A onda de renovação política que trouxe novas caras para o Congresso Nacional e para o comando de alguns estados do país nas eleições de 2018 vai passar por um novo teste de força nas eleições municipais de 2020. Nas últimas eleições, o eleitor brasileiro renovou 47,3% da Câmara, mas o movimento não promete ter a mesma força para renovar as prefeituras nos maiores colégios eleitorais do país.
Nas seis capitais mais populosas do Brasil, quatro têm pré-candidatos novatos, que nunca disputaram cargos eletivos ou ocuparam cargos públicos: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. Mas eles vão precisar enfrentar nomes de peso na política local, inclusive prefeitos que tentam a reeleição.
Em pelo menos uma dessas capitais, todos os principais pré-candidatos até agora são velhos conhecidos do eleitorado. Trata-se de Curitiba. O prefeito, Rafael Greca (DEM), vai tentar reeleição e deve disputar o cargo com um ex-prefeito e outros políticos experientes e bem conhecidos pelo eleitorado.
Belo Horizonte também não tem novatos dentre os principais pré-candidatos. O mais perto de representar uma renovação na política é o nome escolhido do Novo para disputar a prefeitura, Rodrigo Paiva, que já concorreu ao cargo de senador na eleição passada. Além disso, Paiva liderou a equipe de transição depois da vitória de Romeu Zema (Novo) na disputa pelo governo de Minas Gerais – um dos governadores novatos eleitos em 2018.
Em São Paulo, são dois pré-candidatos que nunca disputaram eleições. O primeiro é o apresentador de TV José Luiz Datena (sem partido), ainda uma incógnita na disputa. O segundo é o ex-presidente do Fundo Social do governo do estado, Filipe Sabará (Novo) – que, apesar de não ter disputado eleições antes, já ocupou cargos públicos na prefeitura e no governo do estado. Eles devem disputar o cargo com nomes tradicionais na política, como o prefeito da cidade, Bruno Covas (PSDB), que tenta reeleição, o ex-governador do estado Márcio França (PSB), além de deputados e senadores.
No Rio de Janeiro, o pré-candidato do Novo, Fred Luz, que nunca disputou eleições nem ocupou cargos públicos é o único novato colocado até agora na disputa. Ele deve concorrer com nomes como o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), o ex-prefeito Eduardo Paes (MDB) e o deputado federal Marcelo Freixo (Psol), entre outros nomes conhecidos do eleitorado.
Salvador também pode ter apenas uma novata na disputa, a major da Polícia Militar Denice Santiago, que deve se filiar ao PT para concorrer à prefeitura. Ela vai encarar nomes da política tradicional, como o vice-prefeito Bruno Reis (DEM), que será apoiado pelo prefeito ACM Neto (DEM), além de outros deputados e senadores.
Já em Fortaleza, o único novato até agora é Geraldo Luciano, pré-candidato do Novo. Ele vai concorrer com deputados federais e estaduais, que também já se colocaram como pré-candidatos na disputa.
As eleições de 2020 ainda contam com um ingrediente a mais: a criação de um novo partido liderado pelo presidente Jair Bolsonaro. A Aliança Pelo Brasil está em fase de coletas de assinaturas para ser viabilizada, mas dificilmente conseguirá registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a tempo para participar das eleições municipais. Com isso, possíveis pré-candidatos que gostariam de seguir o presidente podem acabar sem legenda para se filiar e disputar o pleito.
Veja como está a costura de alianças nos maiores colégios eleitorais do país:
São Paulo: nomes de peso vão disputar eleições com novatos
Em São Paulo, o único outsider que já despontou como possível candidato à prefeitura é José Luiz Datena (sem partido), apresentador do programa Brasil Urgente, da TV Band. O apresentador, que é próximo do presidente Jair Bolsonaro, ainda não se filiou a nenhum partido. Tampouco disputou algum cargo eletivo ou cargo público. Em 2018, Datena cogitou se candidatar ao Senado, mas desistiu na última hora.
O candidato do Novo, Filipe Sabará, também é novato em eleições, mas já ocupou cargos na administração pública. Ele foi ex-secretário municipal Assistência Social da gestão do ex-prefeito João Doria na prefeitura. Também foi presidente do Fundo Social do governo do estado até outubro de 2019.
Além deles, há outros nomes que podem se colocar na disputa, como o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), que vai tentar reeleição; a deputada federal e ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann (PSL); os deputados federais Celso Russomanno (Republicanos) e Orlando Silva (PCdoB); o ex-governador Márcio França (PSB); e o líder dos sem-teto Guilherme Boulos (Psol).
O PT ainda não tem um nome definido para a disputa e pode lançar uma chapa com o ex-prefeito Fernando Haddad e a ex-senadora e ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido). Haddad, porém, já disse que não pretende concorrer. Outro nome cogitado na legenda é do ex-ministro José Eduardo Cardozo.
