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A eleição do libertário Javier Milei à presidência da Argentina neste domingo (19), com uma ampla vantagem sobre o candidato peronista Sergio Massa, decepcionou a esquerda brasileira, que esperava continuar com a relação próxima que tem com o atual presidente do país, Alberto Fernández.
A atuação principalmente do petismo brasileiro, que enviou marqueteiros para reforçarem a campanha eleitoral de Massa, além da ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em financiar negócios de empresários brasileiros aos argentinos, não surtiu os efeitos esperados.
Embora Lula tenha desejado “boa sorte” ao libertário eleito, preferiu sequer nominá-lo em sua primeira manifestação pouco depois de confirmada a vitória. A expectativa é de que telefone para Milei ainda nesta segunda (20), embora o compromisso ainda não tenha sido marcado na agenda oficial do presidente até o fechamento desta reportagem.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, confirmou que o partido apoiou Massa na campanha eleitoral, reconheceu a vitória de Milei, mas classificou a eleição dele como um “novo e duríssimo teste para a sua democracia”. Para ela, foi uma eleição “reconhecidamente difícil”.
“Confiamos que o povo argentino e suas instituições saibam atravessar este novo e duríssimo teste para a sua democracia, representado pela eleição de Milei. [...] Parabéns aos companheiros (as) que disputaram bravamente uma eleição reconhecidamente difícil. A luta continua”, completou a petista nas redes sociais.
Outro petista da alta cúpula do partido, o deputado federal Lindbergh Farias (RJ), que é vice-líder do governo no Congresso, adotou um tom mais duro contra a vitória de Milei. Para ele, o libertário vai “afundar” a Argentina e “isolar o país” do resto do mundo.
“Maioria ignorou os riscos da extrema direita no poder. Projeto ultraneoliberal de ódio e violência vai afundar Argentina e isolar o país na América Latina e no mundo. Sem dúvida, um retrocesso histórico”, disse.
Tom semelhante ao de Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), líder do governo no Congresso, que diz que a eleição de Milei serve como um “alerta” ao Brasil. Em uma postagem nas redes sociais, ele utilizou uma caricatura de duas personagens de desenhos em quadrinhos – a brasileira Mônica e a argentina Mafalda – se abraçando e dizendo “vai passar”.
“O resultado das eleições argentinas corroboram que o avanço da extrema-direita, potencializado pelas redes, é uma realidade em todo o mundo. [...] Para nós, no Brasil, fica a lição e o alerta. É preciso estar atento e forte", afirmou.
José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara dos Deputados, não poupou críticas à escolha da maioria dos eleitores do país vizinho: “que os argentinos passem por essa experiência trágica como foi aqui no Brasil”, comentou.
Já o candidato apoiado pelo PT à prefeitura de São Paulo em 2024, Guilherme Boulos (PSOL-SP), classificou a vitória de Milei como uma “repetição de tragédia” – sem mencionar a que estaria repetindo. Para ele, a Argentina viverá uma “batalha duríssima” e se colocou a disposição para ajudar numa “defesa da democracia”.
“Será uma batalha duríssima, mas não tenho dúvidas que nossos irmãos argentinos resistirão com muito firmeza às cenas de um filme que já conhecemos aqui no Brasil. Não importa onde, não importa quando, contem conosco na luta contra fascismo e na defesa da democracia”, afirmou.
Por outro lado, o líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Zeca Dirceu (PR), procurou evitar um tom de derrota para a esquerda, e preferiu fazer uma suposta comparação com a eleição presidencial brasileira de 2022.
“Impossível não comparar a postura do candidato derrotado Massa na Argentina, com o que vivemos no Brasíl após a eleição de 2022. Sergio Massa teve a humildade e postura democrática de reconhecer a derrota e cumprimentar o vencedor”, escreveu nas redes.