O governador de São Paulo, João Doria (PSDB)| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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A recente declaração do governador paulista João Doria (PSDB), que disse estudar a possibilidade de concorrer à reeleição em 2022 em vez de se candidatar a presidente da República, não frustrou seus colegas de partido. Ao contrário: o posicionamento de Doria foi visto com alívio.

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O entendimento de membros do PSDB que conversaram com a Gazeta do Povo é de que a fala do governador abre caminhos para que o partido se reorganize, negocie com outras forças e eventualmente até deixe de ter um candidato próprio na próxima disputa presidencial. "Nós temos que buscar uma unidade do centro. Não podemos iniciar conversas já impondo uma candidatura", declarou o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF).

O nome de Doria é visto como alternativa presidencial desde 2017, ano em que ele iniciou seu mandato como prefeito de São Paulo. Bem avaliado, ganhou projeção nacional e passou a ameaçar aquele que o inserira na vida partidária, o então governador e pré-candidato tucano a presidente em 2018, Geraldo Alckmin.

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O partido acabou ficando com Alckmin, mas a candidatura foi um fracasso: ele somou menos de 5% dos votos válidos no primeiro turno, o pior desempenho de um tucano na história das disputas presidenciais. Até então, o PT e o PSDB haviam protagonizado todas as eleições presidenciais entre 1994 e 2014.

Doria deixou a prefeitura pouco mais de um ano após a posse e concorreu ao governo. Venceu a disputa em uma dobradinha informal com o então candidato Jair Bolsonaro. Pouco após a posse de ambos, Doria e Bolsonaro romperam e hoje são adversários políticos.

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Lula, prévias internas e "projeto de centro" são obstáculos para Doria

A manifestação de Doria sobre uma eventual candidatura à reeleição foi dada por ele em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada no sábado (13). “Diante deste novo quadro da política brasileira, nada deve ser descartado”, disse. O "quadro novo" citado por Doria tem como um dos elementos principais o retorno ao jogo político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tornado elegível após a anulação das sentenças da Lava Jato.

Outro elemento que determina o "quadro novo" descrito por Doria é a decisão do presidente nacional do PSDB, o ex-deputado Bruno Araújo (PE), de estabelecer para outubro eleições prévias para a definição do candidato tucano a presidente da República. O anúncio das prévias ocorre em um momento em que o PSDB vê o surgimento de um nome que embaralha um cenário que parecia limpo para Doria: o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

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Leite ganhou notoriedade por confrontar o presidente Bolsonaro por causa da gestão do combate à pandemia de coronavírus – do mesmo modo que faz Doria. Dentro do partido, o governador gaúcho passou a ser visto como alternativa presidencial como reação a um movimento empreendido por Doria em fevereiro: o governador paulista quis se tornar o presidente nacional do partido; a ação foi vista como autoritária por deputados, que passaram a fomentar o nome de Leite.

"Nosso objetivo é primeiro discutir ideias e propósitos, depois nomes. Neste sentido, o governador [do Rio Grande do Sul] se coloca sim como um agente disposto a colaborar para um projeto político nacional", afirmou o deputado estadual Mateus Wesp, presidente do PSDB-RS.

O deputado gaúcho defende que o PSDB promova discussões com diferentes forças políticas e que o partido não necessariamente precisa ter um nome para a disputa presidencial – para Wesp, o mais relevante é a apresentação de um projeto.

Aliado de Doria, o deputado federal Vitor Lippi (PSDB-SP) vê como decisiva para o partido a necessidade de identificar "um nome que possa ser competitivo e representar o centro". "Um nome que tenha a possibilidade de representar a social-democracia e, ao mesmo tempo, tenha uma preocupação de modernização do Brasil", diz.

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Metralhadora de Aécio se virou contra Doria

Outro elemento recém-trazido ao cenário político que pode influenciar na decisão do governador Doria é o retomada de forças do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG). O mineiro vive, neste primeiro trimestre de 2021, seu melhor momento na política desde que foi flagrado na delação premiada do empresário Joesley Batista, do grupo J&F, e viu seu prestígio despencar. Aécio foi um articulador de destaque para a vitória de Arthur Lira (PP-AL) nas eleições para a presidência da Câmara e foi eleito presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa.

Aécio e Doria são desafetos. O governador lutou, sem sucesso, pela expulsão do deputado do partido. E Aécio tem aproveitado o novo momento de protagonismo para alfinetar Doria. Em entrevistas recentes à Folha de S. Paulo e ao Congresso em Foco, disse que Doria está obcecado por "marketing" e que isso dificulta suas pretensões presidenciais. Também se manifestou no sentido de defender que o PSDB ceda a cabeça de chapa em 2022, se não encontrar um nome viável para a disputa da presidência da República.

Aécio – que foi presidente do PSDB entre 2013 e 2017 – ainda desdenhou da ideia das prévias. Falou que o instrumento terá como resultado mais a mobilização do partido do que a apresentação efetiva de um candidato à Presidência da República.

PSDB teme o "efeito Márcio França"

Em escala menor, um elemento que pode contribuir para que Doria opte por concorrer a um novo mandato em São Paulo é a confiança da força que o PSDB tem no estado, somada à preocupação de que essa hegemonia possa estar sob risco. O partido venceu todas as eleições para o governo estadual desde 1994. Atualmente, porém, com a ascensão do bolsonarismo, enfrenta uma oposição diferente daquela com a qual se habituou, formada pelo PT e outras forças de esquerda. O PT, inclusive, apoiou o tucano Carlão Pignatari, eleito na segunda-feira (15) o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Uma eventual saída de Doria do governo criaria ainda uma batalha a ser administrada por ele e seu entorno. Isso porque o governo ficaria com Rodrigo Garcia, o atual vice, que se posicionaria como natural candidato à reeleição. Ele, porém, é filiado ao DEM. E o PSDB teria que decidir entre convencer Garcia a entrar na legenda, apoiá-lo e abrir mão do governo ou mesmo lançar um nome para confrontá-lo. Esse terceiro cenário foi o vivido pelo partido em 2018. Na ocasião, Doria concorreu contra Márcio França (PSB), que fora eleito vice de Geraldo Alckmin em 2014. O incidente transformou França, histórico aliado dos tucanos em São Paulo, em adversário.

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A ideia de convidar Rodrigo Garcia ao PSDB é falada explicitamente por muitos dirigentes do partido. No entanto, o presidente do DEM paulista, deputado Alexandre Leite, diz não ver possibilidade na desfiliação do vice-governador: "estamos tranquilos quanto à sua permanência no Democratas". O parlamentar declarou também que o partido decidirá sobre 2022 "no momento oportuno".

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