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A vitória do empresário Donald Trump nos Estados Unidos com uma ampla vantagem sobre a opositora Kamala Harris na madrugada desta quarta (6) foi lamentada pela esquerda brasileira, enquanto que políticos da direita comemoraram e já projetam a volta de Jair Bolsonaro (PL) ao poder em 2026.
Trump foi eleito com uma inesperada folga sobre Kamala Harris, com 277 votos dos delegados contra 224 da opositora. Os institutos de pesquisa projetavam uma disputa apertada, o que não se concretizou.
Um pouco mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou um tom mais pragmático e desejou "sorte e sucesso" ao novo governo. A fala contraria o discurso da semana passada em que sinalizou que Trump significaria a volta do fascismo e nazismo.
O ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) foi incisivo na crítica e disse que a eleição de Trump sinaliza “tempos difíceis para a humanidade”.
“A mais rica nação do mundo elegeu um presidente que cultiva os piores valores humanos. Nega as mudanças climáticas e a ciência e apoia a extrema direita no mundo. Tempos difíceis para a humanidade”, disparou.
Na mesma toada comentou o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), que afirmou que "com a vitória de Trump quem perde não é só a Kamala, mas a democracia, o meio ambiente e o clima que são constantemente ameaçados pela extrema direita".
O lamento da esquerda se estendeu a outros parlamentares, como a deputada federal Ana Pimentel (PT-MG), que classificou a vitória de Trump como um “péssimo sinal para a democracia, para a paz e para a sustentabilidade da vida no planeta”.
“A não punição de Trump pela tentativa de golpe, com a invasão do Capitólio em 2019, deixou-lhe à vontade para dobrar a aposta da mentira, do negacionismo e da violência contra as populações marginalizadas pelo neoliberalismo”, disse emendando que “é um alerta para as forças democráticas brasileiras e do mundo”.
Juliana Cardoso (PT-SP) seguiu no mesmo tom da colega e afirmou que os quatro processos a que Trump responde devem ser arquivados, inclusive o referente à invasão do Capitólio.
“A vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos é um fato que reconhecemos, e que faz parte do jogo democrático. Contudo, é fundamental que fiquemos atentos ao cenário político mundial, pois estaremos sempre em defesa dos direitos humanos e da democracia”, emendou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
O vice-líder do governo Lula no Congresso, Elvino Bohn Gass (PT-RS), foi mais incisivo e mirou a crítica diretamente ao senador Sergio Moro (União-PR), afirmando que ele “saúda a ‘virada à direita’ nos EUA. “Ele sempre foi de direita e não haveria problema algum se, quando atuou como juiz, não houvesse corrompido o devido processo legal e colocado suas preferências ideológicas acima da Justiça”, pontuou.
"A vitória de Trump é um ataque aos direitos dos trabalhadores, mulheres, negros, imigrantes, ao meio ambiente e aos povos do mundo todo. Que as contradições que se concentram nos EUA derivem em lutas sociais e no enfrentamento à extrema direita, isso será determinante para as lutas em todo o planeta", disparou a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Carlos Zarattini (PT-SP), vice-líder do governo no Congresso, afirmou que a vitória de Trump "é um alerta de como o poder econômico está dominando as eleições". "Isso impacta na democracia e na livre decisão do eleitor. A democracia americana passará por estresse diante da vitória da extrema direita! O fato é que perde a democracia mundial", emendou.
A colega Ana Paula Lima (PT-SC) seguiu na mesma linha e afirmou que "a ascensão da extrema direita ameaça tudo isso e reforça a urgência de defendermos a democracia". A opinião é semelhante à da própria presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PT-PR), que disse que a "extrema direita se assanha" no Brasil com a vitória de Trump.
"A vitória da extrema direita nos EUA, mesmo dentro de um processo eleitoral, segue representando uma ameaça à todos os povos, à democracia e aos direitos humanos. É mais do que um alerta para o Brasil e impõe o aprofundamento da disputa por valores democráticos", emendou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) afirmando que é preciso pensar desde já na "batalha de 2026".
Já o ex-número 2 do Ministério da Justiça e Segurança Pública durante a gestão de Flávio Dino, Ricardo Cappelli, afirmou que há “sinais”, em referência a uma análise de um canal de TV norte-americano sobre a diferença dos discursos de Trump e Kamala.
“Um analista na NBC News sobre o desempenho abaixo do esperado de Kamala Harris entre latinos: ‘A campanha de Trump tratou latinos como trabalhadores. A de Harris, como grupo identitário’. Sinais”, pontuou.
Por outro lado, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, seguiu o pragmatismo de Lula e afirmou que "a democracia é o regime político de expressão da vontade da maioria e não da realização de desejos ou vontades individuais". "Tal qual o presidente Lula, desejo sucesso ao presidente Donald Trump e, sobretudo, a manutenção de diálogo e trabalho conjunto entre Brasil e Estados Unidos", completou.
"Parabenizo o presidente eleito dos EUA e desejo a ele sorte em seu novo governo. Que seja norteado pelo respeito à democracia, às diferenças e ao diálogo como caminho para enfrentar os desafios futuros", emendou o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado.
Na tarde de terça (5), o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) afirmou que a vitória de Trump – ainda tratando como “eventual” – não traria impacto para o governo Lula. Para ele, “se o Trump quiser fazer algum tipo de retaliação, sinceramente, quem está perdendo é ele, que vai estar perdendo um parceiro importante, que é o Brasil”.
Na semana passada, Lula declarou apoio a Kamala Harris e sinalizou que a vitória de Trump significaria a volta do “fascismo e nazismo com outra cara”.
“Nós vimos o que foi o presidente Trump no final do mandato, fazendo aquele ataque contra o Capitólio, uma coisa impensável de acontecer nos EUA, que se apresentava ao mundo como modelo de democracia”, disse em entrevista ao canal francês TF1.
Em julho, quando Joe Biden decidiu não concorrer à reeleição e anunciou Kamala como sua sucessora, Lula considerou a decisão pessoal e mencionou que o Brasil manterá relações com quem for o próximo presidente dos EUA. Ainda assim, ele afirmou que torce para uma vitória da democrata como uma forma de manter a estabilidade democrática nos Estados Unidos.
Lula tem evitado comentar explicitamente sobre eleições de outros países, mas Trump é um alvo constante de críticas. “Eu não posso dar palpite sobre as eleições de outros países, porque seria uma ingerência indevida minha”, disse se contrariando.