Enquanto o Luciano Huck e Sergio Moro tentam se unir por uma candidatura de centro para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2022, a esquerda segue fragmentada e sem acordo sobre quem poderia ser o nome desse campo ideológico para a disputa pelo Planalto.
Nesta semana, quando veio a público um encontro entre o apresentador de TV Luciano Huck e o ex-juiz Sergio Moro para discutir uma possível aliança de centro, líderes da esquerda rechaçaram os dois nomes. Mas, apesar do apelo de algumas figuras de oposição a Bolsonaro para que haja uma frente única da esquerda, não há consenso sobre união em 2022.
O PT vive o impasse de nem saber quem vai ser seu candidato em 2022. O partido insiste no nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, pelo menos por enquanto, está inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Ciro Gomes (PDT) não abre mão de tentar disputar mais uma vez. O PCdoB, tradicional satélite do PT, fala em lançar o governador do Maranhão, Flávio Dino. E o PSol também não parece disposto a se unir ao PT.
Qual é a situação do PT
No dia 7 de setembro, Lula disse estar “à disposição” para combater o bolsonarismo – o que foi entendido como um lançamento extra-oficial de sua candidatura.
Mas petista está condenado em segunda instância em dois processos da Lava Jato – o que o torna inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa. Apesar disso, o PT tem a expectativa de que as condenações contra Lula sejam anuladas após o julgamento da suspeição de Moro como juiz da Lava Jato. O Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não agendou esse caso.
O fato é que os petistas estão se movimentando para tentar ficar em evidência até 2022. Dias depois de Lula se colocar "à disposição" do país, o PT lançou o “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil”, que lista uma série de ações que o partido considera essenciais para o país no curto, médio e longo prazo.
O partido usou o documento para fortalecer o desempenho de seus candidatos já na eleição deste ano. Os candidatos petistas em 2020 também foram orientados a criticar o governo Bolsonaro. E Lula tem feito aparições nas programas eleitorais.
Paralelamente, o PT não descarta a ideia de agregar em torno de si próprio outros partidos de esquerda para as eleições de 2022. Na quinta-feira (12), em live juntamente com Benedita da Silva, candidata do PT à prefeitura do Rio de Janeiro, Lula admitiu que os petistas poderiam apoiar um candidato de outro partido em 2022. Mas impôs uma "barreira" para que isso ocorra.
"[A eleição de] 2022 já tem vários candidatos. Mas quem está com dificuldade é a direita, que procura Doria, Moro, Huck", disse Lula na live. "Eu vou te garantir que, se depender do PT e de mim, vamos ter uma aliança de toda esquerda. Agora, o que as pessoas não podem achar é que o PT não pode ter candidato, porque como que pode o maior partido não ter candidato. Mas, se tiver gente em condição de disputar melhor que o PT, não tem problema nenhum."
Outro gesto do PT para tentar atrair outros partidos para sua própria candidatura está no próprio Plano de Reconstrução do Brasil lançado recentemente. Embora tenha a assinatura do PT, a legenda afirma que o programa contempla sugestões de outras siglas de oposição, como PDT, Psol Rede, PSB e PCdoB.
No evento de lançamento do plano petista, participaram líderes de outros partidos, como o deputado Marcelo Freixo (Psol) e Flávio Dino (PCdoB). Eles pediram a unidade da esquerda ainda nas eleições municipais neste ano, como forma de pavimentar a criação de uma frente de esquerda em 2022. “Bolsonaro não venceu as eleições apenas pelos seus acertos, mas também pelos nossos erros. De todos nós. Não tem como separar 2022 de 2020. Que a gente não saia derrotado de 2020 e tenha sabedoria no primeiro e segundo turnos”, disse Freixo ao discursar no evento.
União da esquerda em 2020 não vingou
Mas a união dos partidos de esquerda acabou fracassando em 2020. O próprio Marcelo Freixo, que era pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, acabou desistindo de disputar o pleito sob alegação de falta de uma estratégia de união de partidos desse espectro ideológico.
No Rio, o plano inicial era uma união do PT e do Psol em torno da candidatura de Freixo. Mas não houve acordo e pelo menos três candidaturas de esquerda foram lançadas: Delegada Martha Rocha (PDT), Benedita da Silva (PT) e Renata Souza (Psol).
Juntas as três têm 26% das intenções de voto, de acordo com a pesquisa Ibope realizada entre os dias 7 e 9 de novembro. O líder nas pesquisas, Eduardo Paes (DEM), apareceu com 33% e o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que busca reeleição, com 15%.
