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Sabatinado neste sábado na Brazil Conference, promovida pelos estudantes brasileiros das universidades de Boston, na sede da Universidade de Harvard, o pré-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, fez duros ataques a seus principais adversários: o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-juiz Sergio Moro (União). Sem medir palavras, Ciro Gomes alertou para “as burrices da esquerda”, chamou Bolsonaro de inominável e bandido e disse que Moro seria “pior que bandido, um inimigo da República”. Declarações que aumentam a dificuldade de uma aliança da “terceira via” na eleição presidencial.
“Não sou o novo, não sou nova política. Sou o mais experiente, o mais vivido. Podem me chamar de agressivo, hostil, desbocado, sem compostura, porque não podem me chamar de desonesto nem de incompetente”, disse o presidenciável, para depois se referir a Moro. “Agora, se estou aqui ontem, na sabatina daquele inimigo da República (Moro participou do evento no sábado), ia sair palavrão, de bandido para cima. Um cara que usurpa a magistratura, a mais sagrada das missões humanas, que é julgar o semelhante, para transformar os autos em ferramenta de perseguição política e depois vai servir ao político que ganhou a eleição por isso e, depois, sai desse governo e vai servir à empresa que está administrando as massas falidas das instituições que ele quebrou. E circula impunimente só porque os políticos brasileiros têm rabo de palha e medo? Eu não tenho”, declarou.
Ciro Gomes abriu sua participação no evento afirmando não haver dúvidas de que o Brasil passa pela pior crise de sua história. “E o acumulado disso está potencializando uma disruptura, se é que já não aconteceu, no compromisso democrático do país”, disse, para já fazer seu primeiro ataque a Bolsonaro. “Temos um presidente indizível que eu considero um grande bandido. E ele não me processa porque sabe que eu tenho como provar tudo isso que falo”.
Para o presidenciável a esquerda ainda não entendeu por que Bolsonaro foi eleito e segue repetindo os mesmos erros. “Não foi pela obra do Bolsonaro, não foi pelas propostas do Bolsonaro que ele foi eleito, porque elas não existem. Ele criou afinidade com o eleitor fazendo apologia da ignorância, criando uma agenda ‘criptoreacionária’ que a esquerda está caindo feito um patinho”, disse. Para ele, o eleitor brasileiro “é de esquerda e de direita numa dubiedade absolutamente coerente na cabeça do nosso povo. E isso é chave para entendermos a burrice de uma certa esquerda brasileira”. Segundo o ex-governador do Ceará, há inclinação social democrata da população para compreender a necessidade da participação do estado nas questões de economia política. Mas há “conservadorismo enraizado” em matérias de costumes. “Se você racionalizar o debate com Bolsonaro, ele não se elege a nada. Mas se trocar o universo em que o tema do debate não é mais emprego, salário, decência, respeito aos direitos humanos e respeito à democracia, para ser kit gay, ‘mamadeira de piroca’, e tudo o que o Bolsonaro inventou, é a ciência para perder a eleição. E a esquerda está caindo nessa, feito um patinho, como a declaração do Lula sobre o aborto. Que coisa mais simplória para um assunto tão complexo”, criticou.
Ciro Gomes ainda afirmou que os modelos político e econômicos adotados pelos governos Lula e Bolsonaro são os mesmos: “seja qual for a retórica, de tragédia em tragédia, temos sempre o mesmo modelo político e econômico”, disse, para retomar os ataques: “Bolsonaro está filiado ao partido do Waldemar Costa Neto (PL), a quem o Lula deu o DNIT para roubar e foi condenado e preso no mensalão. E estava com o Collor e com o Fernando Henrique. O Roberto Jefferson, que está em prisão domiciliar por defender Bolsonaro, foi o cara para quem o Lula deu os Correios para roubar e detonou o escândalo do mensalão. Essa é nossa história”, afirmou. “O (Henrique) Meirelles, que não é bandido, mas é o autor do modelo econômico equivocado, inventor do teto de gastos, foi ministro do Lula, ministro do (Michel) Temer e secretário de Fazendo do (João) Doria. É um modelo político e econômico do país que produzem crise. E se não entendermos isso, vamos eternizar essas crises ao ponto da ruptura. Por isso, sou candidato”.
O presidenciável diz ver caminho para romper a polarização entre Lula e Bolsonaro. “Com reeleição, temos um mandato de oito anos com um plebiscito no meio. E temos mais 70% dos brasileiros não querendo mais o atual presidente. O Lula, que o nome que todo mundo ama ou odeia, mas ninguém é indiferente a ele, tem 40%. Sobram 30%, cadê eles? Estou aqui”, disse, para depois afirmar que só escolherá seu candidato a vice nas convenções, em julho, pois, até lá, saberá qual o capital político que terá e até onde poderá negociar. “Meu vice só vou escolher em julho. Até lá eu preciso incrementar meu poder e ele será derivado da força que eu tiver na opinião pública. E quanto maior esse poder, menos eu precisarei transigir na escolha do vice, defendendo com mais radicalidade o nosso projeto”.
Ciro Gomes encerrou sua sabatina com mais um recado ao ex-presidente Lula: “Preste atenção: o Brasil está quebrado e com essa promessa de memória afetiva de picanha e cerveja você vai se arrebentar se for eleito”.