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Em entrevista ao programa Hora do Strike, da Gazeta do Povo, o presidente Jair Bolsonaro disse que cogita convidar um nordestino ou um mineiro para ser candidato a vice-presidente em sua chapa nas eleições de 2022. Afirmou ainda que está trabalhando com a possibilidade de chamar um general de quatro estrelas, posto mais alto na hierarquia do Exército, como o do atual vice, Hamilton Mourão.
"Agora, a gente não está pensando em ter uma chapa para ganhar eleição e depois não poder governar. Isso é horrível, é péssimo né, ter um vice que te atrapalha, isso é horrível. Então, um vice que estamos trabalhando aí pode ser um general de quatro estrelas também, pode ser. E vai acontecer em março, talvez, um pouco depois, a gente anuncia o nome dele, um nome que agregue e dê respeitabilidade à nossa chapa", afirmou o presidente.
A entrevista foi concedida na manhã desta quarta-feira (8) à colunista Cristina Graeml, e aos comentaristas de política Kim Paim e Gustavo Gayer. A íntegra será publicada às 20h no canal da Gazeta do Povo no YouTube.
"No mundo todo um dos presidentes que menos pode sou eu"
Ao falar sobre o governo, Bolsonaro admitiu problemas na economia, sobretudo causados pela pandemia, mas pediu paciência à população. "A gente vive bastante limitado. E na cabeça do povo, está ‘o presidente pode tudo’. Eu acho que no mundo todo um dos presidentes que menos pode sou eu", disse Bolsonaro, acrescentando que depende do Congresso para aprovar leis e que o Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da oposição, interfere no Executivo quando ele assina decretos e portarias.
Ele lembrou o que ouviu no Sete de Setembro, quando, na avenida Paulista, apoiadores bradaram "Eu autorizo!". "Está autorizado a fazer o quê? Quais as consequências de uma medida que eles queriam que eu tomasse? Ficaria dois ou três dias no braço do povo. E depois?"
Bolsonaro admite preço elevado da gasolina
O presidente reconheceu o preço elevado da gasolina, que varia conforme o preço internacional do petróleo. Disse que quando o preço caiu mais de 10 dólares recentemente, a tendência era o valor do combustível também cair no Brasil. "Não vai refletir. E se nós baixarmos hoje 10% o preço da gasolina, não vai baixar na bomba. Se daqui um mês você subir 1%, vai subir em cima do preço anterior, é assim que funciona", afirmou, acrescentando que pediu ao STF, há quatro meses, a regulamentação da cobrança do ICMS, a cargo dos estados. "Quem realmente é grande colaborador para que o preço dos combustíveis esteja hoje na casa dos 7 reais? São os governadores."
Bolsonaro: com nomeação de mais 2 ministros do STF "a gente muda o Brasil"
Sobre o STF, disse que, se for reeleito, poderá ter quatro ministros na Corte. "Vamos supor que eu venha candidato e me reeleja, eu vou ter quatro no Supremo que têm uma forma de pensar muito semelhante à minha. A gente muda o Brasil. Alguns querem rapidez em certas decisões, não dá certo isso. Porque os problemas que viriam, não apenas internos, teríamos os problemas externos também. A renovação vai acontecendo, peço paciência, né."
Questionado sobre a liberdade de expressão, Bolsonaro lamentou as prisões do caminhoneiro Zé Trovão e do ex-presidente do PTB Roberto Jefferson, seus apoiadores, o que classificou como "violência sem tamanho, praticada por um ministro", referindo-se a Alexandre de Moraes. "O problema nosso não é legislação, é por parte de alguns do Judiciário, que resolveram simplesmente ignorar tudo e todos e eles serem a Constituição, eles serem a lei", afirmou.
Presidente volta a criticar Alexandre de Moraes
Ao lembrar que Moraes abriu mais um inquérito contra ele – por causa da live em que associou vacina contra Covid à Aids – Bolsonaro afirmou: "É um abuso. Ele está no quintal de casa, será que ele vai entrar? Será que vai ter coragem de entrar? Não é um desafio para ele, quem está avançando é ele, não sou eu."