Outra grande expectativa era em São Paulo, o candidato inicial da frente de esquerda seria Fernando Haddad (PT), que também teria o apoio do Psol. Mas o plano fez água nas duas capitais. Em São Paulo, o Psol lançou Guilherme Boulos e o PT, Jilmar Tatto. Enquanto Boulos tem chances de disputar o segundo turno contra Bruno Covas (PSDB), Jilmar Tatto tem apenas 6% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope realizada entre 7 e 9 de novembro .
A união de esquerda para 2020 não vingou em quase nenhuma capital do país. A única exceção é Florianópolis, em Santa Catarina, onde Psol, PDT, PT, PCdoB, PSB e Rede lançaram o engenheiro Elson Pereira (Psol) para a disputa. Ele aparece em segundo lugar na pesquisa Ibope realizada entre 31 de outubro e 2 de novembro. Mas o atual prefeito Gean Loureiro (DEM) tem grande possibilidade de ser reeleito ainda no primeiro turno, segundo os números da pesquisa.
Reaproximação de Lula e Ciro?
Terceiro colocado na disputa em 2018, o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT) é visto por alas da esquerda como uma opção tanto a Bolsonaro quanto ao PT nas eleições de 2022. No último pleito, ele não declarou apoio a Fernando Haddad (PT) no segundo turno contra Bolsonaro e houve um rompimento entre ele e o PT.
Em setembro deste ano, Ciro se encontrou com o ex-presidente Lula para, segundo ele, “lavar roupa suja”. Ciro acredita que houve um esgotamento do eleitorado em relação ao PT e a Lula. Considera remota a chance de uma aliança eleitoral que envolva PDT e PT na mesma chapa nas próximas eleições presidenciais.
Por outro lado, Ciro tem boa interlocução com partidos de centro e centro-esquerda, o que pode ajudá-lo a aglutinar apoio para 2022. Nas eleições municipais, o PDT formou chapa com PSB em oito capitais, em uma aliança que pode ser um indicativo para uma dobradinha nas eleições presidenciais.
Flavio Dino também é virtual candidato da esquerda
Governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) também é visto como possível candidato para fazer frente ao bolsonarismo em 2022. O PCdoB é tradicionalmente um partido satélite do PT, tanto que a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) foi a candidata a vice de Haddad (PT) em 2018.
Mas, recentemente, lideranças do PCdoB e do PSB começaram a negociar a fusão dos dois partidos para criar uma sigla de esquerda alternativa ao PT que possa enfrentar Bolsonaro com chance de derrotá-lo.
Segundo reportagem do jornal O Globo, a articulação vem sendo conduzida principalmente por Dino, que teria a intenção de disputar a Presidência. Dino inclusive já estaria chamando o novo partido de "MDB da esquerda" porque teria mais deputados e mais verba do Fundo Partidário que siglas como PSDB, DEM e Progressistas (o antigo PP).
Dino também tenta costurar uma aliança com o apresentador de TV Luciano Huck. Os dois já se reuniram mais de uma vez para tratar das eleições de 2022. Em entrevista ao portal Yahoo, Dino afirmou que estar ao lado de figuras como Huck não é o ideal, mas “essencial” para derrotar Bolsonaro.
“Pode ser que a esquerda sozinha não consiga. Por isso é muito importante que se tenha reuniões, eu fiz mais até de uma reunião com o Huck. Mas não é que eu o apoio. O Dino apoiou o Huck? Não. Mas, neste momento, talvez tenhamos que fazer essa escolha. Vamos deixar o Bolsonaro ganhar? Deus nos livre! O Brasil não aguenta. A Amazônia não aguenta. O Pantanal não aguenta. Mulheres e negros não aguentam mais quatro anos de Bolsonaro. Por isso tem que conversar com Huck”, afirmou ao site.
Metodologia das pesquisas citadas na reportagem
Rio de Janeiro: sob encomenda da TV Globo, o Ibope ouviu 1.204 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 7 e 9 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RJ-01518/2020.
São Paulo: sob encomenda da TV Globo e do jornal O Estado de S. Paulo, o Ibope ouviu 1.204 eleitores de São Paulo entre os dias 7 e 9 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação SP-07164/2020.
Florianópolis: sob encomenda da NSC Comunicação, o Ibope ouviu 602 eleitores de Florianópolis entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob a identificação SC-07120/2020.
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