O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a dizer, em entrevistas recentes, que as correntes políticas de centro-direita têm de criar um projeto conjunto para as eleições de 2022, sob pena de repetirem o fiasco do pleito presidencial anterior. "[Os líderes de centro] precisam entender a necessidade de sair um nome único para disputar eleição contra o presidente Bolsonaro e o PT", declarou.
Entre os nomes cotados para unificar o grupo na disputa ao Planalto, Maia citou como presidenciáveis os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Ciro Gomes (PDT); o governador de São Paulo, João Doria (PSDB); e o apresentador de TV Luciano Huck, atualmente sem partido. O próprio Maia entra nessa lista, apesar de afirmar que não tem perfil para se candidatar a presidente da República.
A ideia de um projeto que se mostre como um contraponto aos "extremos" representados por Jair Bolsonaro e pelo PT já foi um discurso presente nas eleições de 2018. Candidatos como Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos) adotaram a abordagem de que a população rejeitaria a polarização representada pelo atual presidente da República e por Luiz Inácio Lula da Silva ou Fernando Haddad.
No entanto, o que se viu na prática foi o oposto: Bolsonaro e PT marcharam para o segundo turno com relativa tranquilidade. Já Meirelles e Alckmin, mesmo contando com grandes estruturas partidárias e os maiores tempos de horário eleitoral na TV, não superaram, somados, os 6% dos votos válidos.
O panorama para as eleições de 2022 não parece ser muito diferente. Pesquisa divulgada no último dia 6 pelo site Poder360 confirmou que Bolsonaro e Haddad lideram a corrida para a próxima eleição presidencial, com o atual chefe do Executivo dispondo de ampla vantagem sobre o petista. Em números gerais, Bolsonaro tem 38% das intenções de voto, contra 14% de Haddad. O terceiro colocado é o ex-ministro Sergio Moro (sem partido), com 10%. Bolsonaro ocupa a primeira colocação em todos os cenários, exceto entre os eleitores de renda superior a 10 salários mínimos, grupo no qual Haddad é o preferido.
Apesar do contexto desfavorável, políticos de centro que conversaram com a Gazeta do Povo veem viabilidade eleitoral em uma candidatura única e apontam que a união das diferentes correntes do grupo é imprescindível. Faltando dois anos para a eleição, tudo pode mudar.
Centro-direita mantém diálogo aberto em busca de projeto único
O deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP) diz que a união das correntes de centro para as eleições de 2022 ainda não é um assunto em sua legenda, mas vê uma tendência nesse sentido. "Isso não foi discutido no partido. Mas a posição do PSDB tende a estar de acordo com essa lógica", afirma Macris.
Em 2018, o PSDB formou a maior coligação da disputa presidencial. PTB, PP, PR (atual PL), DEM, Solidariedade, PPS, PRB (atual Republicanos) e PSD estiveram, formalmente, ao lado da candidatura de Geraldo Alckmin. No entanto, parte do apoio se deu apenas na teoria. Muitos dos líderes desses partidos endossaram a candidatura de Jair Bolsonaro desde o início, como os hoje ministros Onyx Lorenzoni e Tereza Cristina, ambos do DEM, e o ex-senador Magno Malta, do PR.
Presidente de um dos partidos que compuseram a coligação, o ex-deputado Roberto Freire (Cidadania) avalia que no momento atual existe o "crescimento de uma compreensão" na sociedade sobre a importância de se apresentar um projeto que se contraponha ao PT e a Bolsonaro. "Acho muito importante que o centro se una para combater essas duas forças que eu considero perniciosas para o país, o bolsonarismo e o petismo", diz.
"As forças de centro precisam realmente se unir. Porque PT e Bolsonaro têm interesse em manter a polarização. Quanto mais o centro se fortalecer e forçar uma competitividade, melhor para o Brasil", acrescenta o deputado Fábio Trad (PSD-MS).
Eleição de 2018 foi atípica
Um elemento que anima os integrantes do centro é a crença de que o quadro eleitoral que marcou 2018 não vai se repetir nas eleições de 2022. Naquele ano, o Brasil era governado por Michel Temer (MDB), que chegou ao poder após o impeachment de Dilma Rousseff (PT); o ex-presidente Lula havia sido preso pouco antes do início do período eleitoral; e, durante a campanha, o então candidato Jair Bolsonaro sofreu o atentado que o retirou de debates.
"A eleição de 2018 foi muito atípica. Foi carregada de ódio, de ressentimento. Foi marcada por conta das inúmeras demonstrações de desrespeito ao erário por parte do PT. Em 2022, o eleitor vai poder avaliar um Bolsonaro que debate, algo que não houve em 2018. Vai poder avaliar as promessas dele, se foram cumpridas ou não", disse Trad.
Outro componente que interferiu em 2018 e pode se modificar para 2022 vem do exterior, segundo os centristas. Dois anos antes da eleição que consagrou Bolsonaro, Donald Trump conquistou a presidência dos EUA e fortaleceu a direita em escala global. Com a reeleição do republicano sob ameaça, os efeitos podem ser sentidos aqui. "Acredito que Trump vai ser derrotado nos EUA e isso vai impactar de forma negativa os movimentos de extrema-direita no mundo. Isso pode ter um impacto grande no bolsonarismo", diz Freire.
O deputado José Nelto (Podemos-GO) resume um cenário que tende a ser favorável a uma candidatura de centro: "A política é feita de ondas. Tivemos a onda da direita, a da esquerda. Agora acho que vem a onda do bom senso".
E quem seria o nome ideal para liderar o centro em 2022?
Diante da constatação quase unânime entre os integrantes do centro de que a união do grupo seria uma boa decisão, a pergunta seguinte é quem seria o candidato a encabeçar o projeto.
"Não pensamos em nomes por enquanto. A tarefa de momento é unir as forças de centro. Analisar o quadro, com cientificidade, ponderação e equilíbrio. E depois decidir um cabeça de chapa, sendo a pessoa que mais reúna os sentimentos do grupo", diz Fábio Trad.
Em 2018, o Cidadania foi apontado como o possível partido do projeto presidencial de Luciano Huck. O presidente da legenda diz que a ideia continua em pauta: "Continuamos com a mesma relação com Luciano Huck. É muito boa, conversamos com frequência. Para nós, é uma das grandes alternativas. Ele apenas não está confirmado como candidato", aponta Freire.
Já o deputado José Nelto é direto ao dizer que o nome ideal, na sua ótica, é aquele que é habitualmente citado como o "sonho de consumo" de seu partido, o Podemos: "O nome que realmente representa o combate à corrupção e uma política social-liberal capaz de destravar o país é Sergio Moro. Ele é quem tem força política hoje. Amanhã não sei, afinal, a política é muito dinâmica".
Metodologia da pesquisa
A pesquisa eleitoral que apontou favoritismo de Bolsonaro para 2022 foi realizada pelo PoderData, divisão de estudos estatísticos do portal Poder360. Os dados foram coletados de 3 a 5 de agosto, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram 2.500 entrevistas em 512 municípios, nas 27 unidades da federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
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