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Fundo Amazônia

Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula

Presidente dos EUA, Joe Biden anunciou doação ao Fundo Amazônia, mas valor abaixo do prometido frustra ambientalistas
Presidente dos EUA, Joe Biden anunciou doação ao Fundo Amazônia, mas valor abaixo do prometido frustra ambientalistas. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O recente anúncio do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, do aporte de US$ 50 milhões em doações para o Fundo Amazônia não traz em si a garantia de que o recurso chegará. O repasse ainda precisa ser submetido à aprovação do Congresso dos EUA, que terá maioria republicana a partir de 2025.

Com a vitória do republicano Donald Trump nas eleições, as chances de as doações serem interrompidas são grandes. Isso porque, Trump, que assume a presidência em 20 de janeiro, já prometeu retirar os EUA novamente do Acordo Climático de Paris, como fez na sua gestão passada, e reverter as políticas ambientais de Biden. 

Na semana passada, quando oficializou o anúncio da doação ao Fundo, Biden se tornou o primeiro presidente em exercício dos EUA a visitar a Amazônia, no entanto, além da incerteza sobre o efetivo envio do recurso anunciado, o valor não chegará a 20% do que foi prometido anteriormente pelo governo americano.

Isso porque Biden disse, em abril de 2023, que os EUA enviariam US$ 500 milhões ao Fundo Amazônia ao longo de 5 anos. Desde então, US$ 53,4 milhões já foram repassados e, somados aos outros US$ 50 anunciados recentemente pelo presidente americano, totalizariam US$ 103,4 milhões ou cerca de 20% do valor total.

“Estou saindo da presidência em janeiro e vou deixar ao meu sucessor uma base muito forte, se eles decidirem seguir esse caminho. Alguns podem negar ou atrasar a revolução de energia limpa que vem acontecendo nos EUA, mas ninguém pode revertê-la”, acrescentou Biden. 

Atualmente, o site oficial do Fundo mostra três doações vindas dos EUA. A primeira, de US$ 3 milhões, foi feita em dezembro de 2023. As duas seguintes, de US$ 47 milhões e US$ 3,4 milhões, foram feitas em agosto e outubro de 2024. Contudo, sem o aval do Congresso para os US$ 50 anunciados na semana passada, o valor efetivamente doado não deve chegar aos US$ 100 milhões.

Para analistas, a chance de o valor anunciado não ser aprovado é concreta, o que pode afetar a política ambiental do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no entanto, chegou a afirmar que as expectativas se mantêm, mas ponderou que as doações são voluntárias. 

Já o coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Nilto Tatto (PT-SP), admitiu a frustração com os valores destinados pelos EUA ao Fundo Amazônia.

Valor abaixo do prometido para o Fundo Amazônia frustra ambientalistas 

Apesar do anúncio de Biden, não há informação sobre quando as doações estarão disponíveis, já que o valor precisa ser aprovado pelos congressistas americanos. Os aportes recebidos pelo Fundo Amazônia são administradas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Questionada sobre o recebimento dos aportes, a assessoria de imprensa do BNDES informou que a contratação e a internalização de recursos referentes a doações anunciadas por diferentes países acontecem segundo os trâmites, fluxos orçamentários e aprovações de cada país doador.

“Assim, os prazos dependem dos procedimentos de transferência de recursos específicos de cada país. Após a finalização de todas as etapas, o recurso ingressa no Fundo”, disse o BNDES à Gazeta do Povo.  

Por faltar mais de 80% do valor prometido pelo presidente Joe Biden, ambientalistas demonstraram preocupação com o comprometimento real dos Estados Unidos com a agenda ambiental global. 

O deputado Nilto Tatto não escondeu a frustração diante do anúncio do presidente Biden sobre a doação ao Fundo Amazônia. “Sem dúvida nenhuma é frustrante. Também demonstra o quanto é difícil os países ricos e os maiores responsáveis pela crise climática assumirem maiores responsabilidades”, disse à Gazeta do Povo

Ao ser questionada sobre a possibilidade do compromisso dos EUA não ser cumprido, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ressaltou que as doações para o Fundo Amazônia são voluntárias. No entanto, a ministra afirmou que a expectativa se mantém.

