Jair Bolsonaro, presidente da República| Foto: Evaristo Sá/AFP
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A Gazeta do Povo lançou o e-book Dossiê 2022, para que os nossos leitores tenham à mão todas as informações necessárias para acompanhar o xadrez político das próximas eleições presidenciais. A partir de perguntas formuladas por jornalistas, especialistas das mais diversas áreas dizem quais são fatores que vão influenciar o voto do brasileiro e como eles acreditam que serão as eleições. Este conteúdo é uma parte do e-book, que você pode baixar gratuitamente, na íntegra, ao fim do texto.

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Qual o caminho que a direita está trilhando para as eleições de 2022? Qual deve ser o principal nome da direita?  

MURILO HIDALGO, diretor-presidente do instituto Paraná Pesquisas, dedica-se há 30 anos ao estudo e elaboração de pesquisas de opinião pública. É economista com pós-graduação em marketing e ex-professor universitário. 

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Não tenho dúvida que o principal nome da direita é o presidente Jair Bolsonaro. Todas as pesquisas mostram que ele conseguiu consolidar um terço do eleitorado. É difícil qualquer nome conseguir tomar esses votos.

RODRIGO CONSTANTINO, presidente do Conselho do Instituto Liberal. É formado em Economia pela PUC-RJ, e tem MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalhou no setor financeiro de 1997 a 2013. É autor de vários livros, entre eles o bestseller "Esquerda Caviar". Foi colunista da revista Voto, dos jornais Valor Econômico, O Globo, Zero Hora, do site R7, e das revistas Veja e IstoÉ. É colunista da Gazeta do Povo, do ND, da revista Oeste e comentarista da Jovem Pan. É membro-fundador do Instituto Millenium. Foi o vencedor do Prêmio Libertas em 2009, no XXII Fórum da Liberdade. 

Depende muito do que a gente vai chamar de direita. Eu não chamo PSDB, obviamente, de direita. Então, direita tem liberal clássico, tem conservador e eu acho que eles todos vão apoiar uma reeleição do governo Bolsonaro. Em que pese ter várias críticas locais e insatisfações em relação a certas coisas do governo, eu acho que a imensa maioria da direita percebe que é o Bolsonaro ou a volta da esquerda, seja uma esquerda mais radical (seja um PT, PSOL, PDT), seja uma esquerda mais herbívora, tipo o PSDB e essa turma que se diz centro, mas que se mostrou antibolsonarista histérica, a ponto de boicotar a nação à agenda de reformas e explorar de maneira muito demagógica a pandemia. Aí eu estou colocando no mesmo saco Luciano Huck, Rodrigo Maia e vários dos democratas, o Mandetta (Luiz Henrique Mandetta), e dentro esses até mesmo o ex-ministro, Sergio Moro.

PAULO CRUZ, professor de filosofia e sociologia, escritor e colunista da Gazeta do Povo. 

A única direita forte para 2022, no âmbito federal, é a bolsonarista. Então o principal nome é Jair Bolsonaro.

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ALEXANDRE BORGES, analista, palestrante, consultor, podcaster e colunista sobre política nacional e internacional da Gazeta do Povo. Foi titular do programa "3 em 1" da Jovem Pan FM, líder de audiência no segmento. 

Há igualmente várias direitas. Uma direita liberal, comprometida com a Constituição, o Estado Democrático de Direito e com a cidadania, que busca um país com menos intervenção estatal e mais empreendedorismo, inovação e geração de oportunidades, continua exprimida entre um apoio envergonhado ao governo ou uma oposição independente que ainda carece de um discurso popular e uma liderança.

Uma direita “integralista”, com um nacionalismo tacanho e xenófobo, uma apropriação indébita do discurso religioso para promover uma relação messiânica e subserviente com políticos, que quer instituir um vale-tudo moral em nome do “combate à esquerda”, têm chances em 2022 pela incompetência dos adversários em entender o mínimo da natureza humana, carente de símbolos, bandeiras, hinos e um senso de propósito transcendente.

GUILHERME MACALOSSI, jornalista, apresentador, redator e radialista. Apresenta o programa "Confronto", na Rádio Sonora FM, e o programa "Cruzando as Conversas", veiculado pela RDC TV, emissora de TV a cabo no Rio Grande do Sul. Trabalhou na agência Critério - Resultado em Opinião Pública, e já escreveu artigos para o site do Instituto Liberal. Na Gazeta Povo, produziu o programa "Imprensa Livre" e também mini documentários sobre temas variados publicados ao longo de 2019.

