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O avanço da direita, representada pelo PL, e da centro-direita, sobretudo PSD, Republicanos e PP, nas eleições municipais pressiona a definição dos papéis em 2026 dos maiores líderes conservadores: o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
Antes mesmo do fim do atual ciclo eleitoral, os bastidores dos partidos que apoiaram Bolsonaro em 2022 – PL, PP e Republicanos –, além do PSD, se agitam sobretudo em torno da disputa a respeito do nome de Tarcísio, em meio ao destino de Bolsonaro ainda incerto em razão de sua inelegibilidade.
De um lado, aliados mais próximos do ex-presidente buscam manter a vantagem do PL obtida nas urnas de 2024, vinculando os mais de 15 milhões de votos à figura dele, além de o posicionar como candidato da direita ao Planalto, mesmo inelegível. Do outro lado, cresce a articulação pela candidatura presidencial de Tarcísio.
Um pesquisa eleitoral da Quaest, realizada antes do primeiro turno e divulgada neste domingo (13), mostrou Tarcísio com 15% das intenções de voto em uma eleição presidencial contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB), que apareceu tecnicamente empatado com o governador mas numericamente à frente, com 18%. O petista estava com 32% (veja metodologia abaixo).
Líderes do PL, porém, têm minimizado o "efeito Pablo Marçal” nas próximas eleições para presidente. À CNN Brasil, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, ao repercutir a pesquisa Quaest, disse que Marçal não tem experiência política. “Ninguém entende de tudo. Vai ser difícil para ele”, analisou, salientando que o PL terá um candidato a presidente em 2026, preferencialmente Jair Bolsonaro.
O senador Rogério Marinho, líder do PL no Senado, também refuta a ideia de que o empresário derrotado na corrida pela Prefeitura de São Paulo tenha ameaçado a liderança de Bolsonaro na direita. Em entrevista à Gazeta do Povo na semana passada, o senador disse que, embora a campanha de Marçal tenha trazido lições, não mostrou consistência política. “Ele se comportou como algoritmo, mudando de posição conforme oscilações nas redes sociais”, avalia. Ainda assim, Marinho reconhece que a corrida paulistana evidenciou a inclinação à direita na maior cidade do país.
Apontado como opção mais viável no caso de a situação de Bolsonaro não ser revertida, Tarcísio também é disputado pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, que trabalha para garantir que o governador concentre as suas energias e planos na reeleição, vista como caminho menos arriscado.
Tarcísio prefere disputar reeleição a atender convocação de Bolsonaro
Bolsonaro foi o principal fiador da candidatura de Tarcísio ao governo do estado em 2022, quando era seu ministro da Infraestrutura. A proximidade entre os dois permanece, como o governador mostrou na quarta-feira (9), ao declarar nas redes sociais que Bolsonaro é “a maior liderança política”.
O governador, contudo, já afirmou que pode contrariar um “pedido do amigo” Bolsonaro e não concorrer à Presidência em 2026, alinhando-se ao plano de Kassab, seu secretário de governo. Diante da incógnita, políticos ligados a Bolsonaro e Tarcísio vêm expondo suas expectativas para a direita.
Nomes fortes do PL, como o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, sustentam que Tarcísio seria o substituto natural de Bolsonaro, caso este permaneça inelegível. Valdemar vai mais longe e diz já ter o compromisso do governador de que se filiará ao partido.
O secretário-geral do PL, senador Rogério Marinho (RN), garantiu em entrevista à Gazeta do Povo, que o partido terá “candidatura própria à Presidência em 2026”, com a expectativa de Bolsonaro estar elegível para a missão, descartando Tarcísio até mesmo pelo fato de ser do Republicanos.
Apesar disso, Marinho sinalizou a possibilidade de o governador figurar como presidenciável do PL ao citar as negociações em curso com dois governadores para migrarem para o partido no próximo ano. “Insisto, vamos ter o nosso candidato à Presidência da República em 2026”, frisou.
