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Ivan Valente (PSOL), Gleisi Hoffmann (PT) e Jandira Feghali (PCdoB) na Câmara
Ivan Valente (PSOL), Gleisi Hoffmann (PT) e Jandira Feghali (PCdoB) na Câmara dos Deputados.| Foto: Lula Marques/AGPT

No segundo semestre do ano passado, após as eleições, partidos como PCdoB, Rede, PDT e PSB começaram a se movimentar para montar um bloco no Congresso Nacional que não incluísse o PT. E em fevereiro, durante as negociações para a eleição para a Presidência da Câmara, o PT seguiu de um lado e PCdoB e PDT rumaram para outro. Os acontecimentos, somados ao baque sentido pelo PT com a derrota na disputa presidencial e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indicavam que talvez a histórica hegemonia do PT sobre a esquerda estaria em risco.

Mas ao longo destes primeiros seis meses da gestão de Jair Bolsonaro, o distanciamento entre as legendas de esquerda e o PT não se concretizou. A sigla permanece sendo a mais influente entre as forças de oposição. No Congresso, seus deputados federais e senadores prosseguem atuando em conjunto com PDT, PCdoB, PSB e também com o PSOL, que nasceu como uma dissidência do partido.

Um exemplo da influência do PT sobre as outras siglas se viu na reação dos partidos ao vazamento de conversas atribuídas ao ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e integrantes da Lava Jato. A alegação do PT, de que os diálogos indicariam uma perseguição da força-tarefa a Lula, motivou um apoio conjunto dos outros partidos. Na Câmara, as forças de oposição anunciaram obstrução a votações. No Senado, durante a participação do ministro Moro em reunião da Comissão, Constituição e Justiça (CCJ) no dia 19, críticas à atuação do ex-juiz partiram de integrantes de diferentes legendas. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) foi um dos mais enfáticos a contestar a atuação de Moro.

Além disso, nas redes sociais as manifestações de representantes das diferentes siglas são também de contrariedade ao trabalho de Moro e da força-tarefa e de solidariedade a Lula.

Resistência explica

A análise dos integrantes da oposição é de que as ações do governo Bolsonaro têm demandado uma ação conjunta da esquerda – ou seja, que deixe de lado as questões partidárias colocadas no fim de 2018 e no início de 2019.

“Estamos unidos em torno de posições políticas que se contrapõem ao governo. Principalmente à forma com que o governo Bolsonaro está tratando o país. Não só na economia, mas também no ataque a conquistas sociais, políticas públicas. Tudo isso faz com que as forças políticas que defendem um Estado social se unam para se contrapor à força do governo”, afirmou o senador Paulo Rocha (PT-PA).

Cid Gomes (PDT-CE), por outro lado, disse que existe uma “afinidade ideológica” em siglas como PDT, PSB e Rede e declarou que a exclusão do PT do bloco se deve ao fato de que “o PT já é um partido grande”. O senador foi o autor da frase “o Lula tá preso, babaca”, à época do segundo turno da eleição presidencial do ano passado. A declaração acabou entrando para o folclore da política nacional e foi um dos elementos que colaborou para a possibilidade de um rompimento entre o PT e as demais forças de esquerda.

Vitórias para contar

Sem o PT, as forças de oposição talvez não teriam alcançado as vitórias que podem contabilizar ao longo desse primeiro semestre da gestão Bolsonaro. Uma delas foi a derrubada do decreto do presidente que ampliava a possibilidade de posse e porte de armas. O projeto de lei que sustava os efeitos do decreto de Bolsonaro foi aprovado com 47 votos favoráveis e 28 contrários, no dia 18. Na sequência, o presidente revogou o decreto e enviou um projeto de lei sobre a questão.

“A oposição tem tido vitórias. Revogamos o decreto de armas do presidente Bolsonaro. Também conseguimos barrar uma medida provisória do código florestal. No governo mais atrasado da história, a oposição, mesmo minoritária, tem tido vitórias. Estamos trabalhando com a oposição toda em conjunto”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Na Câmara, a conexão entre as forças de esquerda se dá principalmente na Liderança da Minoria, capitaneada por Jandira Feghali (PCdoB-RJ). O grupo tem conduzido, por exemplo, a resistência à reforma da Previdência.

A crítica ao sistema de aposentadorias motivou uma nota conjunta de PT, PSB, PDT, PSOL e PCdoB. No texto, os presidentes dos partidos afirmam que a proposta apresentada pela gestão Bolsonaro traz "inaceitáveis ataques aos direitos do povo brasileiro". Eles alegam que o relatório atual sobre a reforma, elaborado pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), “continua transferindo para os mais pobres e para os trabalhadores o ônus da crise econômica”, mas apontam que modificações em relação ao texto original – que consideram positivas – “são produto da pressão dos movimentos sociais e da oposição”.

A tramitação da reforma, como um todo, é uma mostra de o quanto a oposição consegue dificultar a vida do governo no Congresso Nacional. Mesmo detendo maioria na Câmara a gestão Bolsonaro encontrou resistência em todas as etapas, desde a CCJ da casa até a comissão especial. No Plenário, embora haja uma expectativa de se conseguir maioria, a oposição dificultará ao máximo a aprovação da proposta - e o PT estará à frente do processo, ao lado das outras legendas de esquerda.

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