Apesar de não haver uma organização formal, um movimento que nasceu nas redes sociais está conseguindo articular uma série de atos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) para este domingo (26). Se inicialmente não havia um consenso sobre a pauta – e muito especulou-se sobre as bandeiras que seriam levantadas e quem as apoiaria – o consenso em relação a alguns temas trouxe unidade para o movimento. O resultado foi que começaram a pipocar confirmações de mobilizações por todo o Brasil. Só o tamanho da adesão às mobilizações vai poder determinar se os atos em apoio a Boslonaro irão de fato fortalece-lo, mas é certo que serão uma marca da gestão presidencial.
A Gazeta do Povo separou sete pontos que você precisa saber para entender as manifestações.
Manifestação por quê?
Os atos em apoio a Jair Bolsonaro começaram a ser articulados na internet quase que simultaneamente aos protestos contra os cortes na educação, realizados no dia 15 de maio. A ideia dessa mobilização seria demonstrar apoio ao presidente. Inicialmente, alguns grupos de apoiadores chegaram a levantar pautas polêmicas, como pedir o fechamento do Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF), mas esses pontos perderam espaço dentro do movimento.
No fim das contas, os apoiadores do presidente fecharam a pauta dos atos de domingo em torno de questões que conquistam adesão de mais grupos. Os atos, além de manifestar o apoio ao presidente, vão defender as reformas da Previdência e administrativa (a redução de ministérios proposta por Bolsonaro via Medida Provisória será votada na próxima semana), manifestar apoio ao pacote anticrime, ao ministro Sergio Moro (que perdeu o Coaf para o ministério da Economia) e à operação Lava Jato.
O ministro Moro é um caso à parte: a saída do Coaf de seu ministério deu mais força para articuladores do ato, que se revoltaram com a medida. Eles acreditam que isso deu mais “gás” à mobilização e aumentou a adesão.
Por outro lado, também há um repúdio aos políticos, especialmente os do Centrão – bloco informal de partidos que concentram um grande número de cadeiras no parlamento. É sabido que a relação entre Bolsonaro e os parlamentares não é boa – há muita dificuldade na articulação política entre Executivo e Legislativo. Essa manifestação seria uma forma de pressionar os políticos a agirem de acordo com a cartilha do presidente.
Os alvos do protesto
Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro escolheram como alvo das mobilizações a Câmara dos Deputados, o Senado e o Supremo Tribunal Federal (STF). É pelo WhatsApp, principalmente, que circulam a maior parte das peças com críticas a esses atores. Por lá, já foi divulgado uma montagem que sugere que Bolsonaro não teria escolha a não ser fechar o Congresso e o Supremo. Também são feitas críticas pontuais aos parlamentares e ministros, especialmente os presidentes das casas – Rodrigo Maia (DEM-RJ), Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Dias Toffoli. As peças tanto promovem ataques pontuais contra cada um deles – Maia é constantemente chamado de “Nhonho”, uma referência a um personagem do seriado mexicano Chaves – e buscam desmoralizar as instituições.
No Brasil e no mundo
A prova de fogo será tirar essas mobilizações do ambiente virtual e vê-las tomar as ruas. A expectativa de grupos de apoiadores do presidente é de que sejam realizados atos em mais de 350 cidades, no Brasil e no exterior. A Gazeta do Povo conseguiu verificar que há intenção de se realizarem atos em pelo menos 320 cidades, sendo 12 fora do país. Aqui está uma lista com a agenda das manifestações.
Organização informal
Não existe uma organização formal e centralizada dos atos de domingo. O que se sabe é que há grupos dissidentes daqueles que organizaram os atos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) que estão na linha de frente da organização. A eles, se unem apoiadores individuais e uma rede de influenciadores digitais, alinhadas com o clã Bolsonaro e com o núcleo ideológico do governo. Essa estrutura se articula sobretudo por meio do WhatsApp, e já atuou ao longo da campanha presidencial.
A Gazeta do Povo identificou ao menos 59 grupos que divulgaram os atos pró-Bolsonaro entre os dias 16 e 20 de maio. Os principais são Avança Brasil, Consciência Patriótica, Direita São Paulo, Movimento Brasil Conservador e até a Confederação Monárquica do Rio. Pelo WhatsApp, a movimentação começou no dia 16 de maio, com a primeira convocação para os atos.
Quem apoia as manifestações...
Além dos grupos que organizam as manifestações, há outros que decidiram endossar os atos de domingo. Antes reticente por causa da pauta mais radical, o Instituto Brasil 200 – movimento de empresários liderado por Flávio Rocha, dono da varejista Riachuelo – decidiu apoiar publicamente a mobilização. O grupo de empresários ainda reúne nomes simpáticos ao governo como Luciano Hang (dono da Havan) e João Appolinário (Polishop).
O Clube Militar também convocou seus sócios a participarem dos atos – são 38 mil associados das Forças Armadas, tanto da reserva quanto da ativa. A instituição, fundada em 1887, nasceu como entidade privada e com viés político para depois se tornar social. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, já comandou o clube em 2018, antes de assumir sua candidatura.
Além deles, os caminhoneiros já anunciaram que devem engrossar o movimento. Mas é essa a categoria que faz as convocações mais exaltadas: prometem cercar o Congresso e fazer “tumulto do Oiapoque ao Chuí”.
... e quem se afastou dos atos
Apesar de todo esse apoio, os dois principais grupos anti-Dilma de 2015 se afastaram do ato pró-Bolsonaro. O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua decidiram não endossar as manifestações de domingo e também se tornaram alvo dos apoiadores. Os grupos concordam com parte das pautas, como a reforma da Previdência. Mas discordam de temas mais polêmicos, como os fechamentos do Congresso e STF. No WhatsApp, várias peças questionando o MBL foram distribuídas ao longo da semana – várias decretavam a morte do movimento. Vale lembrar que uma das principais lideranças surgidas no MBL é o atual deputado federal Kim Kataguiri, eleito pelo Democratas de São Paulo. O partido é o mesmo de Rodrigo Maia e uma das siglas mais fortes no Centrão. O parlamentar chegou a ser alvo de ataques por não corroborar com os atos.
Racha na base?
A participação de políticos e da própria família Bolsonaro dividiu a base de aliados ao presidente Jair Bolsonaro. Dentro do próprio PSL, os atos não são vistos com consenso. O presidente da sigla, o deputado Luciano Bivar, a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, e a deputada estadual Janaína Paschoal, por exemplo, se posicionaram contra os atos. A avaliação é de que as manifestações podem se tornar um tiro no pé do governo. Ainda assim, outra ala do partido, mais ideológica e ligada ao clã, apoia incondicionalmente a realização das manifestações. Parte da direita também não está convencida sobre a mobilização. Já integrantes da Oposição ainda estão oscilando entre o desprezo, no sentido de não acreditaram na capacidade de articulação dos apoiadores, e o temor pelas ideias radicais que podem vir a ser defendidas.