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Viagem na América Latina

Lula quer resolver crise entre Venezuela e Guiana sem criticar ditadura de Maduro

Lula - Guiana - Venezuela - Brasil
Em dezembro, Lula afirmou que o continente não precisa de um conflito e que Celac deve mediar discussões entre Maduro e Guiana (Foto: Reprodução/Canal Gov)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca nesta quarta-feira (28) para Guiana e São Vicente e Granadinas, em seu segundo roteiro internacional do ano. Embora não sejam a pauta principal dos eventos em que vai participar, as crises na Venezuela, envolvendo eleições internas e a disputa territorial com a Guiana, devem dominar a agenda do brasileiro nestes próximos dias em que estará fora do Brasil. O Itamaraty, porém, já avisou que Lula evitará críticas ao ditador venezuelano, Nicolás Maduro, por receio de fechar canais de diálogo com o autocrata. Um encontro entre ambos não está descartado.

O petista vai à Guiana para a 46ª Cúpula do Mercado Comum e Comunidade do Caribe (Caricom), onde deverá se encontrar com o presidente do país, Irfaan Ali, com quem tratará sobre a situação entre Guiana e Venezuela. Os dois países enfrentam um clima de tensão desde que Maduro ameaçou invadir e anexar à Venezuela a região do Essequibo, que atualmente pertence à Guiana.

Desde a escalada da situação na fronteira, que quase virou um conflito armado no último ano, o Brasil se colocou à disposição para intermediar as negociações entre Caracas e Georgetown.

Lula discute conflito da Venezuela com Guiana sem críticas a Maduro

Com um longo histórico de aproximação com o chavismo venezuelano, o governo brasileiro tem sido cobrado por um posicionamento mais firme sobre as ameaças de Maduro contra a Guiana. O Itamaraty e o Palácio do Planalto, porém, têm adotado discursos amenos para tratar da questão entre os vizinhos e críticas não devem ser feitas nem mesmo durante sua passagem por Georgetown, capital guianense.

"O Brasil não se manifesta a respeito do cerne da questão entre Guiana e Venezuela porque não nos compete. O que nos compete é facilitar o diálogo. A gente defende que a solução da questão, assim como o problema, é bilateral, e defendemos o respeito aos tratados que é a base da nossa Constituição", afirmou embaixadora e secretária de América Latina e Caribe, Gisela Maria Figueiredo Padovan.

Desde a escalada da tensão, o governo brasileiro fez poucos comentários sobre tema. Em uma manifestação pública, Lula disse esperar "bom senso" dos dois países para resolver a situação. Ainda em janeiro, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu os chanceleres de ambos os países para tratarem o impasse. No encontro, as figuras concordaram em chegar a uma solução por meio do "diálogo" e de forma "pacífica".

Irfaan Ali convidou o brasileiro para discursar no evento em seu país com a intenção de abordar temas que são de interesse da Guiana e agenda do G20, grupo das 20 maiores economias que o Brasil preside neste ano.

A Guiana espera um aceno de apoio do petista, que tem evitado fazer comentários que possam estremecer sua relação com Maduro. No encontro, conforme informou o Palácio do Itamaraty, Lula deve reforçar a necessidade da Guiana manter o diálogo com a Venezuela.

Na Celac, Lula pode se encontrar com Maduro para tratar de eleições na Venezuela

Após a agenda que cumpre na Guiana, Lula segue para São Vicente e Granadinas para a Cúpula da Celac. Além de um encontro com o primeiro-ministro do país, Ralph Gonsalves, o petista também poderá se reunir com o Nicolás Maduro. Em um possível encontro com o autocrata, a intenção é discutir a situação eleitoral no país e seu impasse com a Guiana. A presença do ditador venezuelano, porém, ainda não está confirmada.

Aliado de Maduro, Lula fez diversas investidas para reintegrar a Venezuela a discussões e fóruns internacionais. Nos últimos meses, escalou seu assessor para assuntos especiais, Celso Amorim, para negociar com os Estados Unidos o fim dos embargos impostos por Washington a Caracas em troca de eleições justas e democráticas no país.

Maduro, contudo, não tem cumprido sua parte do acordo e tem sofrido pressão internacional para viabilizar o pleito presidencial no país. Em janeiro, o Supremo Tribunal de Justiça venezuelano confirmou a desqualificação por 15 anos da oposicionista María Corina Machado para concorrer contra o autocrata no pleito presidencial que deve ocorrer no segundo semestre deste ano.

Corina ganhou as primárias de seu partido, o Vente Venezuela, em outubro do último ano e desde então se tornou um alvo do regime de Maduro. Nas últimas semanas, o ditador também mandou prender a ativista Rocío San Miguel e decretou a expulsão de membros da Organização das Nações Unidas (ONU) do país.

No primeiro ano deste mandato, Lula atuou em uma "limpeza de imagem" do ditador venezuelano e o Brasil se tornou membro ativo no acordo que prevê eleições no país. No denominado Acordo de Barbados, os Estados Unidos concordaram em aliviar as sanções impostas à Venezuela com a condição que Maduro promova eleições democráticas e seguras no país.

Lula celebrou a assinatura do acordo entre os dois países mas, desde que Maduro passou a quebrar os termos acordados, tem se mantido calado. Nesse contexto, o petista está sendo pressionado a "ser mais duro" com o venezuelano, mas isso não deve acontecer. Para interlocutores do Itamaraty, "manifestações públicas de condenação não são tão produtivas".

"Ficamos mais quietos mas dentro de uma moldura em que nós participamos. Acreditamos que ele [o Acordo de Barbados assinado por EUA e Venezuela] ainda pode ser resgatado e mantido, e possa conduzir ao objetivo desejado que são aos eleições no final do ano", afirmou Gisela Padovan.

Agenda bilateral e Rota das Guianas

Às margens da Cúpula da Caricom, o mandatário brasileiro já tem encontros confirmados com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, que assim como ele disputa holofotes mundiais na pauta de mudança climática, e participa de uma reunião trilateral com Irfaan Ali e o presidente do Suriname, Chan Santokhi. Além da disputa de território, Lula também deve discutir uma agenda bilateral e de investimentos com o presidente da Guiana.

A comitiva que acompanha Lula deve ser grande e, além do chanceler Mauro Vieira, a ministra de Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho e o ministro dos Transportes, Renan Filho, também devem integrá-la. A ideia é discutir e colocar em ação o plano de integração sul-americana, também conhecido como Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Integração.

Durante a viagem, Lula e seus ministros devem discutir a implementação do projeto que integra os países da América do Sul. Uma delas, chamada Rota das Guianas, tem o intuito de conectar o Brasil à Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela.

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