A CPI da Covid do Senado deve transformar o empresário Marcos Tolentino em seu principal foco de investigações. Tolentino é amigo do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e apontado como “sócio oculto” da FIB Bank, a empresa que atuou como garantidora do contrato entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos para a compra de vacinas. Ele prestará depoimento à comissão na próxima quarta-feira (1º).
O nome de Tolentino é citado pela CPI há tempos e o pedido de sua convocação foi apresentado ainda em 30 de julho pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sendo aprovado em 3 de agosto pelo colegiado. Porém, o foco no empresário se fortaleceu após o depoimento da quarta-feira (25), quando a CPI recebeu Roberto Pereira Ramos Júnior, presidente do FIB Bank.
A avaliação de senadores que participaram da oitiva com Ramos é a de que ele não é o verdadeiro comandante do FIB Bank e que, em seu depoimento à CPI, buscou proteger outras pessoas. Parlamentares como Eliziane Gama (Cidadania-MA), Rogério Carvalho (PT-SE) e Leila Barros (Cidadania-DF) utilizaram expressões como “laranja” e “testa de ferro” para se referir a Ramos.
A desconfiança dos senadores se deu pelo fato de Ramos mostrar desconhecimento sobre atividades da empresa que preside, como informações de terrenos que compõem o patrimônio do FIB Bank e parceiros de negócios da companhia. Ele, por exemplo, disse não conhecer Francisco Maximiano, o proprietário da Precisa — apesar de as duas empresas terem firmado um contrato milionário.
Outros elementos que reforçam a conexão entre Tolentino e o FIB Bank, e que na avaliação dos senadores não foram esclarecidos por Ramos, são o fato de empresas de Tolentino terem o mesmo endereço de outras empresas acionistas do FIB Bank.
A atuação do FIB Bank como garantidora no contrato para a compra de vacinas foi muito contestada pelos senadores. Segundo eles, a empresa não tem a solidez necessária para o processo. Os parlamentares destacaram inconsistências como o valor bilionário (R$ 7,8 bilhões) que a companhia declara ter de capital social, algo incompatível com uma instituição do porte do FIB Bank.
Depoimento do dia deixa governistas e oposição na bronca
As contestações ao FIB Bank uniram senadores aliados e adversários do presidente Jair Bolsonaro. Os dois grupos se revezaram nas críticas a Roberto Ramos. É possível também que a “sintonia” se repita quando Tolentino seja ouvido pela CPI, na próxima semana.
“O FIB Bank tem todos os requisitos de uma empresa de fachada", declarou o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO). Ele citou que a empresa tem contratos com outros segmentos do poder público, como estados e municípios, e disse esperar que a CPI avance também sobre estas negociações.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) ressaltou que toda a documentação sugere que Tolentino é o proprietário real do FIB Bank. “As duas empresas que compõem o FIB Bank, uma tem o mesmo endereço do escritório do Tolentino. A outra é de um dono, de um sócio, que é amigo e sócio do Tolentino. Então parece um triângulo. Mas isso, essa exposição, vai ficar esclarecida na próxima audiência, quando o Marcos Tolentino vier", disse.
A discordância entre governistas e oposicionistas se dá em relação ao conhecimento de integrantes do governo federal nas negociações empreendidas por FIB Bank, Precisa e as outras companhias conectadas ao episódio. Tebet e os demais que integram a oposição a Bolsonaro apontam que as empresas tiveram facilidade de se apresentar ao do governo e que isso indica conivência — ou participação — de membros do primeiro escalão no caso. Eles também consideram que a CPI foi a responsável por inibir o avanço de outras negociações com o mesmo perfil.
Os governistas, por outro lado, ressaltam que os contratos sob análise da CPI não chegaram a ser efetivados e nenhuma despesa foi efetuada, e atribuem isso a mecanismos de controle do próprio governo. “A oposição fez um grande carnaval em cima disso. Mas a realidade é que o governo poderia ter sido vítima", declarou Rogério.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF