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Bolsonaro discursa Cúpula das Américas
Bolsonaro discursou na Cúpula das Américas com discurso de defesa às liberdades e destaque à reunião com Joe Biden, presidente dos EUA| Foto: Etienne Laurent/EFE

O presidente Jair Bolsonaro (PL) destacou a reunião bilateral que teve com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e enalteceu o Brasil como um protagonista no cenário internacional em discurso na segunda sessão plenária da Cúpula das Américas, nesta sexta-feira (10), em Los Angeles (EUA). Ele também defendeu as liberdades individuais, que sofrem "um ataque claro" no mundo todo, e os esforços do Brasil na preservação da Amazônia. Citou ainda a busca "incansável" do Estado brasileiro pelo jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, que estão desaparecidos na região amazônica desde o último domingo (5).

Ao longo de sua fala, Bolsonaro não fez menção direta à Rússia, mas destacou sua viagem ao país no início do ano, onde foi discutir a compra e assegurar o envio de fertilizantes russos ao Brasil. A viagem foi criticada por opositores políticos e até pelos Estados Unido. À época, a Casa Branca disse que o Brasil parecia "estar do outro lado" em relação à "maioria da comunidade global".

Em seu discurso na Cúpula das Américas, Bolsonaro disse que a viagem foi importante não apenas por evitar uma crise alimentar "ao garantir acesso a fertilizantes". Para ele, também permitiu que o país desempenhasse "um papel de liderança na busca de soluções internacionais em favor da segurança alimentar".

Ao fim de seu discurso, Bolsonaro ressaltou o encontro que teve com Biden na quinta-feira (9) e definiu a "experiência" como "simplesmente fantástica". "Estou maravilhado e acreditando em suas palavras e naquilo que foi tratado reservadamente entre nós", declarou. O presidente brasileiro disse que os dois ficaram por 30 minutos "sentados a uma distância inferior a um metro e sem máscara".

Bolsonaro apontou, ainda, ter sentido de Biden "muita sinceridade" e vontade em resolver "certos problemas que fogem, obviamente, de total responsabilidade de cada um de nós". A fala é uma referência à guerra na Ucrânia e a preocupação dos Estados Unidos em relação ao conflito. "Mas, juntos, poderemos buscar alternativas para pôr um fim nestes conflitos. E eu acredito que todos trabalhando desta maneira atingiremos nossos objetivos, em especial o governo americano", disse.

O que explicam os elogios a Biden e a referência às relações com a Rússia

Ao fazer referência à viagem que fez à Rússia e enaltecer o encontro com Biden, Bolsonaro coloca em prática uma estratégia elaborada pelo Itamaraty e por militares para sua política externa. A ideia é mostrar que a posição de equilíbrio adotada sobre a guerra na Ucrânia está correta e que, ao contrário dos críticos, o Brasil não está isolado do mundo.

Como citou o próprio Bolsonaro ao dizer que o Brasil desempenhou um "papel de liderança" na busca de soluções internacionais em favor da segurança alimentar, a estratégia da política externa brasileira é alçar o país a um nível de protagonismo no debate internacional que possibilite usar o capital político e diplomático para defender diferentes demandas.

Entre os principais pleitos do Brasil está a ascensão à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O comitê de ministros do "clube dos países ricos" aprovou nesta sexta-feira (10), sem objeções, o plano com os termos e condições para a entrada do Brasil na entidade.

Outras demandas do Brasil são as reformas do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que Bolsonaro falou sobre a defesa das liberdades

Além de enaltecer a política externa brasileira, Bolsonaro também fez diferentes referências à defesa das liberdades. Para ele, a liberdade, que inclui as liberdades de expressão, de trabalho e de culto religioso, contempla o "bem mais precioso para o ser humano". A palavra foi citada em cinco ocasiões pelo presidente.

Bolsonaro aproveitou a fala para criticar opositores que, segundo ele, não respeitam a liberdade de expressão. "Atualmente, vemos no Brasil e em parte do mundo um ataque claro às liberdades individuais por opinar de forma diferente", declarou. Ele não deixou, porém, de fazer menção ao respeito à democracia.

