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Partido escolhido por Sergio Moro para disputar a Presidência da República, o Podemos é uma legenda que vai impor desafios políticos para o ex-juiz e ex-ministro. A legenda não tem capilaridade em todo o país – o que exigirá que Moro negocie com outros partidos para ampliar seus apoios. Além disso, a legenda que ele escolheu tem divisões internas. Embora o ex-juiz conte com a sustentação da cúpula do Podemos e de grande parte de seus principais nomes, a legenda ainda abriga apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-presidente Lula (PT).
O Podemos originalmente se chamava Partido Trabalhista Nacional (PTN). Mas, em 2016, a legenda decidiu se modernizar e decidiu mudar de nome – decisão que foi oficializada pela Justiça Eleitoral em 2017. Até então, era uma legenda pouco expressiva.
“Há pouco mais de quatro anos lançávamos a pedra fundamental da obra partidária chamada Podemos. Hoje aqui nos reunimos para fincar um marco de um novo rumo para esse país”, discursou o líder do Podemos no Senado, Alvaro Dias (PR), durante a cerimônia de filiação de Moro.
Rebatizado como Podemos, o partido começou a atrair mais lideranças políticas. O próprio Alvaro Dias foi um deles. E, ao menos no Senado, a legenda é forte: tem a terceira maior bancada, com nove senadores. Mas, na Câmara, a sigla ainda é pequena, com apenas 11 deputados federais.
Essa bancada na Câmara é um retrato da falta de capilaridade do Podemos. Ou seja, o partido não está estruturado em todo o país. Por isso, aliados de Moro afirmam que a viabilidade de sua candidatura vai depender da adesão de outras legendas para que haja construção de palanques principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
“A construção da candidatura de Sergio Moro à Presidência passará pela interlocução com diferentes partidos e lideranças do centro", reconhece o deputado José Nelto (Podemos-GO). "Ele será o candidato do Brasil.”
Sergio Moro, antes mesmo de oficializar sua filiação, já estava buscando alianças com lideranças de outros partidos. Nessas conversas estão, por exemplo, representantes do União Brasil, resultado da fusão do DEM com o PSL. E sua cerimônia de filiação ao Podemos contou com lideranças do Novo, PSDB, MDB e Cidadania, por exemplo.
Legenda conta com apoiadores de Bolsonaro e Lula
Apesar da busca pelo apoio ao nome de Moro em outros grupos políticos, o Podemos conta com apoiadores de outros pré-candidatos ao Palácio do Planalto em 2022, como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado José Medeiros (MT), por exemplo, já sinalizou que pretende disputar uma cadeira ao Senado em 2022 com apoio de Bolsonaro.
Na Bahia, o Podemos comanda a Secretaria Estadual de Turismo do governo de Rui Costa (PT). Para o deputado Bacelar (Podemos-BA), o nome de Moro “é um belo quadro, mas ainda é preciso saber suas posições quanto à economia e às desigualdades”.
Já em Pernambuco, o deputado Ricardo Teobaldo mantém interlocuções com Lula. E, na disputa pela prefeitura de Recife em 2020, o Podemos apoiou a candidatura de Marília Arraes (PT) no segundo turno. Para 2022, o líder do partido no estado também não descarta está no palanque do ex-presidente Lula na disputa pela Presidência.
A presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), no entanto, já começou a levantar os possíveis diretórios que possam apresentar resistências em apoiar o nome de Sergio Moro em 2022. Já o senador Alvaro Dias sinaliza que a “porta de saída” do partido está aberta para quem não for apoiar o ex-juiz da Lava Jato. “A nossa causa é outra. Dentro do Podemos temos um projeto”, diz o senador.
Integrantes da executiva do Poemos têm sinalizado aos diretórios que não haverá resistência aos quadros que desejarem sair do partido. Nos cálculos, a cúpula da legenda acredita que a candidatura de Moro terá força para atrair potenciais candidatos tanto para a Câmara quanto para o Senado em 2022.
Moro foi contra, mas Podemos rachou na votação da PEC dos Precatórios
Já com a filiação encaminhada ao Podemos, o ex-ministro Sergio Moro chegou a se manifestar publicamente contra a aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados. Instantes antes da votação em si, a liderança do partido se manifestou contrária à aprovação da proposta. Mesmo assim, cinco deputados do partido votaram a favor da proposta defendida pelo governo Bolsonaro; e outros quatro foram contrários. O deputado Ricardo Teobaldo (PE) estava ausente da votação.
Já no segundo turno da votação da PEC, a “traição” à orientação partidária foi menor, e apenas três deputados votaram pela aprovação da matéria, entre eles José Medeiros e Ricardo Teobaldo. A PEC abre caminho para que o governo garanta o pagamento do Auxílio Brasil, uma das principais bandeira de Bolsonaro para seu projeto de reeleição. Mas, como só garante um benefício mais robusto apenas em 2022 e abre espaço no orçamento para outros programas, é vista pela oposição como eleitoreira e um risco às contas públicas. A PEC, no entanto, ainda precisa passar pelo Senado.
Diferentemente da Câmara, os senadores do Podemos já sinalizam que irão votar contra o texto aprovado pelos deputados. O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), inclusive, chegou a apresentar uma outra proposta para instituir o programa social.
“É possível, sim, estabelecer um auxílio de R$ 400 por mês, permanente, não um auxílio eleitoral que vai acabar daqui a um ano, não. Um auxílio permanente, uma política de Estado, e não uma política de um governo”, diz Oriovisto.
Com Moro, Podemos espera dobrar de tamanho em 2022
Líderes do Podemos estimam que irão pelo menos dobrar o número de deputados federais caso a candidatura de Sergio Moro ao Palácio do Planalto seja confirmada. Além disso, o partido espera ter em seus quadros outros puxadores de voto ligados ao combate à corrupção, como o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol. Ele também já sinalizou que deverá se filiar ao partido e disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
"O convite está feito, o projeto detalhado. Agora, vamos aguardar o tempo dele para fazermos a filiação”, afirma Alvaro Dias sobre a filiação de Deltan. A expectativa é de que o ex-coordenador da Lava Jato assine a ficha de filiação em dezembro, em cerimônia prevista para ocorrer no Paraná.
O partido deve receber também a filiação do general Santos Cruz, que foi ministro do governo Bolsonaro. Santos Cruz é um dos principais entusiastas da candidatura de Moro. “Recebi convites de vários partidos, mas devo me filiar ao Podemos. Ainda não decidi qual cargo devo me candidatar, mas vamos discutir se será para deputado ou senador”, admite Santos Cruz.
A estratégia, segundo líderes do partido, é manter o crescimento que o Podemos passou a ter nos últimos anos. Em 2019, a sigla de Sergio Moro incorporou o PHS, que não havia superado a cláusula de barreira em 2018.
A fusão fez com que o Podemos dobrasse o montante do fundo eleitoral a que tem direito, passando de R$ 36 milhões em 2018 para R$ 77 milhões em 2020. Esse dinheiro extra ajudou o Podemos a triplicar o número de prefeitos que elegeu em 2020: foram 100 eleitos, sendo um em uma capital – Eduardo Braide, em São Luís (MA).
Números do Podemos
- 9 senadores
- 11 deputados federais
- 24 deputados estaduais e distritais
- 100 prefeitos eleitos em 2020
- 1.524 vereadores
- Fundo Partidário 2021: R$ 29 milhões
- Fundo Eleitoral 2020: R$ 77,9 milhões