Depois, disse que "ninguém vai roubar a nossa liberdade". "Estão ameaçando algum tempo? Mais que ameaçando, estão caminhando nessa direção. Mas tudo tem um limite. Eu jogo dentro das quatro linhas, e quem for jogar fora das quatro linhas, não vai ter o beneplácito da lei. Se quiser jogar fora das quatro linhas, eu jogo também. Não pretendo fazer isso, isso não é ameaça para ninguém, mas que cada uma dessas pessoas façam um juízo da sua consciência do que estão fazendo", afirmou, citando, por exemplo, a decisão do ministro Luís Felipe Salomão, do Tribunal Superior Eleitoral, que desmonetizou canais de YouTube de alguns de seus apoiadores.
"Estamos cada vez mais nos preparando para buscar o ponto de inflexão nisso, que não chegou ainda. Eu espero que essas pessoas não avancem mais, leiam a Constituição, entendam realmente qual é o sentimento da população. Entendam realmente qual é o sentimento da população, em especial daquele último movimento, de 7 de Setembro, que foi às ruas pedindo o quê? Liberdade. Pelo amor de Deus, e vem uma outra autoridade e falar que isso é ato antidemocrático?", questionou.
André Mendonça enfrentou resistência porque não interessava ao ‘sistema’
Em outra parte da entrevista, Bolsonaro disse que, no seu entender, André Mendonça não enfrentou resistência no Senado pelo fato de ser evangélico. “Uma cadeira no Supremo interessa ao sistema e o André não se encaixava no sistema. Então, o que eles queriam? Outro nome. Podia ser evangélico, espírita, candomblé, seja lá o que for, ateu… Eles queriam alguém se encaixasse nos seus interesses”, disse o presidente.
“O que é ‘sistema’? O que é ‘establishment’? Levou algum tempo para eu aprender o que é isso. Um grupo de pessoas, 20 ou 30, que não se comunicam com frequência, mas têm interesses em comum”, disse, sem dar mais detalhes sobre quais interesses estavam em jogo na indicação do novo ministro do STF.
O presidente disse ter sido “quase um milagre” a aprovação dele, uma das mais apertadas para o STF no Senado, mas que o atraso acabou ajudando. “Porque a votação era secreta. Se fosse aberta ele teria uma votação quase unânime, né. Que nenhum senador [iria] querer brigar com 40 milhões de evangélicos no Brasil.”
"Moro não tem coração nem gratidão nenhuma, zero", diz Bolsonaro
Bolsonaro também criticou o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que pode disputar com ele a Presidência em 2022. Em seu livro e em entrevistas e palestras recentes, Moro vem dizendo que Bolsonaro traiu o compromisso feito na campanha de 2018 de aprofundar o combate à corrupção dando-lhe “carta branca” no governo. O ex-ministro deixou o governo em abril de 2020, acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal para blindar familiares.
O presidente disse na entrevista que nas reuniões ministeriais não pedia a nenhum ministro para ser blindado, mas para não ser chantageado, principalmente a partir de investigações irregulares contra seus filhos e sua mulher, a primeira-dama, Michele Bolsonaro.
“Eu sempre dizia na reunião de ministros: ‘Eu não quero ser blindado por nenhum de vocês, entendeu, Sergio Moro? Eu não posso admitir é ser chantageado, entendeu Sergio Moro? Assim era comum acontecer. E esse cara não fez absolutamente nada para que Coaf, para que Receita, não só bisbilhotasse a minha vida, como a de milhares de brasileiros. Que isso nos atrapalha. Você pode investigar o filho do presidente? Pode. A mulher do presidente? Pode. Mas investiga legalmente, com uma acusação formal. O próprio presidente, eu posso ser investigado, sem problema nenhum, mas não dessa forma como eles fazem”, afirmou.
Bolsonaro relatou que chegou a cobrar de Moro investigações sobre outros políticos, da esquerda e de fora do governo, suspeitos de terem usado de candidatas laranjas nas eleições de 2018 – prática de partidos lançarem mulheres apenas para preencher a cota, mas desviando os recursos destinados para as campanhas delas.
“As ações eram direcionadas, selecionadas pelo ministro”, queixou-se Bolsonaro, ao afirmar que as investigações só atingiam seus aliados e não opositores suspeitos. “Eu queria mandar ele embora lá atrás, mas como ele tinha um prestígio muito grande, ficava difícil você ter de justificar a demissão dele”, disse.