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Eleições 2022

Projeções de crescimento, juros e inflação para 2022 são otimistas?

Inflação de novembro veio acima da meta e é exemplo da pressão exercida pela alta nos preços dos alimentos.
(Foto: Marcelo Andrade/Arquivo Gazeta do Povo)

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A Gazeta do Povo lançou o e-book Dossiê 2022, para que os nossos leitores tenham à mão todas as informações necessárias para acompanhar o xadrez político das próximas eleições presidenciais. A partir de perguntas formuladas por jornalistas, especialistas das mais diversas áreas dizem quais são fatores que vão influenciar o voto do brasileiro e como eles acreditam que serão as eleições. Este conteúdo é uma parte do e-book, que você pode baixar gratuitamente, na íntegra, ao fim do texto.

As previsões econômicas em fevereiro de 2021 apontavam para um crescimento do PIB de 3,5% em 2021 e 2,5% em 2022 e de inflação de 3,4% para os próximos dois anos. Estimava-se que a Selic fechasse 2021 em 3% e crescesse para 4,5% no ano seguinte. Você considera que estas projeções são otimistas ou pessimistas? E quais os possíveis impactos deste cenário econômico para o atual governo no segundo semestre de 2022? Algum grupo político pode ser beneficiado?

PEDRO FERNANDO NERY, doutor em economia, consultor legislativo no Congresso Nacional, professor do IDP e colunista do Estadão

Parecem-me projeções realistas, mas é evidente que existe muita incerteza, mais que em anos normais. A evolução da economia depende da evolução da pandemia. Teremos terceira onda? Quanto tempo demorará para a vacinação da população? Quanto tempo dura essa imunidade? Hábitos antigos serão retomados rápida ou lentamente? A depender dessas respostas podemos crescer mais, ou menos.

Existem duas visões sobre o impacto da economia em 2022. Uma é que, embora o crescimento seja modesto, o clima de alívio pela volta à normalidade, recuperação gradual dos empregos, provoque um otimismo favorável ao governo atual. A segunda visão é que, mesmo crescendo, haverá insatisfação porque a crise foi muito devastadora, e veio depois de uma recessão ainda mais forte em 15-16. Em 2022, o PIB per capita estará bem abaixo do que era antes dessas crises. Pode haver um mal estar, até porque a recuperação tende a ser desigual, e em 2022 ainda devemos ter desemprego e pobreza altos em relação aos últimos anos.

Em 2022 o governo poderá estar comemorando taxas de crescimento historicamente altas, porque se darão sobre um nível de atividade muito baixo, derrubado pela pandemia. Já oposições poderão fomentar a narrativa de que antes as coisas eram melhores ou mesmo que a desigualdade aumentou, que a situação de muita gente ainda é ruim.

HELIO BELTRÃO, graduado em finanças com MBA pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Foi executivo do Banco Garantia, Mídia Investimentos e da Sextante Investimentos. É fundador e foi membro do conselho consultivo do Instituto Millenium e fundador-presidente do Instituto Mises Brasil

As previsões de crescimento estão realistas. As previsões de Selic e inflação estão otimistas – o BC terá que subir a Selic mais rapidamente, devido à inflação. A Selic deve encerrar o ano em 4% e pode subir a 6% no final de 2022. A inflação deve ficar em torno de 4% este ano e em 2022. À medida que a economia recupera, você terá algum repasse ao consumidor dos preços que já aumentaram no atacado, mas seguem represados pela paralisação da economia, pela covid.

Difícil prever os impactos. De onde o governo vai tirar dinheiro para o auxílio emergencial? De quanto será o auxílio? E por quanto tempo? Como o Congresso irá se comportar diante das reformas urgentes (administrativa e tributária)? São questões que impactarão a percepção pública do governo. Existe o senso comum de que com o auxílio emergencial, a popularidade do governo sobe. Mas não sei se é algo tão direto assim. Se os recursos para o auxílio ensejarem a diminuição de outros gastos, consequências não previstas acontecerão, e os grupos prejudicados tenderão a se opor ao governo nas eleições.

A esquerda tem pela frente um dilema ético: eles gostariam de dar o maior auxílio emergencial possível para a população, mas ao mesmo tempo julgam que isso aumentará a popularidade de Jair Bolsonaro, e suas chances de reeleição. Do ponto de vista de Bolsonaro, o equilíbrio entre os gastos com o auxílio e responsabilidade fiscal me parece uma questão crucial.

ELENA LANDAU, economista e advogada, foi diretora de privatizações do BNDES durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi filiada ao PSDB e atualmente é conselheira acadêmica do movimento Livres. 

Eu acho que uma previsão de 3,5% para 2021 é ruim em si. Ela é baixa, dada a base estatística de onde a gente sai. A gente deveria estar crescendo um pouco mais. Mas ao mesmo tempo, ela é otimista. Porque sem auxílio emergencial, sem políticas, sem reformas, sem a gente saber para onde vai, o Banco Central já dizendo que pode fazer uma rodada de aumento de juros... Há previsões hoje até abaixo de 3%. Ou seja, é lastimável que a gente não consiga, nem mesmo com uma base de comparação estatística, conseguir um crescimento razoável.

(Sobre os impactos) Primeiro, a gente tem que supor que o cenário econômico influencie diretamente as eleições. Obviamente que, se a gente tiver o nível de desemprego que a gente tem atual, um crescimento do PIB muito baixo, e nenhuma política social que substitua o auxílio emergencial por uma coisa mais permanente, o Bolsonaro está fragilizado. Não tenho dúvida. Mas, por outro lado, as pessoas que apoiam o Bolsonaro não apoiam o Bolsonaro por causa de um cenário econômico. Esse apoio que teve do auxílio emergencial é o apoio normal, de toda a política de transferência. As mesmas pessoas que votavam em Lula por causa do Bolsa Família, as mesmas pessoas, nada a ver com ideologia, passam a apoiar o presidente Bolsonaro por causa do auxílio emergencial. Que, na realidade, é muito superior do que o Bolsa Família. Também a gente não sabe se em 2021, se a equipe econômica atual não entregar uma resposta de crescimento, se o Bolsonaro não vai abandonar, e que tipo de cenário a gente pode ter pela frente. Que pode ser um cenário ainda pior: de inflação, de gasto público, e aí eu acho que a inflação afeta muito o ideário das pessoas do Brasil. Depois do Plano Real, as pessoas têm uma percepção muito negativa de inflação.

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