O delegado federal Maurício Valeixo assumiu a direção da Polícia Federal (PF), em janeiro deste ano, com a fama de quem comandou a Superintendência da PF no Paraná durante a Operação Lava Jato. Foi ele também quem coordenou a operação de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que “resistiu” à ordem de soltura do petista expedida por um desembargador de plantão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Um convite do ex-juiz e amigo Sergio Moro o alçou ao topo da hierarquia da PF por mérito.
Sete meses depois, todo o prestígio acumulado por Valeixo foi completamente ignorado pelo presidente Jair Bolsonaro. Em declaração nesta quinta-feira (22), Bolsonaro disse que o diretor-geral da PF é subordinado a ele, e não ao ministro da Justiça, e ameaçou demitir Valeixo.
"Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze (superintendentes) foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um Estado para ir para lá e dizem 'está interferindo'. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral. Não se discute isso aí", afirmou o presidente, abrindo mais um capítulo da polêmica que se envolveu por suposta interferência nas forças de combate à corrupção no Brasil. A polêmica começou quando Bolsonaro divulgou à imprensa que o superintendente da PF no Rio de Janeiro seria trocado por "produtividade".
Moro até agora não se pronunciou sobre a declaração de Bolsonaro. Quando chamou Valeixo para substituir o ex-diretor-geral da PF Rogério Galloro, o ministro da Justiça deixou claro que enxergava nele a competência necessária para chefiar a principal unidade de polícia do país.
“Ele tem a missão de fortalecer a Polícia Federal para que ela possa direcionar suas investigações principalmente com foco em corrupção e (no combate ao) crime organizado. São dois desafios, mas ele é uma pessoa plenamente capacitada para realizar essa tarefa”, disse Moro.
Diretor-geral da Polícia Federal e ex-adido da PF nos EUA
Valeixo está há 23 anos na corporação. Paranaense de Mandaguaçu, ele é formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Foi delegado da Polícia Civil do Paraná, tendo integrado o Tigre, grupo de elite da corporação especializado em solução de sequestros. Em 1996, ingressou na Polícia Federal por meio de concurso público.
Foi coordenador de ensino da Academia Nacional da Polícia Federal, em Brasília, antes de assumir pela primeira vez a chefia da PF no Paraná, entre 2009 e 2011. Foi também adido da PF em Washington (EUA), entre 2013 e 2015.
Depois disso, colecionou operações nos quase dois anos que esteve à frente da Diretoria de Combate ao Crime Organizado (Dicor). O posto é considerado o terceiro na hierarquia da Polícia Federal. Ele coordenou equipes que atuaram em ações de repercussão política e econômica, como a Zelotes e a Acrônimo, fases da Lava Jato que miraram em empreiteiros e políticos dos mais variados partidos.
Atuou também na Operação Catilinárias, que teve como alvo parte do núcleo político do antigo PMDB (hoje MDB), como os ex-presidentes da Câmara, Eduardo Cunha e Henrique Alves, e na Operação Sépsis, que igualmente mirou peemedebistas ao prender o operador financeiro Lúcio Funaro.
Valeixo reassumiu a Superintendência da PF no Paraná, já famosa pelos desdobramentos da Lava Jato, em dezembro de 2017. Em abril de 2018, coordenou a operação de prisão e transporte do ex-presidente Lula de São Paulo para Curitiba, onde o petista cumpre pena de prisão no caso do tríplex do Guarujá.
Três meses depois, se envolveu em polêmica ao se negar a cumprir o habeas corpus do desembargador do TRF-4 Rogério Favreto em favor de Lula. Valeixo informou Moro, que estava em férias, do ocorrido e aguardou uma nova decisão judicial que cassasse o primeiro despacho, o que aconteceu no mesmo dia.
Valeixo evita polemizar
O diretor-geral da PF está em Salvador (BA) num simpósio em que se debate o combate à corrupção no país e que reúne delegados da Polícia Federal de todo o país. Valeixo não falou sobre as declarações do presidente em seu discurso e não deu entrevista.
Coube ao diretor da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, fazer a defesa do atual diretor-geral e criticar interferências políticas na corporação. Ao jornal Folha de São Paulo, disse que é fundamental que o chefe da PF tenha um prazo de estabilidade no posto.
“É fundamental que nosso diretor-geral tenha mandato. Seja escolhido por critérios técnicos e republicanos. Que tenha capacidade de formar sua equipe sem a interferência de nenhum posto político no governo”, disse.
“A PF é uma polícia de Estado. Nós respeitamos a autoridade que o povo conferiu ao presidente da República. Entretanto o trabalho da Polícia Federal é um trabalho de Estado, permanente, independente de qualquer governo."