“Os EUA tinham se comprometido com os US$ 50 milhões e o Brasil está na expectativa da internalização desses recursos, afinal de contas é um compromisso de Estado que não pode mudar porque mudou o governo”, afirmou Marina Silva em entrevista para o portal Poder 360

Na avaliação do advogado especialista em direito ambiental e comércio internacional, Guilherme Doval, além da frustração, as perspectivas são de que o valor não seja efetivamente doado com a mudança no governo dos EUA.

“A equipe do ex-presidente reeleito Trump tem defendido como prioridade a redução de gastos externos com recursos dos contribuintes americanos. Então, mesmo que a nova gestão deseje cumprir o compromisso assumido pelo seu antecessor, a aprovação da doação pode enfrentar barreiras significativas em um Congresso de maioria republicana”, pontuou Doval. 

O vice-líder do governo, deputado Rogério Correia (PT-MG), porém, comemorou os anúncios. “Depois do anúncio de Biden de US$ 50 mi em investimentos no Fundo Amazônia, foi a vez da Noruega anunciar o aporte de mais 60 milhões. Quero os países ricos competindo pra ver quem doa mais! Faz o L!”, disse o deputado em publicação na sua conta no X.

Já para a deputada Silvia Waiãpi (PL-AP), o valor anunciado não chegará ao Fundo Amazônia. "Óbvio que nós jamais veremos esse dinheiro. É tudo factóide. É tudo uma forma de fazer com que vários brasileiros achem que está sendo feita alguma coisa, mas, pelo contrário, a Amazônia está aí esquecida, o povo faminto desesperado com sede de desenvolvimento. Isso tudo é uma forma de paralisar o Brasil", disse a parlamentar.

Analistas avaliam que cenário aponta desequilíbrio na política ambiental de Lula 

O governo Lula 3 assumiu a presidência com o compromisso de retomar o Fundo Amazônia após a interrupção das doações durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Após quatro anos paralisado, a retomada das doações rendeu mais de R$ 700 milhões somente em 2023.

O valor total recebido em 2024 ainda não foi contabilizado, mas a diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello, destacou que o Fundo Amazônia atingiu a marca de R$ 882 milhões em aprovações de projetos este ano. No ano passado, foram aprovados R$ 553 milhões. 

Dentre as propostas aprovadas entre 2023 e 2024 estão as de apoio aos Corpos de Bombeiros de sete estados da Amazônia Legal. Juntos, Rondônia, Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima e Maranhão receberam R$ 280 milhões para projetos de prevenção e combate a incêndios florestais e queimadas.

A maior parte das aprovações, totalizando R$ 225 milhões, ocorreu no segundo semestre de 2024, em meio à maior crise de queimadas em 14 anos. Pouco antes, o governo Lula e o BNDES foram alvo de críticas pela demora na aprovação dos projetos do Fundo Amazônia. A lentidão foi exposta pelos governos estaduais em reuniões no Supremo Tribunal Federal (STF). 

Além disso, a alocação de recursos federais para o combate às queimadas sofreu cortes em 2024, apesar das perspectivas de secas e da solicitação de um volume maior de recursos pelo Ibama. O orçamento previu apenas R$ 50 milhões para a prevenção e o combate às queimadas.  

Para analistas, o Fundo Amazônia deixou de ter papel complementar na política ambiental do Brasil, o que coloca em risco a gestão de Lula e de Marina Silva.

“Em tese, o Fundo Amazônia deveria ter um papel complementar na política ambiental, uma vez que depende de recursos externos incertos, como é o caso de doações estrangeiras. As ações consideradas essenciais pelo governo brasileiro deveriam ser financiadas prioritariamente por recursos alocados no orçamento federal”, afirmou o advogado especialista em direito ambiental e comércio internacional, Guilherme Doval.  

Na avaliação do gerente de comércio internacional da BMJ Consultores Associados, Leandro Barcelos, se o recurso anunciado por Biden não chegar, poderá haver impactos no governo Lula.

“Isso pode impactar a política ambiental do governo Lula ao limitar os recursos disponíveis para implementação de projetos ambientais na Amazônia, afetando direta e negativamente os esforços de combate ao desmatamento e promoção de práticas sustentáveis. Não obstante, poderá influenciar a percepção internacional sobre o comprometimento do Brasil com a proteção da Amazônia em plena preparação para COP30 que será realizada em Belém em exatos 12 meses”, disse Barcelos.

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