O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, não fez críticas públicas e adotou um tom ameno ao comentar sua convocação pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil na semana passada.
A conversa do israelense com autoridades brasileiras ocorreu após Zonshine censurar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a partidos de esquerda, por não classificarem o Hamas como grupo terrorista em suas primeiras declarações sobre a guerra em Israel.
A convocação de um embaixador para uma conversa por um governo local é vista, no campo diplomático, como uma “chamada de atenção” ou um “puxão de orelha”
Questionado sobre a reunião no Itamaraty, Zonshine se limitou a dizer que foi uma conversa aberta e amigável, sem mencionar seu conteúdo. “Isso é uma coisa entre governos, entre ministérios exteriores e embaixada. Isso não é uma informação pública”, disse em entrevista à Gazeta do Povo.
Após a conversa, Lula também mudou de tom admitindo que o Hamas cometeu atos terroristas. Em pronunciamento durante evento oficial, o presidente Lula chegou a mencionar o Hamas e classificou seus atos como terrorismo. No entanto, também chamou a reação de Israel de “insana” e afirmou que a guerra é um "genocídio".
A mudança se refletiu inclusive em uma proposta de resolução submetida pelo Brasil ao Conselho de Segurança da ONU, que chamou o Hamas de terrosita mas acabou não sendo aprovada por oposição dos Estados Unidos.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o embaixador também preferiu não comentar o pronunciamento de Lula e se limitou a falar sobre a preocupação com os reféns israelenses que estão sob o poder do Hamas na Faixa de Gaza desde o ataque que deu início à guerra em 7 de outubro.
“Para nós, é importante liberar todos os reféns israelenses que estão lá [na Faixa de Gaza]. É importante também, parar com esta ‘barragem’ de foguetes e mísseis que ainda continua sobre cidadãos israelenses, e que quase ninguém está falando sobre isso”, declarou o embaixador de Israel no Brasil.
Tom ameno após convocação indica rumos da relação entre Brasil e Israel
Em relações internacionais, a convocação de embaixadores para conversas como a de Zonshine no Itamaraty podem indicar um ruído na comunicação entre os países. Ações mais extremas após a convocação podem levar ao fechamento da embaixada do país. Embora seja esse o entendimento de modo geral, analistas acreditam que este não seja o caminho a ser seguido pela diplomacia brasileira.
Nesta semana, a diplomacia israelense exigiu a renúncia do secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, por entender que ele havia relativizado a guerra de Israel contra o Hamas em um de seus discursos.
Já no Brasil o tom ameno adotado após a convocação, indica que não devemos ver atitudes extremas sendo tomadas, segundo o cientista político e coordenador de Relações Internacionais do Ibmec de Belo Horizonte, Adriano Gianturco. “A convocação do embaixador já é uma das etapas mais duras. Depois disso, eventualmente, o que pode acontecer, é fechar as sedes diplomáticas, embaixadas, e pedir para os embaixadores saírem, mas estamos longe de ver isso”, afirmou Gianturco.
No contexto atual, é importante lembrar de um fato ocorrido em 2014, nas relações entre Brasil e Israel. Logo após um ataque do Hamas que sequestrou e matou três adolescentes, o Brasil condenou Israel por “uso desproporcional da força” contra a Faixa de Gaza. Na época, o então chanceler do Brasil, Luís Alberto Figueiredo, decidiu chamar para consultas o embaixador brasileiro em Tel-Aviv, o que também é considerado um ato hostil na diplomacia. Como resposta, o chanceler israelense criticou o ato do Brasil afirmando que o país era uma "potência econômica", mas um “anão diplomático”.
Neste sentido, de forma velada, o embaixador Zonshine externou apenas ser difícil falar sobre proporcionalidade nas reações de Israel contra as práticas terroristas do Hamas. “Sabe que as vezes as pessoas falam conosco sobre proporcionalidade, e coisas assim. Então, é bem difícil falar sobre proporcionalidade quando no outro lado tem uma organização terrorista que ataca civis, mata crianças, bebês e estupra mulheres. Então, não sei qual é a ação proporcional neste tipo de situação” disse.
Antes da convocação, Zonshine criticou posição do governo brasileiro
Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, no dia 13 de outubro, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, disse que achava “estranho” como o governo brasileiro vinha lidando com os discursos antissemitas e pró-Hamas. "Nós pensamos que matar crianças, bebês, mulheres, decapitar, estuprar, além de atacar civis em suas casas e queimar tudo, é terrorismo. O governo brasileiro não pensa assim. Pelo menos pelas palavras que usaram", afirmou Zonshine.
O Ministério das Relações Exteriores e o presidente Lula classificaram os assassinatos de civis em Israel como terrorismo quando os ataques começaram. Mas, até a fala de Lula, no dia 20, o governo brasileiro em nenhum momento havia mencionado o Hamas, responsável pelos atentados, como uma organização terrorista. O argumento usado foi que a definição não é adotada pelo Conselho de Segurança da ONU.
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