O caminho da direita bolsonarista é Jair Bolsonaro, que está em campanha desde o primeiro dia que tomou posse. Ele não faz outra coisa a não ser pensar na sua própria reeleição. Essa adesão ao centrão fisiológico obedece exatamente ao sentido dessa estratégia, que suplantou a anterior. Havia um Bolsonaro em 2019, que era um Bolsonaro mais preso àquela necessidade de parecer o nome que estava lá para combater os interesses políticos dos grupos tradicionais, que não cederia à negociata e que representaria uma nova forma de gerir o país. Esse Bolsonaro de 2019, que é o Bolsonaro do “Carluxismo”, ele aparece em virtude da fragilização de seus próprios índices, do fato de ter aí investigações envolvendo filho. Ele faz um movimento de adesão à política tradicional, por assim dizer. Ele vai lá e consegue a adesão daquele conjunto de parlamentares e daqueles partidos políticos que tradicionalmente se aliam a todos os governos desde que sendo para tanto compensados com espaço dentro do Estado.

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A eleição na Câmara dos Deputados é a consolidação desse movimento, que transforma o Bolsonarismo, apesar de continuar sendo o que é em essência. O Bolsonaro agora conta com uma base dentro do Congresso, oriunda dessa vitória expressiva, e o Arthur Lira (PP-AL) é o símbolo disso e ele vai tentar se vender como aquele que é o único capaz de impedir o retorno da esquerda ao poder.

O discurso de Bolsonaro em 2022, na minha avaliação, tem destaque muito parecido com o discurso de 2018, apesar de o Bolsonaro presidente não ter nada a ver com o discurso que o candidato Bolsonaro, de 2018, fazia (contra o centrão, a pilhagem do Estado, pela independência dos órgãos técnicos, por indicações que obedeceriam a critérios de qualidade). O Bolsonaro da campanha eleitoral não é o Bolsonaro de hoje, que está aliado ao centrão e que parece que caminha para uma recomposição até mesmo na sua chapa em 2022. Quer dizer, sai o general Hamilton Mourão, com quem Bolsonaro não tem uma boa relação, e de repente entra um nome desses partidos do chamado centrão fisiológico.

Bolsonaro vai, obviamente, centrar o discurso político em 2022 nas ações econômicas que foram tomadas e, claro, haverá mistificações aí sobre a paternidade do auxílio emergencial, sobre como se organizou toda a resposta à pandemia, e a forma que o Bolsonaro provavelmente vai atualizar para escapar da responsabilidade pelo desastre na condução do trabalho de contenção do vírus. Aquele discurso de responsabilização de prefeitos e governadores como se eles tivessem sido responsáveis pela corrupção que gerou a falta de leitos, que gerou a falta de respiradores, a falta de testes e ao mesmo tempo aqueles que criaram o problema econômico, porque decidiram fazer quarentena, fazer lockdown. O discurso do Bolsonaro é esse, ele vai se vitimizar dizendo basicamente que não pode realizar mais porque, no conjunto da situação geral do país, se criou uma situação que o obrigou a gastar, que gerou desemprego, mas que não foi por escolha dele, que por ele a economia estaria aberta, estaria pujante e as reformas acabaram sendo atrasadas porque havia um complô no Congresso contra as articulações do governo.

FLAVIO GORDON, doutor em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ) e autor do best-seller A Corrupção da Inteligência: intelectuais e poder no Brasil (Record, 2017).

A assim chamada direita viveu uma guerra fratricida ao longo dos últimos anos, dividindo-se, grosso modo, em bolsonarismo e antibolsonarismo. Por um lado, Bolsonaro abandonou muitas das pautas de sua agenda conservadora original, optando por sacrificar ou abandonar à própria sorte quadros identificados como “ideológicos”, tanto pela imprensa quanto por setores militares-positivista de dentro do governo. Por outro, muitos da direita antibolsonarista não hesitaram em se aliar ao pseudo-centro e mesmo à esquerda mais tradicional na tentativa de derrubar ou inviabilizar o governo por vias não-eleitorais, bem como na de estigmatizar ou mesmo criminalizar os seus apoiadores. E essa mudança súbita de postura talvez cobre um preço nas próximas eleições. Daí que, no frigir dos ovos, Bolsonaro continue sendo o nome mais forte da direita, demonstrando uma singular resiliência em termos de popularidade, sobretudo se levadas em conta as circunstâncias da pandemia e do inédito bombardeio de que seu governo foi alvo.

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