O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (23) que a operação da Polícia Federal para desarticular o plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra autoridades pode ter sido uma armação do ex-juiz e senador Sergio Moro (União PR). O petista alegou que estaria "desconfiado" das revelações sobre o plano para matar Moro e outras autoridades.
“Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Eu vou descobrir o que aconteceu porque é visível que é uma armação do Moro”, disse o presidente durante uma agenda no Complexo Naval de Itaguaí, na região metropolitana do Rio, onde está instalado o programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) da Marinha do Brasil.
Já o ex-juiz e senador Sergio Moro (União-PR) repudiou as declarações do presidente sobre a ameaça do PCC. Para o parlamentar, Lula "riu de uma família ameaçada pelo crime".
Ainda de acordo com o petista, sua desconfiança se deu, pois a juíza Gabriela Hardt estaria de férias quando assinou os mandados de prisão e de busca e apreensão cumpridos pelos agentes da Polícia Federal. "Eu vou pesquisar e saber o porquê da sentença, parece que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele. Mas isso a gente vai esperar”, disse Lula.
Hardt substituiu o próprio Moro na Operação Lava-Jato quando o ex-juiz pediu exoneração do cargo, no fim de 2018, para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo de Jair Bolsonaro. O presidente ainda disse que se o atual senador pelo Paraná estiver mentindo, ele será "desmascarado".
“Acho que é mais uma armação e, se for armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda e eu não sei o que ele vai fazer da vida se continuar mentindo do jeito que está mentindo”, acrescentou Lula.
Após a repercussão, Sergio Moro repudiou as declarações de Lula e afirmou que o presidente "riu de família ameaçada pelo crime organizado". "Quero perguntar ao senhor presidente da República. O senhor não tem decência? Não tem vergonha com esse seu comportamento? O senhor não respeita a liturgia do cargo e não respeita o sofrimento de uma família inocente?", disse Moro em entrevista à CNN Brasil
Planalto fez operação para tentar blindar Lula no caso das ameaças a Moro
A declaração de Lula ocorreu em meio a uma operação de integrantes do Palácio do Planalto para tentar blindar o petista no caso sobre as ameaças contra as autoridades. A estratégia veio depois que integrantes da oposição tentaram relacionar o caso contra Moro com a entrevista de Lula ao portal Brasil 247, na qual o petista afirmou que "só ia ficar bem quando f. com o Moro".
“De vez em quando um procurador entrava lá de sábado, ou de semana, para visitar, se estava tudo bem. Entrava três ou quatro procuradores e perguntava: ‘Tá tudo bem?’. Eu falava: ‘Não está tudo bem. Só vai estar bem quando eu f**** esse Moro’. Vocês cortam a palavra ‘f****’ aí…”, disse Lula na entrevista.
Logo após a operação contra os integrantes do PCC ter sido deflagrada, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), convocou às pressas uma coletiva de imprensa para declarar que as tentativas de associar o presidente às ações de grupos criminosos são “perversas” e “fora de propósito”.
“Tentar, como algumas pessoas estão tentando, estabelecer um vínculo entre essa declaração e a operação conduzida pela PF é algo absolutamente fora de propósito e serve evidentemente para a disputa política”, afirmou Pimenta.
O ministro da Secom tentou ainda minimizar as declarações de Lula, alegando ser apenas uma manifestação de quem esteve preso e se sentiu injustiçado. “A manifestação do presidente Lula foi uma manifestação em que ele relatou o sentimento de injustiça e indignação. Absolutamente natural e compreensível que alguém que ficou 580 dias detido numa solitária e que depois teve todos os seus processos anulados”, argumentou.
Antes disso, o ministro da Justiça, Flavio Dino, já havia criticado a tentativa de politização das investigações. "É vil, leviana e descabida qualquer vinculação a esses eventos com a política brasileira. Eu fico realmente espantado com o nível de mau caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria. Investigação essa que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo", declarou.
PF fez operação para prender grupo que planejava ataques contra autoridades
A Polícia Federal realizou nesta quarta-feira (22) uma operação para prender um grupo criminoso que planejava realizar ataques contra servidores públicos e autoridades. Entre as ações, os suspeitos pretendiam inclusive homicídios e extorsão mediante sequestro.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, informou que entre as possíveis vítimas estava um senador e um promotor de Justiça. O ex-juiz Sergio Moro seria um dos alvos do grupo criminoso, e o promotor de Justiça de SP, Lincoln Gakiya, era o outro citado. Ao todo, nove pessoas foram presas e duas continuam foragidas.
De acordo com a PF, os ataques eram planejados em cinco unidades da federação: Rondônia, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Ao todo, foram expedidos 24 mandados de busca e apreensão, sete mandados de prisão preventiva e quatro mandados de prisão temporária contra suspeitos e endereços situados em Rondônia, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
Moro propôs projeto para punir planejamento de crimes contra autoridades
Ao comentar a operação da Polícia Federal, o senador Sergio Moro pediu o apoio do governo federal ao projeto de lei que pretende tornar crime o planejamento de ataques por facções criminosas contra agentes públicos e autoridades. De acordo com o parlamentar, o plano contra ele seria uma retaliação por seu trabalho como ministro da Justiça no governo Bolsonaro.
“Eu fiz esse projeto para criar tipos penais, para que nós possamos punir o planejamento dessas ações, esses atentados contra autoridades ou pessoas envolvidas no combate ao crime organizado”, disse.
Moro pontuou que durante sua gestão o Ministério da Justiça providenciou o “isolamento das lideranças do PCC em presídios federais” e mudou o regime para impedir comunicações não monitoradas com o mundo externo dessas lideranças.
"O que me foi informado é que uma célula do PCC tinha esse planejamento de sequestrar a mim ou a minha família como uma forma de retaliação ao trabalho que fiz como juiz e, principalmente, como ministro da Justiça, quando nós fomos duros contra o crime organizado", afirmou.
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