A notícia de que o presidente Jair Bolsonaro pretende indicar seu terceiro filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para o posto de embaixador do Brasil em Washington deixou estarrecidos até mesmo diplomatas considerados alinhados com as ideias e a política externa implementada pelo governo e conduzida pelo chanceler Ernesto Araújo.
Apesar do apoio do ministro das Relações Exteriores, diplomatas ouvidos pela Gazeta do Povo revelaram surpresa com o procedimento adotado por Bolsonaro. Para eles, o presidente simplesmente ignorou as regras seguidas nessas indicações e, segundo dizem, não consultou o governo dos Estados Unidos sobre o nome do deputado Eduardo Bolsonaro.
O protocolo manda que, antes de expor publicamente o nome do indicado, seja enviado o pedido de “agreement” (acordo) por meio de um documento secreto. Somente quando o outro país informa se aceitou a indicação o nome poderia se tornar público. Nos Estados Unidos, isso costuma levar entre 20 a 30 dias. No Brasil, após a concessão do “agreement”, o futuro embaixador terá que ser aprovado em sabatina no Senado Federal.
Um dos postos mais altos da diplomacia
A Embaixada do Brasil em Washington é tida, ao lado de Buenos Aires, Pequim, e da representação junto às Nações Unidas, como um dos mais importantes postos da carreira. O cargo foi ocupado por alguns dos grandes nomes da história brasileira.
Político, diplomata e historiador abolicionista, Joaquim Nabuco foi o primeiro desses nomes entre 1905 e 1910. Além deles, Oswaldo Aranha, Roberto Campos, Azeredo da Silveira, Rubens Ricupero e Rubens Barbosa, foram alguns dos nomes que passaram pelo posto.
Ao longo da sexta-feira (12), enquanto “memes” de Eduardo e das declarações dadas por ele e pelo presidente argumentam que o deputado tem credenciais suficientes para o cargo, grupos de diplomatas no Whatsapp manifestavam a expectativa de que a ideia não prospere. E também faziam questão de esclarecer que a rejeição não se fundamentava em questões ideológicas, mas no preparo necessário ao exercício da função.
“Nossa profissão já foi levada mais a sério”
O Itamaraty é uma das instituições de maior prestígio no Brasil. A excelência da formação dos diplomatas brasileiros é reconhecida internacionalmente e a carreira exige preparo e estudo permanente. Para chegar a ministro de Primeira Classe (embaixador), é necessário, em média, ter entre 25 e 35 anos de carreira, após ingressar no Instituto Rio Branco.
A exemplo do que ocorre com a carreira militar, os diplomatas vão passando por “peneiras”, fazendo cursos e seleções - o que permite que apenas poucos cheguem ao topo da carreira. “Nossa profissão já foi levada mais a sério”, lamentou um diplomata.
Os argumentos usados pela família Bolsonaro para justificar a indicação também foram desconcertantes, na opinião de muitos diplomatas. Embora a diplomacia americana tenha como hábito indicar embaixadores de fora da carreira - atualmente se estima que cerca de 50% dos postos dos Estados Unidos sejam chefiados por não diplomatas – o Brasil não tem essa tradição.
Outro ponto, a alegação de que Eduardo Bolsonaro teria relações próximas e cordiais com o presidente Donald Trump e seus familiares, é vista ainda com mais reservas. “O embaixador de um país não pode ser ostensivamente favorável a um governo, como é o caso de Eduardo e do presidente Jair Bolsonaro. E se Trump perde a eleição e se elege um democrata, como faz?”, pergunta um experiente diplomata.
Em nota emitida neste sábado (13), a Associação dos Diplomatas do Brasil (ADB) comentou a possível nomeação do filho do presidente: "Embora ciente das prerrogativas presidenciais na nomeação de seus representantes diplomáticos, a ADB recorda que os quadros do Itamaraty contam com profissionais de excelência, altamente qualificados para assumir quaisquer embaixadas no exterior".
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