Bruno Covas ainda pode acabar atraindo para sua chapa nomes como Joice Hasselmann ou Russomanno e até mesmo Marcio França. O prefeito já afirmou que vai buscar o maior número de alianças possível para sua candidatura de reeleição e já fechou uma aliança com 5 partidos: PSC, Podemos, Cidadania, DEM e PL. O PSDB ainda negocia uma aliança com o MDB e com o Republicanos, além de não descartar procurar partidos como Rede e Cidadania.
O MBL também tenta encontrar um partido para abrigar o deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, para a disputa. O movimento negocia com partidos como Patriotas, Avante e Pros, depois que o deputado foi expulso do DEM.
Rio de Janeiro: um candidato representando a renovação contra veteranos da política
No Rio de Janeiro, berço político do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), também só há um novato na disputa pela prefeitura até agora. É o ex-CEO do Flamengo Fred Luz, que também trabalhou na campanha do presidenciável João Amoedo (Novo) em 2018. Ele foi escolhido através de um processo seletivo da legenda.
Luz vai enfrentar nomes de peso, como o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), que tenta a reeleição; o ex-prefeito Eduardo Paes (MDB); e o deputado federal Marcelo Freixo (Psol).
Ex-prefeito da cidade Eduardo Paes deve tentar se colocar na disputa como alternativa à polarização entre Crivella e Freixo. Ele tenta atrair para a chapa partidos como DEM, PSDB, Cidadania, PSD e Solidariedade.
O PSDB, porém, ainda tenta encontrar um nome para a disputa no Rio, a fim de formar uma base para apoio à uma eventual candidatura de João Dória à Presidência em 2022. O partido cogita lançar a gestora Mariana Ribas. Além de secretária municipal, Mariana já ocupou cargos de direção na RioFilme e na Ancine (Agência Nacional do Cinema). Os tucanos não descartam a possibilidade de lançar Mariana como vice na chapa com Paes.
O deputado Marcelo Freixo, que ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura em 2016, também aparece como um nome de peso para a eleição deste ano. Ele já recebeu apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e conversa com siglas como PV, Rede e PCdoB. O parlamentar também tenta atrair para sua chapa o PDT, mas o partido ainda cogita lançar a deputada estadual Martha Rocha na disputa. Ela é considerada a vice dos sonhos de Freixo, mas também é próxima ao deputado e líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB), que também cogita se candidatar. Freixo também tenta uma aliança com o PSB em torno de sua candidatura no Rio.
Além disso, o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) vai tentar a reeleição. Ele tem um apoio velado do presidente Jair Bolsonaro, além de contar com a influência da Igreja Universal.
O PSL chegou a apresentar oficialmente a pré-candidatura de Rodrigo Amorim, deputado estadual que ficou conhecido na eleição de 2018 por quebrar uma placa com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco.
O deputado federal e ex-ministro da Cultura Marcelo Calero (Cidadania) também é cotado para a disputa.
Salvador: uma novata disputa eleições em meio a velhos conhecidos
Salvador tem só uma novata na disputa pela prefeitura, a major Denice Santiago, da Polícia Militar. Ela é comandante da Ronda Maria da Penha da PM baiana. Nunca disputou eleições e não é filiada a nenhum partido. Mas foi convencida pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), a se filiar ao PT. A major é a segunda mulher a alcançar essa patente na PM do estado. Ela tem forte presença midiática, costuma dar entrevistas, participar de debates e dá declarações pouco usuais entre policiais militares, defendendo feminismo e o combate ao racismo, por exemplo.
Ainda no campo da esquerda, os partidos PSB e PCdoB também já firmaram uma aliança para a disputa na capital. Os partidos têm como pré-candidatas a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) e a deputada federal Lídice da Mata (PSB).
O atual prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), não pode disputar a reeleição, mas já lançou Bruno Reis (DEM), que é vice-prefeito e secretário de Infraestrutura e Obras Públicas do município. Bruno Reis também já foi deputado estadual por dois mandatos. A candidatura dele tem o apoio de 12 partidos, além do DEM: PSDB, PSL, Republicanos, Cidadania, PMN, DC, PTB, MDB, Solidariedade, PSC, PL e Patriota.
Outros três pré-candidatos à prefeitura de Salvador fecharam um acordo recentemente para firmar uma aliança: o deputado estadual Niltinho (PP), o senador Ângelo Coronel (PSD) e o deputado federal Bacelar (Podemos). Dentre os três, o nome que vai encabeçar a chapa deve ser o com melhor desempenho nas pesquisas eleitorais.
Belo Horizonte: sem nomes novos para as eleições até agora
Belo Horizonte não tem nenhum candidato novato à prefeitura. Até agora, todos os nomes lançados já disputaram eleições ou exerceram cargos eletivos.
