso partido, incentivadas pela Michelle Bolsonaro e uma agenda conservadora.

O Nordeste não é apenas um reduto de esquerda; há um segmento significativo de nordestinos com valores conservadores. Eles não concordam, por exemplo, com a descriminalização das drogas ou com a legalização do aborto. Isso é especialmente verdadeiro entre as pessoas mais humildes, que são historicamente o eleitorado do PT. Michelle Bolsonaro tem sido eficaz em atrair esses eleitores com uma agenda que ressoa com suas convicções, contribuindo para a quebra da hegemonia do PT na região.

GP: O que a direita precisa fazer para avançar na região?

Queiroga: Para a direita avançar na região, há várias ações a serem consideradas. Primeiramente, é fundamental disputar as eleições, pois um time que não joga não pode vencer. Isso implica em tomar posições claras e não se aliar a partidos de orientação esquerdista, evitando alianças com legendas que possuam um conteúdo programático semelhante ao do PT e do PSB. É importante buscar repetir a aliança que sustentou o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Outro ponto relevante é que o bolsonarismo hoje conta com um partido forte, o novo PL, que elegeu uma bancada significativa de deputados federais na Câmara. Também possuímos uma bancada expressiva no Senado Federal na região Nordeste. Além disso, a transposição do Rio São Francisco, um projeto importante para a região, foi realizada durante o governo de Bolsonaro. Portanto, é crucial fortalecer a comunicação e destacar as conquistas. Para isso, o presidente nomeou vários ministros nordestinos, como Ciro Nogueira do Piauí, Rogério Marinho, hoje senador e líder do PL no Senado, Gilson Machado na Paraíba e João Roma, todos sob a liderança forte do presidente Bolsonaro.

Com o apoio do presidente Valdemar Costa Neto, temos a responsabilidade de defender o legado de Bolsonaro e o que ele realizou no país, especialmente na região Nordeste. Isso inclui a transposição do São Francisco, a representação forte na esfera política e o compromisso com a comunicação eficaz para conquistar o apoio dos eleitores da região.

GP: O senhor era considerado um quadro técnico do governo Jair Bolsonaro. O que o motivou a entrar na política partidária?

Queiroga: O presidente me convidou para assumir o Ministério da Saúde em um momento extremamente desafiador para a saúde pública. Sou o quinquagésimo ministro da saúde do Brasil, e nenhum dos 49 anteriores enfrentou um cenário remotamente parecido com o que enfrentei. Enfrentamos adversidades significativas, como a CPI da Covid, que passou seis meses trabalhando contra o Brasil. 

No campo político, você entra na política inicialmente por meio de uma nomeação política feita pelo Presidente da República. No entanto, você permanece na política por sua capacidade de lidar com adversários. Isso foi exemplificado também pelo governador Tarcísio de Freitas [de São Paulo]. O presidente apresentou Tarcísio como ministro da Infraestrutura, embora ele tenha manifestado interesse em ser candidato ao Senado. Bolsonaro decidiu que ele deveria permanecer no Executivo, e o mesmo acontece comigo. O Presidente reconhece minhas habilidades de gestão e minha capacidade de articulação política, o que justifica minha presença na política.

GP: Em uma entrevista o senhor comentou que a tecnologia da vacina contra Covid-19 foi para a lata do lixo. Por que isso ocorreu na sua avaliação?

Queiroga: O governo do presidente Bolsonaro, ao contrário do que muitos afirmam, nunca foi contra a vacinação. A estratégia do governo foi não impor a vacinação compulsória, pois acreditavam que forçar as pessoas nesse momento não traria benefícios significativos. O Ministério da Ciência e Tecnologia, em colaboração com o Ministério da Saúde, apoiou projetos de desenvolvimento de vacinas, como a vacina da USP [Universidade de São Paulo] e um acordo de transferência de tecnologia entre a Fundação do Ministério da Saúde, a Universidade de Oxford e a farmacêutica Astrazeneca, resultando em um investimento de R$ 1,9 bilhão para a produção da vacina de Oxford-AstraZeneca, que já está sendo produzida no Brasil.

No entanto, devido à pressão dos pesquisadores e outros fatores, a tecnologia inicialmente apoiada pelo governo acabou caindo em desuso. Quando mencionei que a tecnologia "foi para a lata do lixo", me referi ao fato de que essa abordagem para a vacinação, que poderia estar sendo utilizada, acabou sendo deixada de lado. Portanto, foi uma oportunidade perdida que poderia ter sido evitada com uma gestão mais eficaz e uma melhor comunicação sobre a importância da tecnologia apoiada inicialmente.

GP: O Ministério da Saúde recentemente se envolveu em polêmicas, como a promoção de um evento chamado “Batcu”, que apresentou uma coreografia indecente. O Conselho Nacional de Saúde também, ao pedir que o Ministério inclua terreiros como equipamentos promotores de saúde e cura complementares no Sistema Único de Saúde. Como o senhor avalia o andamento da pasta a partir disso? 

Queiroga: Um milhão de reais gastos em uma dança como essa levantou muitas críticas, levando o público a apelidar o Ministério de "Batcu". Isso reforça minha visão de que a tecnologia inicialmente apoiada foi negligenciada. Enquanto se afirmam amantes da ciência, estão financiando práticas religiosas de matriz africana no Sistema Único de Saúde. Não tenho nada contra as religiões, mas essas ações não têm uma base sólida na ciência. É por isso que, como médico, me sinto impelido a entrar na política.

Por outro lado, a sociedade brasileira está começando a perceber o que realmente está acontecendo no Ministério da Saúde. Notamos que a maioria dos conselheiros tutelares, pelo menos 70% deles, têm uma orientação conservadora. Os conselheiros tutelares desempenham um papel crucial na proteção de nossas crianças e adolescentes. A sociedade está começando a questionar as ações do Ministério da Saúde, e essa versão da pasta é considerada 20 vezes pior do que aquela de 2003 que assumiu o poder. As agendas identitárias não eram tão dominantes naquela época. Portanto, é essencial ocupar os espaços no Conselho Nacional de Saúde para exercer um controle social adequado e questionar o que o Estado permite nesse sentido.

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