O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), já se articulava nos bastidores para ser o candidato do partido à Presidência da República em 2022 antes mesmo de o recente racha interno na sigla ter feito com que uma ala de tucanos passasse a defender a candidatura do gaúcho e não do governador de São Paulo, João Doria. O fato, porém, é que Eduardo Leite politicamente tem um perfil semelhante ao de Doria: ambos defendem reformas econômicas e austeridade fiscal.
Doria, contudo, entrou na política apenas em 2016, bem mais tarde do que Leite. Em 2004, com 19 anos, o atual governador gaúcho se candidatou à Câmara Municipal de Pelotas (RS), sua cidade natal. Ficou com a suplência, mas não desistiu. Em 2008, aos 23 anos, conseguiu se eleger vereador. Três anos depois, foi presidente do Legislativo municipal.
Nas eleições de 2012, elegeu-se prefeito de Pelotas, aos 27 anos, com 110 mil votos. Mas a campanha para a prefeitura foi conturbada e começou com tropeços. Leite não conseguiu, por exemplo, preencher todo o tempo de TV a que tinha direito, por ter montado uma coligação grande, com nove partidos. Sua equipe não conseguiu produzir material a tempo. Ainda assim, os erros foram sanados a tempo de Leite se eleger.
Quatro anos depois, em maio de 2016, quando cerca de 60% dos eleitores aprovavam sua gestão e ele liderava as pesquisas de intenção de voto, anunciou que não disputaria a reeleição. “A reeleição foi mal assimilada no Brasil. Se sou contra, não posso me beneficiar dela”, disse Leite à época.
O balde de água fria de Leite em seus próprios eleitores não foi infrutífero. Pelo contrário. Sua vice-prefeita, Paula Mascarenhas (PSDB), acabou eleita em seu lugar.
Além disso, ele havia plantado uma semente que iria colher dois anos depois num estado que costuma ser refratário à reeleição (os gaúchos nunca reelegeram um governador). Em 2018, Eduardo Leite elegeu-se para comandar o Rio Grande do Sul aos 33 anos. Foi o governador eleito mais jovem da história gaúcha.
Agenda de reformas: o que defende Eduardo Leite
Eduardo Leite é um defensor de uma agenda econômica reformista e de ajuste fiscal. Em seu próprio perfil no site do governo gaúcho, ele destaca que, em seus quatro anos à frente da prefeitura de Pelotas, “modernizou a gestão, priorizou a austeridade fiscal e, assim, conseguiu o equilíbrio das contas”. Nesse mesmo perfil, Leite sustenta ter garantido “financiamentos para a realização de grandes obras de infraestrutura e reestruturação do sistema de mobilidade urbana, além de melhorar índices de saúde e educação”.
No governo do Rio Grande do Sul, ele vem tentando implantar uma agenda nessa linha reformista e de ajuste fiscal. Em 2019, Leite conseguiu aprovar uma reforma da Previdência no estado cujo objetivo era tornar sustentável o pagamento de aposentadorias e pensões dos servidores públicos civis do estado. Mas outros projetos dessa agenda sofrem resistências.
Outra reforma da Previdência proposta por Eduardo Leite, esta dos servidores militares, ainda está em tramitação. O texto prevê a adoção de alíquotas previdenciárias progressivas de 7,5% a 22%, conforme o valor dos salários, para servidores militares ativos, inativos e pensionistas.
A proposta é criticada pelos servidores que serão afetados por ela. “A nossa avaliação é que o governo está levando ao extremo o psicológico dos militares e isto vai causar, acreditamos, uma revolta”, criticou o presidente da Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf), José Clemente, em recente entrevista ao site Sul 21.
Eduardo Leite também propôs manter a alíquota do ICMS mais alta por mais de um ano. Mas o projeto foi derrotado pela maioria da Assembleia Legislativa.
Leite também apresentou uma proposta de reforma tributária à Assembleia do Rio Grande do Sul. O projeto prevê a retirada de isenções em itens da cesta básica, aumento de alíquota de IPVA e sobre o patrimônio, e um programa de devolução do ICMS para a população de baixa renda.
Mesmo alegando que a proposta não aumentaria a carga tributária, a reforma tributária de Eduardo Leite enfrenta diversas críticas e ele precisou ajustá-la, chegando a solicitar que a pauta fosse retirada da tramitação na Assembleia.
Ainda assim, as críticas continuam. Recentemente, o deputado estadual Fábio Ostermann (Novo) e governador trocaram farpas pelo Twitter. O parlamentar alega que, na prática, a reforma tributária de Leite aumenta a carga tributária.
Se a reforma tributária desagradou lideranças políticas e até mesmo parte do setor produtivo gaúcho, Eduardo Leite ao menos recebeu elogios e apoio do empresariado em outro ponto: a gestão da pandemia do coronavírus no Rio Grande do Sul. O governador buscou equilibrar as políticas sanitárias de combate à Covid-19 com a reabertura da economia. Por isso, foi muito elogiado por empresários gaúchos.
Desempenho fraco de Doria nas pesquisas aumenta as chances do gaúcho
Dentro do PSDB, Eduardo Leite passou a ter chance de ser indicado como candidato à Presidência em 2022 por causa dos baixos índices de intenção de voto em João Doria nas mais diferentes pesquisas. A mais recente, do Instituto Paraná Pesquisas, mostrou que Doria tem entre 5,3% e 6,7% das intenções de voto dependendo do cenário. A última pesquisa do PoderData, de dezembro, mostrou Doria com 3%. Já a pesquisa Exame/Ideia, também dedezembro, mostrou Doria com 4%.
Em todos os cenários, nas diferentes pesquisas, Doria não figura nem entre os três melhores colocados. O PSDB teme repetir o resultado das eleições de 2018, quando o candidato tucano Geraldo Alckmin ficou em quarto lugar, com 4,76% dos votos válidos.
De forma reservada, parlamentares tucanos não descartam que Eduardo Leite seja o candidato do partido. "Teremos convenções [para escolher o candidato]. E é óbvio que o Eduardo tem chances. Mas vai precisar se cacifar”, afirma um integrante do PSDB.
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