O prefeito, Alexandre Kalil (PSD), vai disputar a reeleição. A dúvida é se ele vai manter o mesmo vice de 2016, Paulo Lamac (Rede), com que se desentendeu no final de 2018. Outro nome cotado para formar a chapa com Kalil é Adalclever Lopes (MDB), ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Também deve disputar a prefeitura o deputado estadual João Vitor Xavier (Cidadania), que tenta fechar alianças com o DEM e o Patriota. Vereadora mais bem votada de Belo Horizonte em 2016, a atual deputada federal Áurea Carolina (Psol) também é pré-candidata. Outro nome na disputa é da professora Duda Salabert (PDT), primeira candidata transgênero ao Senado brasileiro, em 2018.
O Novo vai lançar a candidatura de Rodrigo Paiva, que em 2018 concorreu ao Senado pela legenda. Paiva liderou a equipe de transição depois da vitória de Romeu Zema (Novo) na disputa pelo governo de Minas Gerais.
PT e PSDB devem lançar candidaturas próprias, mas ainda não definiram os nomes para a disputa. No PT, os nomes mais cotados são os do deputado federal Rogério Correia, vice-líder do PT na Câmara, e da deputada estadual Beatriz Cerqueira. Já entre os tucanos, os favoritos são o deputado federal Eduardo Barbosa e a administradora pública Luísa Barreto, atual secretária-adjunta da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) do governo Zema. Já o PSL e PCdoB ainda não definiram o rumo para a eleição de Belo Horizonte.
Fortaleza: um novato e legendas tradicionais buscando alianças
Em Fortaleza, o único novato que deve concorrer às eleições de outubro é Geraldo Luciano (Novo). Ele atuou por 18 anos no Banco do Nordeste e passou pelo Grupo M. Dias Branco. Geraldo Luciano também foi presidente do Diretório Estadual do Novo no Ceará de janeiro a junho do ano passado.
O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), não pode tentar reeleição. São pré-candidatos pelo grupo governista o secretário municipal Samuel Dias, o deputado estadual José Sarto e a vice-governadora, Izolda Cela – todos os três do PDT. Uma aliança com o DEM também não é descartada na cidade, dentro de uma estratégia de atacar a hegemonia do PT nos estados do Nordeste. O movimento conta com o aval de líderes das duas legendas, como Ciro Gomes (PDT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), também já defendeu no final do ano passado uma parceria entre PT e PDT para as eleições municipais em Fortaleza. Por enquanto, um dos nomes cotados no PT para a disputa é da deputada federal Luizianne Lins. Ela já comandou a prefeitura entre 2004 e 2008, mas não conseguiu se reeleger. Luizianne Lins, porém, é crítica a Ciro Gomes, líder do PDT, e ao prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, que são aliados do governador.
Capitão Wagner (Pros), que ficou em segundo lugar na disputa em 2016, deve concorrer mais uma vez ao cargo. Apesar da derrota na última eleição municipal, Wagner se tornou o candidato a deputado mais votado em 2018 no Ceará.
O deputado estadual Heitor Ferrér (Solidariedade) também é cogitado como possível candidato.
Curitiba: velhas raposas da política na disputa
Na capital paranaense, todos os pré-candidatos até agora são velhos conhecidos do eleitorado. O prefeito Rafael Greca (DEM) é candidato à reeleição.
Além dele, devem disputar a vaga o ex-prefeito e atual deputado federal Gustavo Fruet (PDT); o deputado licenciado Ney Leprevost (PSD), que hoje ocupa a Secretaria Estadual de Justiça, Família e Trabalho do Paraná e que foi segundo colocado na eleição de 2016; o deputado estadual Fernando Francischini (PSL); o ex-deputado federal João Arruda (MDB); o deputado estadual Goura (que pode ser uma alternativa no PDT a Fruet); o ex-prefeito de Pinhais Luizão Goulart (Republicanos); o médico João Guilherme Moraes (Novo – que em 2016 foi candidato a vice na chapa de Ney Leprevost); o ex-candidato ao Senado Zé Boni (PTC); e o advogado e professor de gestão pública Thiago Chamulera (Patriota).
Também são cotados para concorrer o ex-prefeito e atual deputado federal Luciano Ducci (PSB), o deputado federal Paulo Martins (PSL), a deputada estadual Maria Victoria (PP), o vice-prefeito de Curitiba Eduardo Pimentel (PSDB) e a deputada federal Christiane Yared (PL).
Por enquanto, as principais articulações são referentes às alianças. Greca pode acabar trocando o vice, Eduardo Pimentel (PSDB), por um nome indicado pelo deputado federal Ricardo Barros (PP). Se isso acontecer, Leprevost já deixou a porta aberta para receber Pimentel como seu vice na chapa em 2020. Também não está descartada uma aliança entre MDB e PDT na cidade.
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