Um estudo da Câmara Americana de Comércio no Brasil (Amcham) aponta que os Estados Unidos correm o risco de perder mercado de quase 6 mil produtos no Brasil, que correspondem a um volume de negócios de US$ 26,4 bilhões por ano, em razão do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, firmado em junho, e sugere que, para evitar a perda deste mercado, o governo americano agilize as negociações para um acordo bilateral com o Brasil.
Segundo o estudo, EUA e União Europeia concorrem por um mercado de US$ 59 bilhões ao ano em exportações para o Brasil. Os brasileiros importam uma variedade de 6.430 produtos norte-americanos e 7.475 itens europeus. Desse total, 5.956 produtos são a pauta comum, mandados para o Brasil tanto pelos EUA quanto pela UE.
Em 2018, a União Europeia já teve vantagem, ficando com 55% dessa disputa, em valores, ante 45% dos americanos. E a balança deve ficar ainda mais inclinada para o Velho Mundo após a formalização do acordo e a redução das taxas de importação de produtos europeus no Brasil e nos demais países do Mercosul.
Estados Unidos e União Europeia concorrem no mercado brasileiro sobretudo em bens industrializados de médio e alto valor agregado, com destaque para combustíveis, máquinas e equipamentos, químicos, farmacêuticos, veículos, plásticos, eletrônicos, fertilizantes, bebidas, aeronaves, cosméticos, entre outros.
“À medida que as tarifas de importação sejam gradualmente reduzidas por força do acordo, a UE passará a construir vantagem comparativa em relação aos EUA, caso mantido o cenário atual de ausência de preferência tarifária para as exportações americanas”, explica Abrão Árabe Neto, vice-presidente executivo da Amcham Brasil e responsável pela condução do estudo.
“O acordo de comércio entre Mercosul e União Europeia vai trazer uma competitividade extra aos europeus. O estudo mostra como seria conveniente e estratégico para Brasil e Estados Unidos avançarem nas tratativas de um acordo”, acrescenta Deborah Vieitas, CEO da Amcham Brasil.
O estudo aponta impacto direto nas exportações americanas para o Brasil dos produtos com tarifas de importação mais elevadas, com destaque para máquinas e equipamentos, químicos, autopeças, farmacêuticos, plásticos, equipamentos médicos, cosméticos, entre outros.
Segundo a Amcham, aproximadamente US$ 5,4 bilhões de mercadorias dos EUA são importadas pelo Brasil na faixa tarifária entre 14% e 16%, em setores como plásticos, químicos, equipamentos médicos, máquinas e equipamentos, laminados de aço e pneus. “As exportações da União Europeia nessa faixa já são de US$ 10 bilhões e serão significativamente beneficiadas com a futura preferência tarifária”, diz o estudo.
O levantamento ainda aponta situações semelhantes para os US$ 737 milhões exportados pelos Estados Unidos em produtos com taxa de 12% (borracha, defensivos agrícolas, laminados de aço, bebidas alcoólicas, entre outros) e os cerca de US$ 4,4 bilhões em produtos com taxa entre 2% e 8%.
A Amcham vê risco de perda de mercado mesmo para produtos com taxa zero de importação, que, aparentemente, não sofreriam influência da redução das taxas para a União Europeia.
“Além dos efeitos da redução tarifária, o acordo tenderá a diminuir as barreiras não-tarifárias enfrentadas por produtos europeus no mercado brasileiro, assim como reduzir exigências burocráticas no Brasil (ex: facilitação de comércio para bens perecíveis e autocertificação de origem). Esses elementos tendem a contribuir para o crescimento das exportações da UE para o Brasil”, aponta a Câmara. “Outro efeito positivo do Acordo Mercosul-UE diz respeito à melhora nas condições de acesso ao mercado brasileiro de serviços europeus (ex: cabotagem regional), bem como condições mais benéficas de participação de empresas europeias em compras públicas no Brasil”, acrescenta.
Por criar condições mais favoráveis para o aprofundamento da integração Mercosul-UE, ao eliminar gradualmente as tarifas de importação em um período de 15 anos, o estudo comprova a importância de os Estados Unidos se engajarem em um acordo de livre-comércio com o Mercosul, conclui a Amcham.
Para a Amcham, pesa a favor da abertura das negociações o bom relacionamento entre os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro. “Além da concorrência comprovada neste estudo, acreditamos que a sintonia que existe entre os dois governos ajuda muito no aprofundamento dessa negociação”, afirma Abrão Árabe Neto.
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