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O empresário José Ricardo Santana, que depõe nesta quinta-feira (26) à CPI da Covid, foi acusado pelos senadores que estão na reunião da comissão de ter atuado como um lobista dentro do Ministério da Saúde. Os parlamentares têm destacado o fato de que Santana pediu demissão, no ano passado, do cargo de diretor da Anvisa e ingressou pouco tempo depois no Ministério - onde trabalhou sem receber salários, segundo ele próprio disse à CPI.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que Santana agiu no Ministério para desvirtuar licitações e privilegiar algumas empresas; entre elas a Precisa, companhia que está na mira da comissão por ter intermediado um contrato entre a pasta e a empresa indiana Bharat Biotech, fabricante da vacina Covaxin.
Ao longo das primeiras horas do depoimento de Santana, senadores exibiram mensagens em texto e áudio coletadas do telefone do depoente e de outras pessoas que indicariam um vínculo entre ele e outros envolvidos em negociações do Ministério da Saúde. Os parlamentares questionaram o fato de Santana dizer, na maior parte dos casos, que não se lembrava da circunstância das trocas de mensagens. "O senhor é especialista na venda de remédios e não consegue um para a sua memória", ironizou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).
A memória de Santana foi também criticada pelo fato de ele não lembrar se, em um jantar que teve em Brasília, o filho "04" do presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan Bolsonaro, estava presente.
Santana foi chamado à CPI por ter sido um dos participantes do "jantar da propina". O encontro ocorreu em fevereiro, em um restaurante em Brasília, e ao longo do jantar teriam sido lançadas as bases de uma negociação para a compra de vacinas que envolveria o pagamento de propina. Além de Santana, quem estava no jantar era Roberto Dias, ex-diretor do Ministério da Saúde, que foi o responsável por levar Santana à pasta.
As primeiras horas da reunião da CPI desta quinta foram marcadas pela ausência da manifestação de senadores que compõem a base do governo de Jair Bolsonaro. Parlamentares sempre presentes à comissão, como Luís Carlos Heinze (PP-RS), Eduardo Girão (Podemos-CE) e Marcos Rogério (DEM-RO) não fizeram declarações públicas ao longo do depoimento. Aziz e outros parlamentares ironizaram a situação; o presidente da comissão, ao elencar as circunstâncias do depoimento desta quinta, utilizou a frase "vai vendo, Brasil", característica de Rogério. O governista Jorginho Mello (PL-SC) usou a palavra por volta de 12h30. Ele também criticou Santana, mas chamou o presidente Bolsonaro de "blindado". Na sua avaliação, a investigação revelou que mecanismos de corrupção não chegaram a ter efetividade.
Gabinete paralelo
Outro ponto que motivou uma manifestação irônica de Omar Aziz foi o que o senador chamou de descoberta de outro "gabinete paralelo" por parte da comissão. O presidente da CPI fez a declaração quando Santana explicou a sua relação com a médica Nise Yamaguchi. O empresário foi questionado a respeito por conta de mensagens de seu celular que indicaram a realização de encontros entre ele e a médica.
Santana falou à comissão que tem um vínculo "superficial" com a médica e que se reuniu com ela para discutir a elaboração de um plano de recuperação econômica para o país. Aziz e outros senadores não aceitaram a explicação. O presidente da CPI destacou que nem Santana e nem Yamaguchi têm formação econômica e, por isso, não faria sentido uma reunião sobre o tema. Os parlamentares também questionaram o fato de Santana não saber explicar a continuidade da situação - se o plano foi concluído, se foi levado ao presidente Bolsonaro ou se foi abortado.
Para Renan Calheiros, Santana queria comercializar testes de Covid-19 com o governo federal, e por isso se aproximou de Yamaguchi. A médica é uma das principais defensoras do "tratamento precoce" contra a Covid-19 e tem proximidade com o presidente Jair Bolsonaro.
Dono da Vitamedic entra na lista de investigados
Antes do depoimento de Santana, o relator da CPI anunciou que incluirá o empresário José Alves na lista de investigados pela comissão. Alves é proprietário da Vitamedic, farmacêutica que produz o medicamento ivermectina. A substância é utilizada no tratamento precoce contra a Covid-19. No ano passado, a Vitamedic registrou um aumento de 29 vezes nas vendas da ivermectina, na comparação com 2019. Um diretor da empresa, Jailton Batista, já depôs à CPI, e disse que a companhia não tem responsabilidade pela adesão de setores ao tratamento precoce.