Há um ano, em 22 de outubro de 2019, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi à tribuna da Câmara para dizer que seu projeto de se tornar o embaixador brasileiro nos EUA estava descartado. Um ano depois, contudo, a agenda externa e o alinhamento entre o Brasil e os EUA continuam sendo o foco da atividade parlamentar dele. E o filho do presidente continua exercendo uma função de "diplomata informal" do governo do pai.
Quando desistiu da embaixada nos EUA, o deputado atribuiu a desistência à meta de "defender os valores conservadores" e de completar o mandato para o qual havia sido eleito no ano anterior. Pouco antes do discurso de desistência, Eduardo fora nomeado o líder do PSL na Câmara – o partido vivia a crise que culminaria na desfiliação do presidente Jair Bolsonaro.
Eduardo não fala mais em ser representante do Brasil no exterior. A embaixada brasileira nos EUA passou a ser tocada de forma efetiva por Nestor Forster, que havia permanecido como interino por mais de um ano. Forster só foi efetivado na embaixada em Washington após o Senado aprovar seu nome, o que ocorreu em 22 de setembro.
A desistência de Eduardo Bolsonaro de ser o embaixador brasileiro nos EUA, entretanto, não tirou as questões internacionais das prioridades da atuação parlamentar dele. Ao longo de 2020, o "filho 03" do presidente da República teve intensa agenda com representantes de outros países. Também permaneceram no radar do deputado as provocações a regimes políticos contrários a sua ideologia e o alinhamento com os EUA.
Eduardo Bolsonaro: de "embaichapeiro" a anfitrião de "almoço diplomático"
Uma das mais recentes empreitadas de cunho internacional de Eduardo Bolsonaro foi o churrasco que ele organizou no último dia 4 em sua casa, que reuniu embaixadores de EUA, Israel, Bahrein e Emirados Árabes Unidos.
Semanas antes, os três países do Oriente Médio haviam firmado um acordo de paz intermediado pelos EUA. "Após inúmeras tentativas de levar a paz entre árabes e judeus, o acordo recém assinado entre Israel, Emirador e Bahrein traz esse 1.º passo para um futuro próspero na região", publicou Eduardo em seu perfil no Twitter um dia após o encontro, chamado de "almoço diplomático".
É nas redes sociais que o deputado mantém sua principal militância no campo das relações exteriores. Apenas no mês de outubro Eduardo citou nove diferentes países em suas postagens: Austrália, Venezuela, Índia, Colômbia, Argentina, Israel, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e, principalmente, os EUA.
O país de Donald Trump é o mais abordado pelo parlamentar. Eduardo cita os EUA tanto em menções de parcerias firmadas entre os governos brasileiro e americano como também em questões eleitorais e de cunho ideológico. Eduardo, assim como os outros membros da família Bolsonaro, é defensor da reeleição do presidente Trump – o processo eleitoral dos EUA se encerra em 3 de novembro. O alinhamento entre os governos Trump e Bolsonaro é uma das principais pautas do deputado.
Eduardo se posiciona também em temas comportamentais como aborto, educação e violência policial. Nesse último tópico, o parlamentar tem se mostrado um crítico habitual do movimento "Black Lives Matter", lançado por membros da população negra dos EUA.
Outra ação política externa, repercutida no Brasil e que mereceu atenção de Eduardo Bolsonaro, foram os protestos dos "antifas", manifestantes que se apresentam como contrários ao fascismo. No primeiro semestre, grupos antifas e apoiadores do governo Bolsonaro se enfrentaram nas ruas de São Paulo.
O episódio acabou por gerar uma saia-justa internacional para Eduardo. O deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (PTB-SP) anunciou no início de agosto que enviaria à embaixada dos EUA um "dossiê" dos militantes antifascistas do Brasil. "Isso aqui é nada mais nada menos que a promoção de uma cultura de paz e segurança entre duas grandes nações. Entretanto, aos antifas, eu acho que seu sonho de visitar a Disney, conhecer alguns lugares do EUA, ou comemorar seu aniversário lá, vai ter que mudar para Cuba, para a China, para a Coreia do Norte. Assinam comigo este ofício os deputados Eduardo Bolsonaro e Gil Diniz", declarou Garcia em um vídeo divulgado na ocasião. À época, o governo dos EUA havia qualificado os antifas como um grupo terrorista.
Garcia também disse que Eduardo teria entregue o dossiê à embaixada americana no Brasil. A representação diplomática, entretanto, negou o recebimento do documento. O episódio acabou sem solução, mas parlamentares de diferentes partidos pediram a cassação de Eduardo por causa do incidente. Eles acusaram o filho de Bolsonaro de "traição" à pátria ao supostamente entregar nomes de brasileiros para o governo americano.
O filho de Bolsonaro já havia estado na mira dos membros da oposição no processo da indicação dele para o cargo de embaixador nos EUA. As críticas foram motivadas por um possível nepotismo no ato do presidente e também por uma suposta falta de qualificação do deputado para a função.
Ao rebater os ataques, em julho do ano passado, Eduardo chegou a dizer que "tinha vivência" que já havia "fritado hambúrguer" nos EUA. A fala gerou um dos apelidos aplicados a Eduardo no caso: "embaichapeiro", mistura de embaixador com chapeiro.
Pandemia garantiu comando "esticado" na Comissão de Relações Exteriores
Eduardo Bolsonaro foi eleito no ano passado o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Ele deveria entregar o cargo no início de 2020, já que o regimento da Câmara veda a reeleição ao posto. Mas como as comissões permanentes da Câmara não foram instaladas neste ano, em razão da pandemia de coronavírus, Eduardo prossegue como o presidente do colegiado – e se beneficia politicamente disso.
Na condição de presidente da comissão, Eduardo pode utilizar a estrutura do colegiado para a divulgação de parte de suas atividades institucionais, como encontros com embaixadores em Brasília.
Ele também veicula notas oficiais em nome da comissão. Os textos trazem desde mensagens de solidariedade a vítimas de um acidente aéreo na Ucrânia até ataques a adversários ideológicos. "Biden comprovou seu desconhecimento e sua ignorância sobre a realidade brasileira ao afirmar que 'a Floresta Amazônica no Brasil está sendo destruída, arrancada'. Um candidato a mandatário da maior potência mundial deveria ser prudente e evitar declarações levianas e irrefletidas acerca de país amigo e parceiro", diz texto publicado na página da Comissão no site da Câmara, que Eduardo fez como "resposta" ao presidenciável americano Joe Biden.
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