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Senado

Diretor da Prevent Senior nega omissão de mortes por Covid, mas sai da CPI como investigado

O senador Randolfe Rodrigues faz pergunta a Pedro Batista durante a CPI
O senador Randolfe Rodrigues faz pergunta a Pedro Batista, diretor da Prevent Senior, durante a CPI (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

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O médico Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da empresa Prevent Senior, em depoimento à CPI da Covid do Senado nesta quarta-feira (22), disse que as acusações que foram imputadas contra a companhia são resultado de manipulação de dados, de fraudes e de interpretações equivocadas de conversas que foram retiradas de seus contextos. A fala não convenceu a maior parte dos senadores que integram a comissão, em especial os que fazem oposição ao governo de Jair Bolsonaro, e Batista passou a integrar a lista das pessoas formalmente investigadas pela CPI. A decisão foi tomada pelo relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Batista chamou de "peça de horror" o conjunto de acusações que paira sobre a empresa. Entre os fatos que são citados contra a Prevent Senior estão o de omitir mortes por Covid-19, distribuir o "kit covid" de modo indiscriminado a pacientes e proibir seus médicos de utilizarem máscaras de proteção contra o coronavírus. O diretor da empresa, entretanto, atribuiu as acusações a médicos que foram demitidos da empresa e que, segundo ele, acessaram de modo irregular e alteraram dados de pacientes. Batista disse que uma das pessoas citadas como "vítimas" das práticas equivocadas da Prevent Senior, que teria morrido, está na verdade viva e segue sob tratamento com profissionais da empresa.

Para alguns senadores, as informações sobre a Prevent Senior que se tornaram públicas confirmam que a empresa tem agido de modo incorreto ao longo da pandemia de coronavírus. Um ponto que gerou divergência entre Batista e os senadores Renan Calheiros e Otto Alencar (PSD-BA) foi uma suposta manipulação no código do Cadastro Internacional de Doenças (CID) presente em atestados de óbito de vítimas da Covid-19.

Segundo os parlamentares, a Prevent Senior modificava o CID das vítimas da Covid-19 para indicar a morte por outra doença, de modo a reduzir os seus números de mortalidade em decorrência do coronavírus. Batista rebateu a acusação dizendo que eventuais modificações de CID só se deram em casos em que houve efetivamente uma transformação no quadro do paciente.

O diretor da Prevent Senior foi também confrontado com vídeos e declarações que mostraram a prática da empresa de distribuir o "kit covid", agrupamento de medicações como cloroquina e ivermectina. Um vídeo veiculado durante a reunião mostrou uma ligação de um repórter da Rádio Bandeirantes que se passou por um interessado em adquirir um plano de saúde da Prevent Senior, e na conversa com o corretor ele ouve que receberia o "kit" pouco após sua entrada no plano. O "kit covid" e outras ações de tratamento precoce não têm ação comprovada contra o coronavírus.

Batista alegou que a empresa não estimula o tratamento precoce e nem enfatizou a distribuição de kits. Segundo ele, o que há, por parte da Prevent Senior, é o respeito à autonomia do médico, que pode adotar o tratamento precoce se achar que é o caso e receber consenso do paciente ou de sua família. O diretor da empresa disse concordar que não há comprovação da qualidade da cloroquina para combater a Covid-19 e se disse favorável às campanhas de vacinação.

O diretor da empresa também negou que tenha relação com o presidente Jair Bolsonaro e com seus filhos que estão na política. Ele foi questionado por isso por conta de postagens feitas por Bolsonaro e dois de seus filhos, o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o senador Flávio (Republicanos-RJ), que enalteceram resultados de pesquisas feitas pela Prevent Senior que mostrariam a qualidade do tratamento precoce.

Batista declarou ainda que não conhece a existência de um "gabinete paralelo" para assessoramento a Bolsonaro sobre questões ligadas à pandemia de coronavírus e que a médica Nise Yamaguchi nunca fez parte do quadro da empresa.

Sem informações sobre casos concretos

Batista foi questionado na CPI sobre as mortes do médico Anthony Wong e de Regina Hang, mãe do empresário Luciano Hang, proprietário das lojas Havan. Tanto Wong quanto Regina morreram no início de 2021 quando estavam sob os cuidados da Prevent Senior.

Reportagem da revista Piauí revelou que Wong morreu por conta da Covid-19, mas a causa de sua morte foi ocultada à época do óbito — o médico negava a gravidade da doença e se colocava contra medidas como vacinação e isolamento social.

Já a morte de Regina entrou no radar da CPI por conta de declarações de Hang, à época do ocorrido, que alegou que sua mãe não teve acesso ao tratamento precoce. Senadores questionaram a fala, já que Regina foi tratada pela Prevent Senior, e dizem que Hang fez as afirmações por conta de seu posicionamento político. O empresário é próximo do presidente Bolsonaro, defensor do tratamento precoce.

O diretor da Prevent Senior disse que não poderia fornecer detalhes de nenhum dos casos. Ele alegou que não tinha autorização das famílias de Wong e Regina e, por isso, ficou em silêncio quando questionado a respeito. Mas ele chegou a contrariar senadores que formularam perguntas sobre os casos tendo como base os atestados de óbito de Regina e Wong. Segundo ele, o documento não é um retrato fiel do processo e não pode servir de referência para uma constatação precisa dos mecanismos de tratamento.

A CPI aprovou, então, um requerimento de pedido de acesso aos prontuários médicos de Wong e Regina.

CPI tem indefinições para os próximos passos

A CPI terá na quinta-feira (23) o depoimento do empresário Danilo Trento, citado como próximo de Francisco Maximiano, o proprietário da Precisa Medicamentos. Trento também teria vínculos com o FIB Bank, empresa que atuou como garantidora do contrato entre a Precisa e o governo brasileiro. A Precisa foi a intermediária da negociação entre o Ministério da Saúde e o laboratório indiano Bharat Biotech, produtor da vacina Covaxin. O processo é envolvido em suspeitas de corrupção e o contrato acabou suspenso.

Para a semana que vem, entretanto, a CPI não tem uma definição de sua agenda — o que impacta também no estabelecimento do prazo final de seus trabalhos. Os senadores aprovaram, ao fim da sessão desta quarta, a convocação do servidor público Márcio Roberto Teixeira Nunes, do Instituto Evandro Chagas, acusado de envolvimento em um esquema de corrupção.

O vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), defende que Nunes esteja entre os ouvidos na próxima semana. Mas outros nomes também estão em debate entre os membros da comissão, como os de Luciano Hang e algum outro representante da Prevent Senior.

Há ainda o impasse em relação ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Parte dos integrantes da CPI quer que Queiroga preste novo depoimento ao colegiado. O ministro, porém, foi diagnosticado com Covid-19 e precisará prestar quarentena em Nova York, onde foi para acompanhar o presidente Bolsonaro na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Na manhã desta terça, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que a comissão não deveria esperar o restabelecimento de Queiroga.

Outra convocação ainda sem consenso é a da advogada Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro. O pedido de depoimento foi aprovado pela CPI, mas, como a data da oitiva ainda não foi agendada, os senadores discutem se efetivarão ou não a convocação. A presença de Valle não é unanimidade nem mesmo entre parlamentares da oposição.

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