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A disputa pelas presidências das duas casas do Congresso Nacional reacendeu uma disputa histórica entre o MDB da Câmara e do Senado. Desta vez, a cisão entre os dois grupos revela uma visão antagônica dentro da sigla. Senadores querem que o MDB volte a ser um partido governista e, assim, tentar pleitear benesses do governo federal; já os deputados defendem um posicionamento mais independente, como forma de sobrevivência da própria sigla.
Durante muito tempo, houve uma cisão entre o MDB do Senado, comandado pelo ex-presidente do Senado e da República José Sarney e o MDB da Câmara, liderado pelo ex-presidente da Câmara e também da República Michel Temer. Oficialmente, ambos tentavam demonstrar uma visão linear de partido; nos bastidores, porém, sempre houve uma disputa simbólica por espaços dentro do partido entre os aliados de Temer e de Sarney.
Agora, o presidente do partido e líder do MDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), tem trabalhado pela unificação da sigla. O problema, porém, é a ala do Senado encabeçada pelos senadores Fernando Bezerra Coelho (PE), líder do governo na Casa, e Eduardo Braga (AM), e pelo ex-senador e ex-presidente da sigla Romero Jucá (RR).
Os caciques da chamada "velha política" buscam maior espaço dentro do governo federal. Os emedebistas “governistas” são os principais defensores de uma candidatura do partido ao Senado e tem trabalhado nos bastidores para que Baleia Rossi desista de disputar a presidência da Câmara.
Jucá tem conversado com deputados do MDB na Câmara buscando apoio à candidatura de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara. A articulação tem o aval do líder do PP no Senado, Ciro Nogueira (PI), que tem trabalhado por uma aliança entre os dois partidos. Se dependesse exclusivamente da vontade de Nogueira e de Jucá, o MDB fecharia apoio a Lira em troca de ter o apoio do partido na disputa pelo Senado.
Rossi, porém, já deixou claro que somente renunciará a sua candidatura caso ocorra um consenso em nome do adversário de Arthur Lira, que lançou seu nome para presidir a Câmara dos Deputados em solenidade nesta quarta-feira (9). Neste momento, outros deputados também são listados como eventuais adversários de Lira, como Elmar Nascimento (DEM-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Luciano Bivar (PSL-PE).
MDB do Senado tenta barrar candidatura que é considerada mais viável na Câmara
Destes eventuais candidatos, as candidaturas mais consistentes, neste momento, são as de Aguinaldo Ribeiro e Baleia Rossi. Elmar Nascimento começa a ser apontado como tão governista quanto Lira.
Nascimento foi responsável pela indicação do engenheiro Marcelo Andrade Moreira Pinto como presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf); Bivar já admitiu a aliados que, sem grandes chances de vencer a disputa, pretende ao menos garimpar espaços na mesa diretora da Câmara; e Marcos Pereira também tem sinalizado que pode deixar a disputa se não for um nome de consenso.
Aliados de Rossi e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmam nos bastidores que o grupo opositor a Lira lance até a sexta-feira (11) seu candidato para não perder terreno frente ao parlamentar apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro.
O presidente do MDB tem dito a aliados que não vai interferir na disputa pelo comando do Senado, ao contrário do que tem feito os membros do partido no Senado. Porém, deputados partidários de Rossi sabem que uma candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) seria importante para que o partido tivesse chance de transmitir ao cidadão uma visão renovada de política, desvinculada de nomes da chamada “velha política” como Renan Calheiros (MDB-AL) ou do mero proselitismo político que tanto marcou o MDB nos últimos anos.
O problema é que a senadora não tem apoio de boa parte da bancada do MDB, o que pode comprometer qualquer plano da parlamentar. O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), também disputa a indicação do partido. Mas Gomes já sinalizou que somente entrará na disputa caso obtenha apoio de toda a bancada. A candidatura dele enfrenta resistências de emedebistas como Marcelo Castro (PI).
A ala governista do MDB no Senado tem buscado apoio do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em prol de uma candidatura do partido. Alcolumbre, porém, resiste à ideia justamente para não perder espaço dentro do governo federal para um dos velhos caciques do MDB no Senado.