Na contramão da estratégia da equipe econômica de reduzir o tamanho do Estado e acabar com as estatais, o governo assistiu a um movimento da Câmara e do Senado que pode resultar no nascimento da primeira empresa pública do governo Jair Bolsonaro (PSL): a NAV Brasil Serviços de Navegação Aérea. A iniciativa é defendida pelo Ministério da Defesa.
Se a lei for sancionada pelo presidente, esta será a primeira estatal criada pela União desde 2013, quando a presidente Dilma Rousseff (PT) criou a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF).
A criação da NAV foi aprovada pelo Congresso na semana passada. Agora, o texto será enviado ao presidente, que terá 15 dias úteis para analisar se sanciona ou veta a constituição da nova estatal. Se for criada, dois mil funcionários da Infraero podem ser transferidos para a nova empresa, com sede no Rio de Janeiro.
Secretário deve recomendar veto
Com a missão de reduzir o número de estatais, o secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, criticou a criação da NAV na última quinta-feira (3), em coletiva de imprensa - antecipando uma provável recomendação de veto que fará a Bolsonaro. Segundo ele, a empresa é "coisa do governo passado", e ainda é preciso comprovar se a nova estatal é um imperativo para a área de segurança.
A preocupação da equipe econômica é que a criação da NAV enfraqueça a política liberal de redução das estatais, que enfrenta resistência em vários ministérios.
A expectativa é de que, se for mesmo criada, a NAV ao menos se mantenha equilibrada e com boa governança, sem ser usada pelo Ministério da Defesa para fazer despesas que não passem pelo Orçamento.
Criação da nova estatal foi idealizada no governo Temer
A Medida Provisória (MP) que cria a NAV foi enviada ao Congresso pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) em 20 de dezembro do ano passado. A empresa, vinculada ao Comando da Aeronáutica e ao Ministério da Defesa, surge da cisão parcial da Infraero, estatal que administra aeroportos.
Em 22 de maio, o governo Bolsonaro revogou a proposta que criava a NAV, por meio do envio de outra Medida Provisória. Na justificativa, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, alegava que a MP anterior estava trancando a pauta de votações da Câmara e impedia a votação do texto que organizou os ministérios de Bolsonaro.
Como todas as MPs, a MP 883 tinha força de lei na data de sua publicação, mas precisava ser aprovada pelo Congresso até 18 de setembro para vigorar permanentemente - o que não aconteceu.
Usando um precedente do Supremo Tribunal Federal (STF) em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) julgada em 1993, porém, o Congresso fez um movimento legal, embora incomum: retomou o prazo remanescente de tramitação da MP da NAV até que ela fosse revogada. Restavam nove dias, o que ampliava sua vigência até 27 de setembro. Na semana seguinte, em uma tramitação relâmpago, a Câmara aprovou a proposta no dia 25, e o Senado, no dia 26.
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, desde o princípio, foi combinado com a ala militar do governo que a MP que criava a NAV seria retomada, e que a MP que a revogou iria "caducar". Mas Mattar tentou impedir a votação: ligou para o líder do Novo, Marcel Van Hattem (RS), para pedir ao deputado que organizasse uma obstrução. Sem sucesso.
A MP da NAV foi relatada pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o filho 01. Na comissão especial, o senador acatou parcialmente emenda do deputado Eduardo Cury (PSDB-SP), que trazia o imperativo da segurança nacional como justificativa para a criação da empresa.
Governo tem mais empresas do que se sabia
Também na entrevista de quinta-feira (3), Mattar disse que o governo "descobriu" ter mais empresas do que imaginava. São 637 companhias entre as que são controladas pela União, subsidiárias, coligadas e participações, de acordo com balanço do Ministério da Economia. A conta anterior, de 133, não considerava coligadas, empresas internacionais e participações minoritárias detidas pela União. "É um Estado empresário", afirmou o secretário.
De janeiro a setembro, segundo Mattar, o governo vendeu ativos estimados em US$ 23,5 bilhões, ou R$ 96,2 bilhões. A conta considera desinvestimentos - venda de subsidiárias vinculadas a empresas-mãe, como a TAG e a BR Distribuidora, da Petrobras -, concessões de aeroportos, terminais portuários e de um trecho ferroviário, além de campos de petróleo. Até agora, nenhuma estatal federal de controle direto da União foi privatizada.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião