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O presidente eleito Lula (PT) discursou nesta quarta-feira (16) durante a Conferência do Clima (COP27) da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece no Sharm el-Sheikh, no Egito. Em suas palavras iniciais, o petista agradeceu o convite para participar do evento e afirmou que o mundo tem pressa em ver o Brasil participando novamente das questões sobre o futuro do planeta. Lula falou ainda sobre as eleições e criticou o governo do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Sinto-me especialmente honrado porque sei que esse convite não foi feito para mim, mas sim para o meu país e o povo brasileiro. Esse convite a um presidente recém eleito, antes mesmo de sua posse, é o reconhecimento de que o mundo tem pressa de ver o Brasil participando novamente das discussões sobre o futuro do planeta que a todo momento nos alerta que precisamos um dos outros para sobreviver”, disse Lula. “Estou hoje aqui para dizer que o Brasil está pronto para se juntar novamente aos esforços para a construção de um planeta mais saudável”, afirmou o petista.
Vitória nas eleições
Segundo Lula, sua vitória nas eleições de outubro garante a sobrevivência da Amazônia. “O Brasil acaba de passar por uma das eleições mais decisivas de sua história. Uma eleição observada com atenção inédita pelos demais países. Primeiro porque ela poderia ajudar a conter o avanço da extrema-direita autoritária e antidemocrática e do negacionismo climático no mundo. E também porque do resultado da eleição no Brasil dependia não apenas a paz e o bem estar do povo brasileiro, mas também a sobrevivência da Amazônia e, portanto, a sobrevivência do nosso planeta”, disse Lula.
“Ao final de uma disputa acirrada, o povo brasileiro fez sua escolha e a democracia venceu. Com isso, volta a vigorar os valores civilizatórios, o respeito aos direitos humanos e o compromisso de enfrentar com determinação a mudança climática”, declarou.
Críticas a Bolsonaro
Lula aproveitou ainda seu discurso para criticar o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e afirmou que desde 2019 o país "enfrenta um governo desastroso em todos os sentidos", voltando a declarar que o mundo sente saudade do Brasil.
“Entre 2004 e 2012 reduzimos a taxa de devastação da Amazônia em 83%, enquanto o PIB agropecuária crescia 75%. Infelizmente, desde 2019, o Brasil enfrenta um governo desastroso em todos os sentidos: no combate ao desemprego e a desigualdade, na luta contra a pobreza e a fome, no descaso com a pandemia que matou 700 mil brasileiros e brasileiras, no desrespeito aos direitos humanos, na sua política externa, que isolou o país do resto do mundo e também na devastação do meio ambiente. Não por acaso, a frase que mais tenho ouvido dos líderes de diferentes países é de que o mundo sente saudade do Brasil. Quero dizer que o Brasil está de volta”, afirmou Lula.
“Está de volta para reatar os laços com o mundo e ajudar novamente a combater a fome no mundo. Para cooperar outra vez com os países mais pobres, sobretudo da África, com investimentos e transferência de tecnologia. Para estreitar novamente relações com nossos irmãos latino-americanos e caribenhos, e construir junto com eles um futuro melhor para nossos povos. Para lutar por um comércio justo entre as nações, e pela paz entre os povos. Voltamos para ajudar a construir uma ordem mundial pacífica, assentada no diálogo, no multilateralismo e na multipolaridade", disse o presidente eleito.
Brasil irá priorizar luta contra as mudanças climáticas
Em um dos trechos do discurso, Lula voltou a criticar os números do governo anterior e afirmou que a devastação da Amazônia ficará no passado, afirmando que essa será uma das prioridades em sua gestão.
"Não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida. Não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030, da mesma forma que mais de 130 países se comprometeram ao assinar a Declaração de Líderes de Glasgow sobre Florestas. Por esse motivo, quero aproveitar esta Conferência para anunciar que o combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu governo”, disse Lula.
“Vamos priorizar a luta contra o desmatamento em todos os nossos biomas. Nos três primeiros anos do atual governo, o desmatamento na Amazônia teve aumento de 73 por cento. Somente em 2021, foram desmatados 13 mil quilômetros quadrados. Essa devastação ficará no passado. Os crimes ambientais, que cresceram de forma assustadora durante o governo que está chegando ao fim, serão agora combatidos sem trégua", afirmou.
"Vamos fortalecer os órgão de fiscalização e os sistemas de monitoramento, que foram desmantelados nos últimos quatro anos. Vamos punir com todo o rigor os responsáveis por qualquer atividade ilegal, seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida. Esses crimes afetam sobretudo os povos indígenas. Por isso, vamos criar o Ministério dos Povos Originários, para que os próprios indígenas apresentem ao governo propostas de políticas que garantam a eles sobrevivência digna, segurança, paz e sustentabilidade", declarou Lula.
Lula pede ajuda para proteger a Amazônia
O presidente eleito lembrou também que Alemanha e Noruega anunciaram que pretendem reativar o Fundo Amazônia e afirmou que o Brasil está aberto a receber novas contribuições de outros países.
“Tenho o prazer de informar que logo após nossa vitória na eleição de 30 de outubro, Alemanha e Noruega anunciaram a intenção de reativar o Fundo Amazônia, para financiar medidas de proteção ambiental na maior floresta tropical do mundo. O Fundo dispõe hoje de mais de 500 milhões de dólares, que estão congelados desde 2019, devido à falta de compromisso do governo atual com a proteção da Amazônia. Estamos abertos à cooperação internacional para preservar nossos biomas, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania”, disse Lula.
Agronegócio sustentável
Lula destacou ainda o agronegócio no Brasil, afirmando que o setor será um aliado estratégico do novo governo na busca por uma produção regenerativa e sustentável. “A produção agrícola sem equilíbrio ambiental deve ser considerada uma ação do passado. A meta que vamos perseguir é a da produção com equilíbrio, sequestrando carbono, protegendo a nossa imensa biodiversidade, buscando a regeneração do solo em todos os nossos biomas, e o aumento de renda para os agricultores e pecuaristas”, afirmou Lula.
“Estou certo de que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável, com investimento em ciência, tecnologia e educação no campo, valorizando os conhecimentos dos povos originários e comunidades locais. No Brasil há vários exemplos exitosos de agroflorestas. Temos 30 milhões de hectares de terras degradadas. Temos conhecimento tecnológico para torná-las agricultáveis. Não precisamos desmatar sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo”, disse o presidente eleito.
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