As manifestações marcadas pela Frente Popular - coligação feita por PT, PDT, PSB e PCO - e demais organizações para este sábado (23) serão um teste de força para a esquerda em meio à queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ato também fará crítica aos 60 anos do regime militar de 1964, cuja data será lembrada em 31 de março.
De acordo com pesquisa Datafolha*, que foi divulgada nesta quinta-feira (21), a rejeição ao petista está tecnicamente empatada com a aprovação. Segundo o levantamento, 35% dos entrevistados consideram o governo de Lula como ótimo ou bom, outros 33% avaliam como ruim ou péssimo, e 30% como regular.
A manifestação promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista acendeu um sinal amarelo no Palácio do Planalto, no Partido dos Trabalhadores e nas siglas aliadas. Apesar de a própria esquerda relativizar o número de participantes, o próprio Lula reconheceu que a manifestação foi “grande”.
“Eles fizeram uma manifestação grande em São Paulo. Mesmo quem não quiser acreditar, é só ver a imagem”, disse Lula em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, cerca de 750 mil pessoas estiveram no ato.
A convocação feita por petistas nas redes sociais mostra que, diferentemente de outras manifestações, o PT se encontra mais engajado em superar o número registrado na manifestação do ex-presidente e quer mostrar que tem apoio em outras regiões do país.
Queda de popularidade de Lula é fruto da alta dos alimentos
Apesar de uma sinalização de melhora econômica, com destaque para o crescimento de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, a alta dos alimentos registrada no primeiro bimestre deste ano é avaliada por analistas como fator relevante para o desempenho do presidente nas pesquisas.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação da alimentação no domicílio, que inclui itens como arroz, feijão, hortaliças e carnes, subiu 2,95%. No ano passado, a inflação desse subgrupo caiu 0,52%.
A crise de popularidade fez com que Lula se reunisse com ministros, na última segunda-feira (18), para cobrar ações e entregas das pastas. “A gente ainda tem muito para fazer, em todas as áreas. E muito não é nada estranho, é tudo aquilo que nós nos comprometemos a fazer durante a disputa eleitoral. Já gastamos um ano e três meses do nosso mandato e vocês percebem quão pouco nós fizemos e, ao mesmo tempo, quão muito nós fizemos. Eu duvido que alguém conseguisse fazer se não fosse o esforço individual de cada um de vocês”, disse Lula a seus ministros.
Na avaliação do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí, a queda na avaliação de Lula faz com que o governo sinta a necessidade de se “movimentar” para não parecer enfraquecido.
"Essa situação faz com que o PT precise realmente demonstrar poder de reação e por isso chamou seus assessores mais próximos, buscou elementos, para que ele possa efetivamente demonstrar que ele está viável no poder, que não está enfraquecido, que não está inviabilizado, que não está isolado”, disse Gomes.
Ao comentar as manifestações marcadas pela esquerda, o cientista político também disse quer mostrar a capacidade de mobilização de Lula, bem como da própria legenda.
"Esses atos servem para manter a figura do líder carismático de esquerda em evidência, mostrar que ele ainda tem capacidade de fazer aquilo que tradicionalmente esse grupo fez: mobilização popular intensa. O objetivo é justamente fazer o contraponto ao que foi feito pelo campo da direita em fevereiro.
Fragmentação de atos visa eleição municipal e superar número de Bolsonaro
A escolha das localidades pela Frente Brasil Popular indica que a esquerda também pode estar visando locais eleitoralmente estratégicos para o pleito municipal marcado para outubro. No total, 15 capitais fazem parte do roteiro divulgado pela coligação e seus membros.
A escolha das cidades de São Paulo (SP), Recife (PE), Salvador (BA) e Fortaleza (CE), por exemplo, indica que a primeira preocupação da esquerda é garantir presença em locais com maior potencialidade de participação popular. Em 2022, Lula ganhou de Bolsonaro em 2022 nessas capitais.
Entretanto, a esquerda demonstra também querer avançar em redutos onde o ex-presidente tem a preferência, como Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Campo Grande (MT), Curitiba (PR) e Brasília (DF).
Ao analisar a distribuição das cidades, o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, comenta que a esquerda tem ciência da dificuldade de reunir a mesma quantidade de pessoas em um só lugar e aposta na fragmentação como estratégia para formar números relevantes.
“O Bolsonaro, em poucos dias, convocou o ato e lotou todos os quarteirões da Paulista. Um número estimado de 750 mil pessoas. O que provavelmente a esquerda vai fazer é contabilizar esses atos espalhados, fragmentados em diferentes cidades, e tentar dizer que mobilizou igual ou mais gente do que no dia 25 de fevereiro. Vai tentar criar um número mais expressivo de pessoas em Salvador e em São Paulo, que são lugares em que têm mais manifestantes pró-Lula”, disse Cerqueira.
Locais das manifestações
AL – Maceió – Calçadão do Comércio - 9h
BA – Salvador – Largo do Pelourinho - 15h
CE – Fortaleza – Praça do Ferreira - 8h30
DF – Brasília – Praça Zumbi dos Palmares - 16h
ES – Vitória – Praça Vermelha - 9h
MA – São Luis – Solar Maria Firmina - 9h30
MG – Belo Horizonte – Praça Afonso Arinos - 9h
MS – Campo Grande – Praça do Rádio - 9h
PA – Belém – Escadinha do Cais - 9h
PB – João Pessoa – Praça da Lagoa - 15h
PE – Recife – Praça do Derby - 10h
PR – Curitiba – Praça Santos Andrade até Boca Maldita - 9h
RO – Porto Velho – Praça Marechal Rondon (Baú) - 17h30
RR – Boa Vista – Praça Germano Sampaio (Pintolândia) - 17h
RS – Porto Alegre – Largo Glênio Peres -15h
SP – Osasco – Calçadão em frente ao Shopping - 13h
SP – São Paulo – Largo São Francisco -15h
Também estão previstas manifestações no exterior, como em Barcelona (Calle Rocafort, 242, às 14h), na Espanha; e em Lisboa (Praça Luís de Camões, às 10h30), capital de Portugal.
Silêncio do governo sobre 64 é afago a militares
Apesar de o PT ser um dos protagonistas dos atos deste sábado (23), Lula ordenou que o governo não se pronunciasse sobre o 31 de março de 1964, data que marca o início do regime militar. A decisão levou o Ministério dos Direitos Humanos, comandado por Silvio Almeida, a cancelar uma solenidade marcada para 1º de abril. A informação foi registrada pela Folha de S. Paulo.
Para analistas, a medida é vista como estratégia do Planalto para evitar atritos com os militares, que, por outros motivos, acabaram entrando no centro dos holofotes após o depoimento do ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes acerca de uma suposta ruptura institucional planejada por Bolsonaro. A ordem do petista também se estende aos quartéis, que também ficarão em silêncio.
Por outro lado, o Clube Militar manterá o almoço de comemoração aos 60 anos do regime militar. A confraternização ocorrerá na sede da associação, no Rio de Janeiro. O evento será por adesão e os ingressos custam R$ 95.
Metodologia
*O levantamento do Datafolha foi feito nesta terça (19) e quarta-feira (20), com 2.002 eleitores de 147 cidades. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
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