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Xadrez político

Aliados de Lula tentam levar Alckmin para o PSD: o que está por trás dessa estratégia

Alckmin PSD
Alckmin e Lula ensaiam aliança para 2022, mas formação de chapa depende de composição política complexa. (Foto: Ricardo Stuckert/PT)

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Cortejado para ser vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022, o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) tem convites do PSB e do Solidariedade para se filiar. Mas há entre os estrategistas políticos do PT um desejo, quase uma torcida, para que o ex-tucano se filie ao PSD, de Gilberto Kassab, a fim de formar a chapa com o petista. Isso ampliaria a coligação partidária para a disputa presidencial do ano que vem.

O tema foi alvo de conversas entre lideranças presentes no jantar do último domingo (19), que reuniu Lula, Alckmin e o próprio Kassab. No dia seguinte, o assunto também foi tratado com o presidente do PSB, Carlos Siqueira. "Ainda não temos nada decidido. O martelo só será batido no começo do ano que vem", disse Siqueira após encontro com Lula.

Antes de deixar o PSDB, Alckmin vinha trabalhando com dois possíveis cenários: se filiar ao PSD para disputar o governo de São Paulo ou ao PSB caso aceite ser vice na chapa de Lula para 2022. O ex-tucano vem liderando as pesquisas de intenção de voto para a disputa estadual, mas já sinalizou que pode optar por fazer uma composição com o PT.

Para fechar a filiação de Alckmin e indicá-lo para a chapa de Lula, o PSB cobra um preço alto: quer que o PT abra mão de candidaturas próprias aos governos de Pernambuco, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Nestes casos, os petistas apoiariam nomes do PSB.

Para aliados petistas, a ida de Alckmin para o PSD desobrigaria o partido de atender todas as exigências do PSB e ampliaria a coligação da candidatura presidencial de Lula, garantindo mais tempo de propaganda no rádio e na TV. Além disso, inviabilizaria a pré-candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que até agora não decolou.

PT não abre mão da disputa pelo governo de São Paulo 

Integrantes do PT admitem nos bastidores que a estratégia de levar Geraldo Alckmin para o PSD é uma forma de também neutralizar a pré-candidatura de Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo. O estado é o principal entrave para a aliança, pois líderes petistas estão resistentes em abrir mão da pré-candidatura de Fernando Haddad ao Palácio dos Bandeirantes para apoiar França.

Desde o início das tratativas, o PSB vinha colocando como condicionante para filiar Alckmin o apoio do PT à candidatura de França. No último levantamento Datafolha, Haddad lidera com 28% das intenções de voto no cenário em que o nome de Alckmin não é testado para o governo paulista. Já Márcio França aparece em segundo lugar com 19%. Em outro cenário, sem Alckmin e sem Haddad, França aparece na liderança com 28%.

Caso Alckmin se filie ao PSD, lulistas sugerem que Márcio França seja lançado como candidato ao Senado por São Paulo. Pelo acordo traçado, o PSD indicaria o primeiro suplente de França. Numa eventual vitória de Lula, França poderia assumir um ministério e o PSD, a vaga no Senado.

A estratégia dos petistas, no entanto, enfrenta resistências tanto no PSB quanto no PSD. Por um lado, França acredita que sua candidatura ao governo de São Paulo pode atrair uma parcela do eleitorado de Alckmin e de campos resistentes ao PT. França foi vice de Alckmin e assumiu o governo em 2018, quando o então tucano deixou o mandato para concorrer à Presidência da República naquele ano.

Além disso, França tem afirmado que foi o fiador da aliança entre Lula e Alckmin, e que, portanto, sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes seria o caminho natural. Até então cotado para ser vice na chapa de Alckmin ao governo paulista, o pré-candidato do PSB foi o responsável pelo primeiro encontro entre o tucano e lideranças do PT.

Já no PSD, Gilberto Kassab tem se mantido distante das negociações e descartado publicamente qualquer possibilidade de abrir mão da candidatura de Rodrigo Pacheco ao Palácio do Planalto para apoiar Lula ainda no primeiro turno. Integrantes do PT, no entanto, avaliam que, caso o PSB aceite a composição, a negociação entre Alckmin e Kassab não deve sofrer grandes resistência.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo nesta terça-feira (21), Kassab foi categórico ao dizer que o PSD não indicará vice na chapa de Lula e nega apoio ao petista antes do segundo turno. "Eu não estarei com Lula no primeiro turno, isso já foi dito a ele. Não faremos o vice do Lula. Não é porque é o Geraldo, fulano ou sicrano, é porque teremos candidatura própria", argumentou o presidente do PSD.

Ida de Alckmin para o PSD pavimentaria palanque de Lula em Minas

Com dificuldades para construir um palanque para Lula em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, integrantes do PT veem na estratégia de filiar Geraldo Alckmin ao PSD uma forma de também resolver esse impasse. Com a composição, Lula estaria no mesmo palanque do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, pré-candidato ao governo mineiro pelo PSD.

Até o momento, Lula e Kalil já sinalizaram para uma aliança informal no estado mineiro com a anuência de Kassab. Com a coligação, no entanto, o PT teria mais espaço na composição da chapa e almeja indicar o nome ao Senado, já que o senador Antônio Anastasia não vai mais disputar a vaga, pois vai se tornar ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

Aliados do prefeito de Belo Horizonte admitem que o caminho "natural" seria o apoio a Rodrigo Pacheco. Contudo, avaliam que a pré-candidatura do presidente do Senado ficou esvaziada com a entrada do ex-ministro Sergio Moro (Podemos) na chamada terceira via.

O PT pretende seguir nas conversas com os demais partidos enquanto Alckmin não define qual será seu destino. A expectativa dos líderes petistas é de que uma definição por parte do ex-tucano saia ainda no primeiro trimestre de 2022.

“Quem vai dizer se a gente pode se juntar ou não é o meu partido e o partido dele. Então, nós temos que ter paciência. Nada acontece para um vice antes de acontecer para um presidente”, disse Lula durante o jantar com Alckmin em São Paulo.

Metodologia de pesquisa citada na reportagem 

O levantamento Datafolha foi realizado entre 13 e 16 de dezembro e ouviu 2.034 eleitores em 70 municípios do estado de São Paulo. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

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