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Lula evangélicos
Lula em encontro com lideranças evangélicas, durante a campanha eleitoral.| Foto: André Coelho/ EFE

Mesmo após a eleição, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e outras lideranças do PT ainda mantêm o desejo de se reaproximar dos evangélicos. Eles querem reverter a rejeição que existe hoje no segmento tanto ao partido quanto a Lula. A ideia é criar um ambiente que seja o mais parecido possível do registrado à época dos mandatos anteriores do petista, quando grande parte das lideranças evangélicas apoiavam o governo.

Os evangélicos estão representados no Congresso e têm uma bancada expressiva de parlamentares, num momento em que o futuro governo busca apoio para aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para bancar o Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023..

A reaproximação com o segmento evangélico, porém, esbarra em animosidades que continuam a se repetir de ambos os lados. A presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), trocou farpas com o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, após o segundo turno. Macedo, que apoiou Jair Bolsonaro (PL) durante o período eleitoral, disse que poderia "perdoar" Lula.

Gleisi respondeu por meio de suas redes sociais da seguinte forma: "dispensamos o perdão de Edir Macedo. Ele é quem precisa pedir perdão a Deus pelas mentiras que propagou, a indução de milhões de pessoas a acreditarem em barbaridades sobre Lula e sobre o PT, usando a igreja e seus meios de comunicação para isso".

Posteriormente, em entrevista coletiva na sexta-feira (4), ela afirmou que não recuaria da declaração: "nós [PT] não misturamos política com religião".

A declaração da deputada foi criticada por representantes do PT, que viram na manifestação um sinal de agressividade pouco cabível para quem precisa dialogar com diferentes setores da sociedade.

O deputado Marco Feliciano (PL-SP), líder evangélico e adversário histórico do PT, aproveitou o incidente para criticar o partido. Em suas redes sociais, ele escreveu: "que o tratamento dado ao bispo Macedo pela presidente do PT sirva de lição a todos os parlamentares evangélicos na Câmara dos Deputados e líderes cristãos no Brasil. Não há mistura entre esquerda e direita. Não há comunhão entre luz e trevas! Dias sombrios nos aguardam".

Feliciano disse também, à Gazeta do Povo, que fará oposição ao PT, ainda que grupos do seu partido migrem para o apoio a Lula. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, anunciou na terça-feira (8) que o partido será de oposição a Lula e que, desde já, o presidente Jair Bolsonaro será seu pré-candidato ao Planalto em 2026. Mas, historicamente, o partido costuma apoiar os governos de ocasião – independentemente da posição ideológica. E ao menos parte dos parlamentares pode vir a aderir ao governo Lula.

Durante o período eleitoral, o segmento evangélico indicou, de forma maciça, apoio a Bolsonaro. Representantes de peso do grupo, como os pastores Silas Malafaia e RR Soares, além de Macedo, pediram abertamente voto no atual presidente da República. Bolsonaro contou também com apoio da bancada evangélica do Congresso, que tem crescido em influência no Legislativo e viu mais da metade de seus deputados conseguirem a reeleição.

A chapa que levou Lula de volta à Presidência tem viés menos refratário ao conservadorismo religioso do que as apresentadas em ocasiões anteriores. O vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), é católico. Outra parceira de Lula, e cotada para assumir um ministério na futura gestão, é a ex-ministra Marina Silva, que se elegeu deputada federal pela Rede em São Paulo. Marina é evangélica.

Pastor-deputado do Psol descarta aproximação com lideranças pró-Bolsonaro

O pastor e deputado federal eleito Henrique Vieira (Psol-RJ), aliado do PT, avalia que a aproximação que o governo Lula deve construir com a população evangélica precisa ser construída não com o foco nas lideranças "midiáticas e poderosas", mas sim com o que ele chama de "base evangélica popular".

"Acredito que, em primeiro lugar, Lula e o PT precisam fortalecer lideranças evangélicas progressistas – grupos comprometidos com a defesa da democracia, do Estado laico, do combate à fome. Em segundo lugar, estabelecer um diálogo mais amplo com a base evangélica popular. O diálogo não pode ser restrito ao período eleitoral e o governo não pode ser refém de lideranças evangélicas midiáticas e poderosas", diz.

Vieira disputou sua primeira eleição nacional em 2022 e foi eleito com cerca de 54 mil votos pelo estado do Rio de Janeiro. Raro nome evangélico dentro da esquerda, ele ganhou notoriedade por criticar o governo Bolsonaro e ser próximo de celebridades como os cantores Emicida e Caetano Veloso.

O futuro deputado disse descartar uma aproximação institucional com a bancada evangélica da Câmara, atualmente identificada com Bolsonaro. "O diálogo vai aparecer, dentro do Congresso, como deputado, para discutirmos o Brasil. Mas, uma movimentação de aproximação orgânica, eu não considero fazer", diz Vieira.

Carta compromisso de Lula fez aceno importante aos evangélicos

Na reta final do segundo turno, Lula lançou uma carta voltada aos evangélicos em um sinal de disposição ao diálogo e compromisso com o segmento. Entre outros pontos, a carta reafirmou o respeito do presidente eleito com a liberdade religiosa e desmentiu notícias falsas de que ele fecharia igrejas e instalaria banheiros unissex em escolas públicas.

"Vivemos um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa-fé, e afastá-las do apoio a uma Candidatura que justamente mais as defende. Por isso senti a necessidade de reafirmar meu compromisso com a liberdade de culto e de religião em nosso País", afirmou Lula no texto.

“Todos sabem que nunca houve qualquer risco ao funcionamento das Igrejas enquanto fui Presidente. Pelo contrário! Com a prosperidade que ajudamos a construir, foi no nosso Governo que as Igrejas mais cresceram, principalmente as Evangélicas, sem qualquer impedimento e até tiveram condições de enviar missionários para outros países. Não há por que acreditar que agora seria diferente”, continuou o petista.

Lula ainda exaltou o trabalho social executado pelas igrejas evangélicas nos grandes centros e nos rincões do país, prometendo “estimular sempre mais a parceria com as Igrejas no cuidado com a vida das pessoas e das famílias brasileiras”. “Declaro meu respeito e minha admiração pela fé, dedicação e amor com que os evangélicos realizam sua missão, seja na área da difusão do evangelho, seja na área da assistência social, proteção da infância, da juventude, das mulheres, dos idosos e das pessoas com deficiência.”

Em outro ponto, o então candidato assumiu o compromisso de “fortalecer as famílias para que os nossos jovens sejam mantidos longe das drogas” e afirmou ser “pessoalmente contra o aborto”. "Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional".

A carta foi lida em um evento com cerca de 140 líderes evangélicos, representando 35 denominações religiosas, em São Paulo.

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