O DEM está rachado. O PSDB também. E o PT, ao antecipar o lançamento de Fernando Haddad para a disputa presidencial, se afasta de outros partidos de esquerda. Esse cenário tornou mais difícil haver uma união de centro e de esquerda para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 – algo defendido por diversas lideranças políticas.
A união da centro-esquerda com a centro-direita vinha sendo defendida pelo deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, e pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
O problema é que a vitória de Arthur Lira (PP-AL) na eleição para presidente da Câmara minou os poderes de Maia no DEM. Lira, apoiado por Bolsonaro, conseguiu rachar o grupo de Maia. Agora, o ex-presidente da Câmara ameaça migrar para outra sigla. E uma ala do DEM defende que o partido passe a apoiar a reeleição de Bolsonaro.
Já Doria passou a enfrentar resistências dentro do PSDB ao tentar, sem sucesso, assumir o comando da sigla. E viu surgir uma ala de tucanos que querem que o candidato a presidente do partido não seja Doria, mas sim o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
O líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF) minimiza a divisão no partido. Ela lembra que ainda falta tempo para as eleições de 2022 e, no caso do PSDB, ainda haverá as prévias. "Sempre tem mais alguém querendo também [ser candidato a presidente]. Acho que ninguém vai ser ungido; deverá ter disputa", afirma Izalci. "Acho que ainda tem muita água para passar por debaixo da ponte', é muito cedo ainda para discutir essa questão. Isso daí vai ser no final do ano, depois de outubro, e o ano que vem", avalia.
Sobre a possibilidade de haver uma união do PSDB com outros partidos, Izalci Lucas (DF), acredita que uma unidade entre partidos de centro-direita ainda pode surgir, mas não aposta em uma união com a centro-esquerda.
"Deve surgir um movimento de centro [direita], porque você tem aí os radicais de esquerda e os radicais de direita. Óbvio que vai aparecer o centro, mas ainda está muito cedo para definir quem é que vai encabeçar isso", diz o senador tucano. "Mas não acredito que vai haver uma junção de todo o centro, da direita com a esquerda."
Na esquerda, PT quer hegemonia. E PDT busca alternativas para as eleições 2022
Na esquerda, o PT defende uma união de partidos desse espectro ideológico para ter uma candidatura mais forte contra Bolsonaro. Petistas sempre citam como siglas a compor a frente de esquerda o PDT de Ciro Gomes, o Psol de Guilherme Boulos e o PCdoB de Flávio Dino – todos possíveis presidenciáveis em 2022.
O problema para esses partidos é que o PT sente-se "dono" da esquerda, e dá sinais de que só aceita negociar se as demais siglas forem auxiliares do projeto de poder petista. O lançamento da pré-candidatura de Haddad, no fim de semana passado, foi visto como um sinal disso.
O PDT inclusive marcha numa direção oposta. Ciro Gomes passou a defender uma união de centro contra Bolsonaro. A articulação do PDT, por enquanto, mira o PSB, Rede e PV – partidos da centro-esquerda. Mas a centro-direita não está descartada.
Miro Teixeira, ex-ministro das Comunicações que saiu recentemente da Rede e retornou ao PDT, tem auxiliado essas costuras políticas. À Gazeta do Povo, ele evitou falar sobre as negociações. Disse que quem trata disso é Ciro Gomes e o presidente nacional do partido, Carlos Lupi. Mas defendeu que é preciso haver uma boa relação entre os "centros". “É preciso acabar com essa história de esquerda, direita, toda essa briga e ódio”, disse.
Mas, dentro do centro, ainda há muita resistência com a ideia do PDT. A percepção é a mesma que existe na esquerda com o PT. Ou seja, Ciro Gomes quer uma união de centro só se ele for o cabeça de chapa. Além disso, no centro há a avaliação de que o projeto pedetista, na verdade, é de esquerda.
Partidos de centro inclusive já se movimentam em torno de outros nomes que tenham mais potencial de agregar apoios para 2022. O apresentador de TV Luciano Huck é uma dessas apostas.
União do centro é improvável, mas não impossível
O cientista político e sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que os partidos têm projetos próprios de poder. Por isso, uma união deles é difícil. Mas Baía não descarta a possibilidade de que possa haver em 2022 uma frente ampla contra Bolsonaro. “Pode até ser que surja uma chapa entre centro-direita com a centro-esquerda. O Kalil [prefeito reeleito em Belo Horizonte, do PSD, partido de centro-direita] é um candidato forte e que poderia compor com o Ciro”, aposta o cientista político.
Para Baía, existem, hoje, apenas três candidaturas irreversíveis: as de Ciro, Haddad e Bolsonaro. Dessas, ele entende que a união entre os centros teria chances de prosperar apenas com Ciro. “É mais difícil que o Haddad consiga porque os nomes da centro-direita são muito antipetistas. O antipetismo pesa nessa linha. E, na verdade, o Ciro está como uma estratégia de procurar crescer exatamente nesse espaço, um que não iria para Bolsonaro, mas que não vai para o PT”, pondera.
Além de Kalil, nome cotado que poderia entrar numa união mais ampla de partidos, Baía destaca que o tucano Eduardo Leite também pode vir a ter um papel importante em 2022. “Acho que ele não tem ainda força nacional, mas é um nome forte para compor uma chapa.”
Planalto aposta que não haverá união contra Bolsonaro nas eleições 2022
As dificuldades do centro em conseguir se unir anima o governo. No Palácio do Planalto, a avaliação é de que um candidato a presidente que unisse a centro-direita e centro-esquerda seria mais competitivo contra Bolsonaro. Mas, para interlocutores, essa união não sairá. “Teremos mais uma eleição pulverizada [com vários candidatos], como a passada”, aposta um assessor palaciano.
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