Ernesto Araújo| Foto: Gustavo Magalhães/MRE
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O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, colocou o cargo à disposição do presidente Jair Bolsonaro na manhã desta segunda-feira (29) e acabou precipitando uma reforma ministerial no governo. Ao longo da tarde, as informações vindas do Palácio do Planalto deram conta de uma dança das cadeiras na Esplanada.

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O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, anunciou sua saída do cargo em nota oficial. O general Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil, passou a ser cotado para ocupar a vaga de Azevedo e Silva. Outro general, Luiz Eduardo Ramos, pode deixar a Secretaria de Governo e assumir a Casa Civil. Ao mesmo tempo, os comandantes das três Forças Armadas cogitam colocar os cargos à disposição.

Em outra ponta da reforma ministerial, o advogado-geral da União, José Levi, anunciou que estava entregando o cargo. Para o lugar dele, Bolsonaro cogita retirar André Mendonça do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Para a Justiça, Bolsonaro estuda nomear o delegado federal Anderson Torres, atual secretário de Segurança do Distrito Federal. Já a vaga na Secretaria de Governo seria ocupada por um político ligado ao Centrão.

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Demissão de Araújo é iminente, mas ainda não oficial

Nas Relações Exteriores, a saída de Ernesto Araújo é dada como certa após forte pressão do Senado Federal e de partidos do Centrão, que formam a base de sustentação de Bolsonaro no Congresso.

As informações foram confirmadas pela Gazeta do Povo com fontes no Palácio do Planalto. A demissão não foi oficializada pelo governo, nem foi confirmada por fontes do Itamaraty. Caso deixe o cargo, Araújo será o 13º ministro demitido durante a gestão Bolsonaro.

A pressão sobre Araújo dura meses, mas ganhou ainda mais força nas últimas semanas por causa do avanço do número de mortes na segunda onda da pandemia de Covid-19. Depois do general Eduardo Pazuello ter sido demitido no Ministério da Saúde, o chanceler teve sua "cabeça" colocada a prêmio pelo Centrão.

O argumento usado por políticos é de que o embaixador não teve desempenho adequado para conduzir negociações internacionais para a aquisição de insumos e vacinas contra a Covid-19. Lideranças do Centrão destacavam que Araújo não tinha interlocução com a China, grande produtora de insumos para os imunizantes, e apresentava dificuldades para um bom relacionamento com o governo de Joe Biden nos Estados Unidos, país do qual o Brasil pretende comprar o estoque excedente de vacinas. O ministro chegou a criticar a China e, na eleição americana, demonstrou clara simpatia pela vitória de Donald Trump.

A situação de Ernesto se tornou mais difícil no domingo (28), quando ele sugeriu que, na verdade, a pressão pela sua demissão não ocorreu devido à compra de imunizantes, mas sim por causa de um suposto lobby em favor da China para o leilão da tecnologia do 5G. O ex-ministro ligou, por meio de postagem no Twitter, a senadora Katia Abreu (PP-TO) a esse suposto lobby. Kátia Abreu é presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado e se encontrou no dia 4 com Ernesto Araújo.

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Na postagem, o então ministro afirmou que, no encontro, "pouco ou nada" se falou sobre vacinas. E que, ao final, a senadora teria pedido ao ministro um "gesto em relação ao 5G".

Kátia Abreu reagiu. "É uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade. Em um encontro institucional, todo o conteúdo é público", afirmou.

Por causa do incidente com Kátia Abreu, senadores anunciaram que iam entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de impeachment de Ernesto Araújo por crimes de responsabilidade. Além disso, o Senado ameaçava não votar nenhuma indicação do governo para as embaixadas brasileiras no exterior (os embaixadores escolhidos pelo Itamaraty só podem ocupar o cargo após o aval dos senadores).

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De aliados a opositores: como Ernesto Araújo desagradou o Senado

O comentário feito por Araújo ganhou rápida repercussão e até mesmo parlamentares da base de Bolsonaro condenaram o que consideraram um ataque ao Senado.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), foi um dos que se posicionou contra o chanceler. Para ele, a "tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado". Na semana passada, Pacheco já havia cobrado publicamente a necessidade de o governo mudar sua política externa – num recado claro de que o Congresso esperava a demissão do ministro.

Ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), aliado de Bolsonaro, seguiu a mesma linha. "A insinuação irresponsável por parte de um ministro não é somente um desrespeito ao Senado. É um ato contra todos que constroem a longa e honrosa tradição da diplomacia brasileira", declarou Alcolumbre, também pelo Twitter.

Outro aliado do governo, o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), líder do partido no Senado, rechaçou o comentário de Araújo. "O ministro tem passado dos limites, pois vem comprometendo as relações internacionais do Brasil com outros países parceiros. Agora, ultrapassa ainda mais os limites com o Senado. Em meu entendimento, ele é um brincante!", disparou.

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A oposição ao governo também criticou Araújo. "O Ministério das Relações Exteriores não abriga um ministro, está ocupado por um expoente da estupidez", disse o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). "O ministro mostra sua inadequação à carreira que supostamente escolheu: não constrói, destrói. Conseguiu a proeza de ofender até a ala do Senado que ainda o tolerava", disse.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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