Especialista vê Tarcísio como “carta na manga” enquanto PL se reestrutura
O cientista político Ismael Almeida vê a defesa da candidatura de Bolsonaro como estratégia para mantê-lo na bolsa de apostas, embalada pelo sucesso das urnas de 2024. “Não tem por que falarem em outro nome agora, com o ativo eleitoral do ex-presidente, ainda que inelegível no momento”, diz.
Quanto às movimentações em torno de Tarcísio, o especialista lembra que ele é sempre “uma carta na manga”. “Por enquanto, ele é o governador que tende a ser reeleito, o que também fortalece o grupo de Bolsonaro”, pontua. “Já o PL vive uma transição madura, se consolidando como partido grande”.
A chance de Tarcísio no PL afronta Kassab, que sustenta a tese de que as eleições de 2024 mostraram rejeição do eleitor por opções extremadas e de que Lula tem as vantagens da experiência e de estar no poder. Marinho discorda e vê o público exigindo por posturas claras sobre temas nacionais.
As eleições em São Paulo, sobretudo na capital, colocaram as atuações de Tarcísio e Bolsonaro em raias paralelas. O governador foi considerado o principal responsável pela ida do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ao segundo turno, enquanto Bolsonaro, que indicou o vice, oscilou no apoio à chapa.
Com aparente flerte de Bolsonaro com a candidatura de Pablo Marçal, cresceu a percepção de que uma eventual vitória de Nunes será creditada a Tarcísio. Essa análise foi duramente rechaçada pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que atribuiu ao pai os votos da direita no prefeito.
Destino incerto de Bolsonaro dá margem a especulações de candidaturas da direita
Em 2025, o cenário político será de intensas negociações internas nas legendas, que precisam alinhar estratégias para a eleição presidencial com os projetos dos caciques. O PP, liderado pelo senador Ciro Nogueira (PI), aguarda, por exemplo, definições para dar o apoio a Bolsonaro ou a Tarcísio.
A incerteza se Tarcísio cederá ao desejo de Kassab ou à chamada do PL alimenta especulações sobre outros candidatos, como Flávio e Eduardo Bolsonaro (deputado pelo PL-SP e pré-candidato ao Senado), além da ex-primeira-dama Michelle, hoje candidata ao Senado pelo Distrito Federal.
Candidatos apoiados por Bolsonaro e Tarcísio em oito cidades de São Paulo se enfrentarão no segundo turno, tanto entre seus partidos quanto em coligações. No primeiro turno, quando um apoiava um candidato o outro se mantinha neutro na mesma cidade. A única exceção foi o duelo em Franca.
Trunfo maior do PSD foi criar as bases para consolidação de projeto para SP
Para Marcus Deois, diretor da consultoria Ética, o resultado favorável ao movimento conservador nas eleições não se deve apenas a Bolsonaro, mas, sobretudo, ao perfil ideológico majoritário dos eleitores no país. Quanto a Tarcísio, o crédito nas vitórias em São Paulo favorece o plano de reeleição.
“O governador sai fortalecido e assume papel importante de formar frente ampla de apoio à candidatura Nunes na capital. Além de buscar continuar o legado paulista, ele terá a missão de escolher os dois candidatos ao Senado para fechar a sua chapa majoritária. Kassab pode ser um desses”, aposta.
O cientista político Leonardo Barreto, diretor da consultoria Think Policy, relativiza o sucesso do PSD nas urnas, que o ungiu como fiador da sucessão no Congresso, do futuro de Tarcísio e da reeleição de Lula. “Apesar do maior número de prefeituras, o partido ficou em terceiro dentre as maiores”, diz.
O PSD, explica ele, diminuiu nas eleições em relação a 2023. A grande vitória de Kassab foi então antes, ao inflar o partido, atraindo muitos prefeitos paulistas. “Com 31,4% dos Executivos municipais no estado, ele tem um trunfo para suas pretensões regionais e revela poder de articulação”, frisa.
Metodologia da pesquisa citada
A Quaest ouviu 2.000 pessoas para a pesquisa. As entrevistas foram realizadas entre 25 e 29 de setembro de 2024. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O índice de confiança é de 95%.