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Economia

“Não se imaginava tanta dificuldade com as reformas”, diz presidente do Ipea

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger, durante o seminário Desafios para a Previdência e a Proteção Social no Brasil. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Integrante do grupo inicial de economistas que se reuniu em torno do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, para elaborar o plano econômico do candidato Jair Bolsonaro, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger, defende a agenda de reformas proposta pela equipe. Mas reconhece que não se imaginava que haveria tanta dificuldade para aprová-las no Congresso Nacional. O resultado dessas dificuldades é que a recuperação da economia será mais lenta. Assim, o cenário de estagnação está mantido – a economia não crescerá mais de 1% este ano, prevê Doellinger. Para sair da paralisia, o caminho é insistir nas reformas, começando pela Previdência e seguindo com a do Orçamento (chamada por Guedes de "pacto federativo"), a tributária, a patrimonial (privatização e venda de ativos do governo), a redução da burocracia e a abertura comercial. Medidas como a liberação de contas inativas do FGTS são "paliativas", afirmou Doellinger, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, na sede do Ipea no Rio. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O que surpreendeu a equipe que elaborou o programa econômico ao chegar ao governo?

O que não se imaginava é que ia ter tanta dificuldade para aprovar [as reformas]. Talvez nós, um tanto ingenuamente, achássemos que, ao se expor o quadro que surgia, haveria uma maior disposição [de apoiar as reformas], mas as dificuldades estão sendo maiores do que se imaginava.

Isso vale para o Congresso Nacional ou há dificuldade de apoio na sociedade também?

Para o parlamento, porque uma coisa surpreendente foi encontrar manifestações do tamanho das que houve nas ruas [no último domingo, dia 26], equivalentes ou até maiores que as dos estudantes, para apoiar a reforma da Previdência, que tira direitos e vai atingir as pessoas. As pessoas estão conscientes. A oposição está contra, mas, de um modo geral, há uma conscientização.

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Não tem erro na articulação política?

Pode ser. Ninguém lá [no grupo de economistas] era político. O grupo acabou sendo forçado a dar uma de aprendiz de feiticeiro, entrar na política, como o ministro está entrando cada vez mais, mas não é nossa especialidade. Somos técnicos, economistas. No caso do ministro, nunca tinha tido experiência de governo até então. É um homem do setor privado. Sinceramente, acho que houve subestimação dos custos políticos, das resistências políticas. Muitas vezes, as pessoas criam obstáculos. Aí as pessoas ficam procurando maneiras de dizer que não vai dar certo. Não ajuda. Você está numa situação de um buraco negro ali e fica tergiversando. Sinceramente, eu custo a entender isso.

Diante dessa resistência às reformas, a estagnação da economia era esperada?

Havia uma expectativa um pouco melhor. No fim do ano, talvez um pouco por causa daquela euforia da mudança [de governo], parecia que haveria uma retomada mais rápida. Agora, na verdade, a gente viu que não havia razões objetivas para isso, era mais uma expectativa. Então a realidade se impôs, estamos aí nessa situação, já vimos os números do primeiro trimestre, a tendência é de estagnação. A coisa pode melhorar um pouco, mas por fatores mais episódicos, conjunturais. O crescimento pode chegar no máximo em 1%. Não sei nem se vai chegar a isso. Ficará entre 0,5% e 1%, ou seja, uma quase estagnação.

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O ministro Paulo Guedes já falou em medidas de curto prazo, como liberação do FGTS. Isso não traz à memória os estímulos criados pelos governos do PT?

Tem um risco de ser esse tipo de coisa: procurar atalhos e esquecer do principal. Um voo de galinha. Isso é o risco que se tem. As medidas são paliativos. É como se você estivesse sofrendo e vai ter de fazer um tratamento e toma uns anestésicos, uns analgésicos, para diminuir a dor. Agora, não pode ficar só na anestesia e não fazer a cirurgia. O [ex-ministro da Fazenda Mário Henrique] Simonsen que dizia isso, quando fizeram o Plano Cruzado.

É hora de o Banco Central cortar os juros?

O Banco Central tem por obrigação ser conservador mesmo, ser ortodoxo. O presidente do BC acha que ainda é prematuro. Ele prefere ver algum resultado mais concreto na parte fiscal. Não há uma coisa conclusiva, é muito de avaliação subjetiva. Eu, pessoalmente, acho que pode, como já está prometido, dar um alívio nos depósitos compulsórios. Alguns economistas defendem que se mudem as regras fiscais (meta fiscal, regra de ouro e teto de gastos) para ampliar os investimentos públicos.

Daria certo?

Na minha opinião pessoal, seria um desastre absoluto, um retrocesso impensável.

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