O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca, nesta terça-feira (6), na cidade de Luís Eduardo Magalhães, no interior da Bahia, com o intuito de fazer um aceno ao agronegócio. O petista pretende participar da abertura Bahia Farm Show 2023, maior feira agrícola e de negócios do Norte e Nordeste.
Dentro do Palácio do Planalto, a expectativa entre os petistas é de que Lula use o evento para restabelecer uma ponte com o agronegócio. A avaliação entre os aliados é de que o presidente precisa amenizar as crises com setor, o que pode resultar, inclusive, na ampliação da base governista dentro do Congresso Nacional.
A participação de Lula no evento ocorre depois de um atrito do governo petista com o setor do agronegócio na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), em maio. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, deixou de participar daquela feira.
Na ocasião, o Palácio do Planalto ameaçou retirar o patrocínio do Banco do Brasil do evento, que é a maior feira do setor na América Latina, por causa do convite dos organizadores ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Após esse embate, Lula chegou a afirmar que os organizadores da Agrishow eram "fascistas e negacionistas", o que ampliou a crise do governo com o setor do agronegócio. "Eu quero dizer que eu venho nessa feira [da Bahia] só para fazer inveja nos maus-caracteres de São Paulo que não deixaram o meu ministro participar", disse o presidente ainda em maio.
As falas de Lula ampliaram a crise com o setor e, desde então, integrantes do governo passaram a ampliar os acenos ao agronegócio para tentar ampliar o apoio à gestão petista. Essa busca de aproximação acontece, principalmente, por meio do ministro Carlos Fávaro e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
"Que ele [Lula] aproveite o momento para pacificar a relação com o agronegócio e para condenar as invasões de terra [por parte de MST]. Além disso, seria importante ressaltar o papel do agro no crescimento do PIB. Lula tem uma grande oportunidade de fazer algo no sentido contrário do que vem sendo feito, que aproveite", comentou o deputado federal Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS).
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Governo tenta fazer do evento na Bahia ponte de Lula com o agronegócio
Nos cálculos do governo, as falas de Lula contra o agronegócio refletem, principalmente, em resistências por parte dos parlamentares que integram a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A bancada reúne aproximadamente 250 deputados e senadores.
Na avaliação de integrantes da frente que estiveram recentemente reunidos com Alckmin, é preciso que alas do governo petista abandonem as pautas ideológicas para dialogar com todos os setores, inclusive com o agronegócio. Para esse grupo, não adianta o vice-presidente e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, darem uma sinalização e outros integrantes do PT irem na contramão do diálogo.
Na esteira dessa pressão, Lula aproveitou um discurso na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) para afirmar que deseja o crescimento do agronegócio, e não apenas do segmento industrial.
“Tem gente que fala em crescimento de política industrial, de crescimento industrial, mas relega a um lugar muito secundário o agronegócio, a exportação de commodities. É importante saber que a gente quer que a indústria brasileira cresça, mas a gente (também) quer que a nossa exportação de commodities continue crescendo, a gente quer que o nosso agronegócio continue crescendo”, disse Lula.
Dessa vez, a expectativa é de que o discurso de Lula na Bahia foque, principalmente, no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado na semana passada. De acordo com o estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o PIB cresceu 1,9% durante o primeiro trimestre deste ano no Brasil, puxado pelo desempenho do agronegócio, que registrou alta de 21,6%.
Visita de Lula pode ser marcada por protestos de expositores
Apesar dos esforços do governo, produtores que estarão presentes na Bahia Farm Show não descartam manifestações contra a participação de Lula no evento. A feira ocorre em Luís Eduardo Magalhães, cidade da Bahia onde Bolsonaro derrotou Lula na disputa eleitoral do ano passado.
De acordo com o deputado Capitão Alden (PL-BA), os expositores ameaçam não abrir os seus estandes durante a passagem de Lula pelo evento. "Existe uma proposta de retaliação a presença dele no local. Vários produtores que estão montando seus estandes estão ameaçando não abrir durante a visita do Lula ao local", afirmou o deputado.
Ainda de acordo com ele, que estará presente no evento, a cidade é "majoritariamente conservadora". Para tentar minimizar os impactos de possíveis protesto, a expectativa é de que o evento esteja fechado apenas para a participação de Lula. Com isso, o público externo deverá acessar o espaço apenas após a cerimônia de abertura e da saída do petista.
O deputado federal Rodrigo Valadares (União-SE) avalia que é lamentável que o presidente use o agronegócio como jogo político. "A ida do Lula ao Bahia Farm Show foi no mínimo necessária. É seu dever conhecer o que o agronegócio do nosso Nordeste tem a oferecer e que já está entregando ao Brasil", disse.
"Só lamento que a decisão de ir é meramente revanchista a ida do presidente Bolsonaro à Agrishow, em São Paulo, no início do mês passado, querendo criar uma narrativa de agro do bem e agro do mal", destacou Valadares.
Nesta edição, está confirmado um número recorde de expositores, com 420 empresas representando cerca de 1.400 marcas. Segundo os organizadores, a expectativa é de movimentar mais que os R$ 7,9 bilhões registrados em vendas no ano passado, assim como os mais de 101 mil visitantes.
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