Fabricante nacional apresenta drone com fuzil pendurado como aposta na área de Defesa.| Foto: Bruno Sznajderman/Gazeta do Povo
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Um drone voador com um com um fuzil acoplado, um barco blindado que pode patrulhar o litoral sem piloto e um "caveirão" produzido por uma empresa tcheca. Esses são alguns dos equipamentos de defesa que empresas nacionais e estrangeiras estão oferecendo aos governos federal e dos Estados em uma feira destinada ao setor no Rio de Janeiro.

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Engenhocas militares que dificilmente seriam aprovadas para uso no Brasil por causa das normas locais, réplicas de mísseis em escala natural e blindados reais levados para o pavilhão do Riocentro. Esse é o ambiente da feira LAAD, onde autoridades e técnicos do governo tentaram negociar futuros acordos internacionais de compra e venda de armas.

Na terça-feira (1) estiveram na feira o vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro da Defesa José Múcio, o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski e os comandantes da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, e da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno.

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Múcio e os militares não falaram diretamente em falta de recursos para as Forças Armadas, mas defenderam um aumento gradual do orçamento da Defesa dos atuais cerca de 1,1% do PIB para 2%. A fala ocorre em meio a uma corrida armamentista global impulsionada pela invasão russa à Ucrânia em 2022.

O ministro e seus comandantes visitaram estandes e posaram para fotografias com expositores nacionais e internacionais que tentam fazer lobby de seus produtos com o governo. A reportagem circulou pela feira selecionou alguns dos aparelhos militares curiosos. Veja abaixo:

Fabricante brasileira acopla fuzil em drone: "combatente aéreo"

Um dos mecanismos militares mais curiosos apresentados na feira foi levado pela Taurus, uma das maiores fabricantes de revólveres e pistolas do Brasil. O "soldado aéreo tático" é um drone de pequeno porte com um fuzil e um sistema de mira acoplados em sua base.

Segundo a fabricante, a engenhoca é controlada remotamente por um operador via rádio. O sistema de mira possui um laser para avaliação de distância e câmeras que possibilitam a seleção de alvos.

O sistema de câmeras dá margem ainda para o uso de inteligência artificial relacionada à tecnologia de reconhecimento facial.

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A empresa não deixou claro se o produto é destinado às polícias ou às Forças Armadas. O uso de inteligência artificial associada a uma arma de fogo e o disparo de armas automáticas de uma aeronave podem ser impeditivos para o uso do dispositivo por forças de segurança pública no Brasil.

Isso porque a Justiça já proibiu o uso de helicópteros com policiais armados em operações contra o crime organizado no Rio - e nesse caso nem havia o debate sobre automação e inteligência artificial.

Na esfera militar, o uso mais comum que se faz de drones voadores não é equipá-los com armas de fogo. Atualmente a tática mais comum é acoplar explosivos ao aparelho e usá-lo como aeronave kamikaze, se chocando contra o alvo e explodindo.

A Taurus afirmou que seu drone poderia carregar uma arma pesada de calibre .50, mas não demonstrou como isso seria possível.

| Foto: Bruno Sznajderman/Gazeta do Povo
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Drone marítimo promete policiar litoral brasileiro sem marinheiros

O estaleiro estatal brasileiro Emgepron, que constrói alguns dos navios de guerra da Marinha apresentou o protótipo de drone naval USV Supressor 7. A empresa define o novo lançamento como um sistema sofisticado de alta tecnologia, que é composto por uma embarcação autônoma e uma estação de controle móvel multiplataforma e multi domínio.

Isso significa que um operador humano pilota a embarcação à distância, de uma estação de controle em terra, dentro de um avião ou em outro navio.

Os drones navais ganharam uma importância muito grande na guerra naval a partir de 2023, quando embarcações europeias pilotadas remotamente por ucranianos começaram a atacar e afundar navios da marinha de guerra russa no Mar Negro. Eles eram carregados de explosivos e se chocavam contra navios de guerra. A esquadra russa teve que abandonar suas operações próximo da costa da Ucrânia e buscar refúgio em portos mais distantes. Isso acabou com o bloqueio naval que Moscou tentava impor a Kyiv.

O drone marítimo brasileiro não tem essa finalidade, segundo a fabricante. Sua vantagem é poder navegar por muito tempo em missões de vigilância sem ter que levar marinheiros, água e mantimentos. Ele poderá ser usado para detectar submarinos e minas e também ajudar a Marinha a localizar embarcações de traficantes e contrabandistas, realizar pesquisa oceanográfica e monitoramento ambiental.

A tecnologia é similar à usada nos drones kamikaze do Mar Negro. Mas o drone não é construído com esse objetivo por causa de alegadas restrições legais.

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O drone naval tem 7,2 metros de comprimento e pode atingir uma velocidade máxima de 24 nós (44 quilômetros por hora). Na feira no Rio de Janeiro, a Emgepron apresentou um modelo em tamanho real de como será o drone.

| Foto: Bruno Sznajderman/Gazeta do Povo

Empresa da República Tcheca oferece "Caveirão" alternativo

A empresa tcheca Excalibur Army foi uma das estrangeiras a oferecer carros blindados que podem ser usados tanto pela polícia como pelas Forças Armadas. As polícias civil e militar do Rio não possuem um tipo único de "Caveirão", o carro blindado usado para entrar em áreas dominadas pelo crime organizado. Diversos modelos fabricados por diferentes países são usados.

Jipes blindados como o Patriot II, da Excalibur, são usados em guerras para transportar tropas de infantaria no campo de batalha. Em seu interior os soldados ficam protegidos de disparos de fuzil e metralhadora e das explosões de minas terrestres.

O blindado da foto acima pode transportar 8 pessoas e permite a instalação de uma torre com armas controladas remotamente. Ele pesa até 17,5 toneladas e pode atingir uma velocidade de até 110 km/h na estrada.

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| Foto: Bruno Sznajderman/Gazeta do Povo

Portugueses querem vender drone blindado no Brasil

A empresa portuguesa Beyond Vision diz estar tentando licenciar no Brasil um drone aéreo que promete ser blindado contra tiros de fuzil de calibre 7,62.

O quadricóptero Q418 é um drone 5G com tecnologia de Inteligência Artificial. Ele atinge uma velocidade máxima de 80km/h e pode servir tanto para o uso civil quanto para o uso militar.

A empresa diz que o drone é "reforçado com materiais especializados para resistir a danos físicos de projéteis, estilhaços ou outras ameaças externas". Mas a Beyond Vision não explicou se resolveu o desafio de tentar blindar as hélices do drone, que costumam ser o ponto fraco desse tipo de aparelho.

O conceito de blindagem de drones é novo. Em geral, drones pequenos como o Q418 são feitos para serem descartáveis no campo de batalha, por isso não há preocupação em blindá-los de forma geral.

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A defesa contra os drones hoje na guerra não é feita por meio de tiros de armas de fogo, mas pela interrupção da comunicação de rádio entre o aparelho e seu operador. Mas conceitos táticos como esse vêm mudando de forma cada vez mais veloz.