"Deixo aqui uma mensagem de compromisso do Brasil com a integração das américas, como continente próspero e democrático. Ao longo do meu mandato, o Brasil manteve-se presente nos fóruns hemisféricos e regionais trabalhando pela democracia, pela liberdade e pelas prosperidades econômica e social", destacou.

O presidente também deixou clara a posição de seu governo contra o aborto e a favor da família. "Neste ano em que o Brasil comemora 200 anos de independência, afirmamos que temos um governo que acredita em Deus, respeita os seus militares, é favorável à vida desde a sua concepção, defende a família e deve lealdade ao seu povo", disse. "No Brasil, já se entende que a liberdade é um bem maior que a própria vida, pois um homem e mulher sem liberdade não tem vida", complementou.

O que Bolsonaro falou sobre a Amazônia na Cúpula das Américas

Sobre o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, Bolsonaro disse que, desde que tomou conhecimento do sumiço, as Forças Armadas e a Polícia Federal (PF) "têm se destacado na busca incansável da busca" de ambos. "Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida", enfatizou.

Ao falar sobre a Amazônia e preservação ambiental, Bolsonaro disse que o país é um dos que mais preserva o meio ambiente e suas florestas. Segundo ele, o país tem a matriz energética mais "limpa e diversificada do mundo". E que, mesmo preservando 66% da vegetação nativa e usando apenas 27% do território para a pecuária e agricultura, o Brasil é uma potência agrícola sustentável.

"Não necessitamos da região amazônica para expandir nosso agronegócio. Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta", comentou. Bolsonaro disse que os desafios na Amazônia são "proporcionais" ao tamanho da região, que equivale a "toda a Europa Ocidental".

O presidente brasileiro disse que nenhum país do mundo tem uma legislação ambiental tão "completa e restritiva" e também destacou que o Código Florestal deve servir de exemplo para outros países. "Afinal, somos responsáveis pela emissão de menos de 3% do carbono do planeta, mesmo sendo a 10ª economia do mundo", comentou.

Bolsonaro disse que seu governo reforçou o combate ao desmatamento e estabeleceu operações sob a coordenação e controle do Ministério da Justiça para a proteção das florestas. Também comentou que, com o lançamento do programa Metano Zero, o Brasil foi o primeiro país a implementar compromissos assumidos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-26).

O programa Metano Zero propõe financiamento específico para a estruturar projetos de tratamentos de resíduos orgânicos de animais, cana de açúcar e de aterros sanitários, a fim de reduzir 30% das emissões totais de metano no Brasil.

O presidente também enalteceu o país como pioneiro na transição energética. Segundo Bolsonaro, a "descarbonização" se iniciou no Brasil há quase meio século com biocombustíveis e outras fontes de energias renováveis. "Em 2021, batemos recordes de instalação de energia", comentou.

"Hoje, 85% da energia gerada no Brasil vem de fontes renováveis. Temos um potencial de produção excedente de energia eólica no mar na ordem de 700 gigawatts (GW), equivalente a quatro vezes a nossa atual capacidade instalada", disse, citando o potencial do país para se tornar um grande exportador de hidrogênio e amônia verdes.

"As eólicas na costa do nosso Nordeste poderão produzir hidrogênio e amônia verde para exportação. Nesse momento em que países desenvolvidos recorrem a combustíveis fósseis, o Brasil assume papel fundamental como fornecedor de energia totalmente limpa, rumo a uma nova economia neutra em emissões”, discursou o presidente brasileiro.

O hidrogênio é um combustível que requer uma grande quantidade de energia para ser produzido. Caso o processo de produção desse hidrogênio não faça uso de fontes energéticas danosas ao meio ambiente, dá-se a ele o nome de "hidrogênio verde". O Brasil pretende usar a energia obtida a partir de offshores (energia eólica gerada a partir de estruturas instaladas no mar) para a produção desse hidrogênio combustível.

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