A entidade de direitos humanos Human Rights Watch para as Américas criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por não adotar um tom mais duro contra o ditador venezuelano Nicolás Maduro após a Justiça do país determinar a prisão do oposicionista Edmundo González, candidato que disputou a eleição com fortes indícios de fraude.
A crítica se deu principalmente por conta do tom adotado por Lula junto do presidente colombiano Gustavo Petro de apenas afirmarem que a prisão “dificulta a busca por solução pacífica, com base no diálogo entre as principais forças políticas venezuelanas”.
Para a entidade, os dois países e também o México – que chegou a formar uma aliança com Brasil e Colômbia para cobrar as atas de votação da eleição venezuelana, mas depois preferiu não se manifestar mais – deveriam adotar o mesmo tom de outros 12 países do continente que rejeitaram “de maneira inequívoca” a ordem de prisão de González.
Juanita Goebertus, diretora da Human Rights Watch para as Américas, afirmou que tanto Lula como Petro e López Obrador, do México, deveriam condicionar a continuidade de eventuais acordos com a Venezuela à anulação da medida judicial.
“O ponto mínimo de entrada para qualquer negociação deveria ser a revogação dessa ordem”, disse nas redes sociais. Ela amenizou a crítica depois, afirmando que a manifestação conjunta de Brasil e Colômbia pelo menos expressa um “descontentamento desses países”, segundo afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo.
Na semana passada, a própria entidade também criticou as propostas de Lula, Petro e Obrador para que uma nova eleição fosse realizada na Venezuela. Ela afirmou que o pleito foi marcado por “graves irregularidades e violações de direitos humanos”.
A diretora reforçou a crítica após a ordem de prisão contra González, e disse que “uma coisa é pedir um mecanismo imparcial para poder avaliar e dar credibilidade ou não às diferentes atas que se apresentaram”.
“Pensar em repetir as eleições é desconhecer o direito mais básico em uma democracia, que é poder escolher e ser escolhido e ter seu voto contado”, afirmou.
Juanita Goebertus ainda elogiou o tom mais duro adotado pelo Chile de não reconhecer a reeleição de Maduro e de condenar a ameaça contra Edmundo González, mas considerou aceitável de certa forma a posição de mediação do Brasil. Para ela, é preciso que haja uma organização no continente para um processo de transição para a democracia.
“Mas todas devem estar embasadas em princípios de direitos humanos e Estado de Direito. O que a história da América Latina nos mostra é que, com uma boa capacidade de organização da sociedade civil para resistir e com rupturas dentro das elites, nas Forças Armadas e no setor privado, esse tipo de processo de transição ocorre”, completou.
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