Historicamente unidos nas disputas presidenciais desde 1994, PSDB e DEM (o antigo PFL) devem caminhar em lados opostos na eleição do ano que vem. Por trás desse divórcio está uma disputa por poder em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil.
"A postura desagregadora do governador de São Paulo amplia o seu isolamento político, e reforça a percepção do seu despreparo para liderar um projeto nacional", disparou o presidente nacional do Democratas, ACM Neto, em nota oficial no dia 14 de maio, ao oficializar o rompimento do partido com João Doria (PSDB).
Com pretensões de disputar o Palácio do Planalto, Doria contava com o apoio do DEM em 2022. Tudo ia bem até a eleição que escolheu o novo presidente da Câmara dos Deputados, em fevereiro deste ano. O candidato apoiado pelo então presidente Rodrigo Maia (DEM) e pelo governador de São Paulo foi derrotado por Arthur Lira (PP-AL). Parte da culpa pelo revés foi atribuída a ACM Neto, que liberou a bancada do DEM na Câmara para votar como quisesse. A derrota rachou o partido democrata e causou uma fissura na aliança em São Paulo.
Sentindo-se traído pelo ex-prefeito de Salvador, Doria articulou a desfiliação do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, do DEM e a entrada dele no PSDB. A troca de sigla provocou a ira de ACM, que pretendia lançar Garcia ao Palácio dos Bandeirantes com o apoio do PSDB. O vice-governador será candidato ao governo em 2022, mas agora pelo partido tucano e com a bênção de Doria. A pré-candidatura de Garcia foi anunciada no dia 1º de junho.
O movimento implodiu qualquer chance de os Democratas caminharem juntos com Doria nas eleições do ano que vem. "Não tem chance nenhuma, zero. Acabou de implodir qualquer chance de ter o DEM com ele", declarou o presidente do DEM ao jornal O Estado de São Paulo.
Esse movimento ampliou também um racha interno no PSDB. Parte dos tucanos defende a candidatura de Geraldo Alckmin para suceder Doria. Atualmente sem mandato político, o ex-governador aparece como favorito nas pesquisas de intenção de voto realizadas até agora. Entretanto, Alckmin tem minoria dentro da sigla e não tem o apoio do atual governador, que foi seu afilhado político no passado.
Alckmin ainda não cravou se irá enfrentar as prévias do partido contra Rodrigo Garcia. Com o diretório estadual sob controle de Doria, os apoiadores do ex-governador temem que a situação dele fique insustentável dentro do PSDB em caso de derrota.
Segundo o presidente estadual do PSDB, Marcos Vinholi, até o momento, a única manifestação de interesse em disputar o Palácio dos Bandeirantes foi de Garcia. Aliados de Doria tentam convencer Alckmin a disputar uma vaga no Senado, já que o senador José Serra termina seu mandato em 2022 e sinalizou que não pretende disputar a reeleição.
DEM tenta contragolpe ao atrair Alckmin
Como forma de contragolpear João Doria e em resposta à desfiliação de Rodrigo Garcia, dirigentes do DEM tentam atrair Alckmin para o partido. O grupo de ACM Neto sinalizou ao ex-governador tucano que no partido democrata terá a vaga de candidato ao governo paulista garantida e também a possibilidade de determinar como será a distribuição de recursos dos fundos partidário e eleitoral.
Antes de definir sobre um possível mudança de partido, porém, Alckmin tem conversado com prefeitos do interior paulista para angariar apoio. Uma das estratégias é que, ao anunciar a saída do PSDB, o ex-governador consiga levar consigo alguns prefeitos tucanos também descontentes com a gestão Doria. Em outra frente, Alckmin tem participado de encontros com a militância do partido e de debates e painéis virtuais.
No entanto, assim como no PSDB, o DEM entrará na disputa estadual rachado em pelo menos três grupos. Apesar de uma ala apoiar a candidatura de Alckmin, a oferta dos dirigentes do partido para filiação do tucano já provocou reações por parte do diretório estadual do DEM, que é comandado pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite. O vereador afirmou que não pretende aceitar a proposta de entregarem o partido de “porteira fechada” para Alckmin.
Alguns integrantes do DEM paulista dizem que a maioria está alinhada ao projeto desenhado por Doria com a candidatura de Rodrigo Garcia ao governo estadual. A movimentação garantiria mais uma vez um nome do DEM na chapa de vice-governador e seria uma forma de pressionar os democratas a apoiarem o nome do atual governador tucano na disputa pelo Palácio do Planalto.
No partido existem ainda nomes que não pretendem apoiar nem Alckmin nem Garcia, como é o caso do deputado federal Kim Kataguiri (SP), que já sinalizou que irá apoiar o deputado estadual Arthur do Val (Patriota). Depois de receber cerca de 500 mil votos na disputa pela prefeitura de São Paulo no ano passado, Val pretende disputar o governo estadual no ano que vem. O projeto, porém, pode ser abortado por causa da possível ida do presidente Jair Bolsonaro para o Patriota.
Cacique tucano vê disputa “fratricida” entre DEM e PSDB
Opositor de João Doria dentro do PSDB, o deputado federal Aécio Neves (MG) alega que está acontecendo um jogo “fratricida” entre tucanos e democratas. Na sua avaliação, as duas legendas sairão perdendo.
"Não tem muito sentido esse jogo fratricida entre nós. Somos um partido que ainda está vivendo um momento de dificuldade, reorganização, é um erro esse atropelo entre nós, que fomos aliados históricos por mais de 20 anos. É um jogo de perde-perde, um fragilizando o outro", disse Aécio ao jornal O Estado de S. Paulo.
Sobre a possível saída de Alckmin do PSDB, o deputado afirma que deveria haver um maior esforço por parte dos correligionários para manter o ex-governador na legenda. “É preciso um esforço mais amplo do partido, inclusive nacional, para que Geraldo fique no PSDB, é um quadro do ponto de vista eleitoral muito forte. Esse é um sentimento que eu tenho e muitas outras lideranças têm, mas é uma questão a ser debatida em São Paulo”, completou.
Com essas divisões, nacionalmente o DEM pretende testar o nome do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Caso não haja um crescimento nas pesquisas eleitorais, a tendência é que os democratas adotem neutralidade na disputa presidencial.
Apesar de contar com nomes dentro do governo Bolsonaro, como a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, a ala bolsonarista não teria forças atualmente para levar a legenda ao projeto de reeleição do presidente.
Já Doria não terá vida fácil em seu projeto político no PSDB. Ele deve disputar as prévias do partido que irá escolher o candidato ao Planalto, em 21 de novembro, contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. A ideia é fazer as eleições internas para os governos estaduais nessa mesma data.
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