Políticos estiveram presentes para apoiar Bolsonaro e com vistas às eleições deste ano e de 2026.| Foto: Sebastião Moreira/EFE
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Além de demonstrar força política, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrou que possui uma posição mais do que consolidada no segmento evangélico, grupo que o apoiou nas últimas eleições. A presença dos pastores Silas Malafaia, Marco Feliciano e Magno Malta, somada às diversas bandeiras de Israel espalhadas na manifestação do último domingo (25) na avenida Paulista, em São Paulo, evidenciam que o público religioso ainda dá sustentação política ao ex-mandatário.

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Alvo de uma operação que busca investigar um suposto golpe de Estado, o ex-presidente convocou seus apoiadores para se defender das acusações feitas pelas investigações. Entretanto, as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Israel também foram alvo da manifestação e apesar de Bolsonaro não fazer menção ao caso em seu discurso, a declaração da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro mostrou a direção em que o ato caminharia. "Nós abençoamos, nós abençoamos Israel", disse Michelle, ao fim da oração.

Comentando o apoio dos evangélicos ao ex-presidente, Feliciano, que também é deputado federal por São Paulo, afirmou que o segmento permanece firme com Bolsonaro. “Nós evangélicos, acredito eu, fomos a única base social que não o abandonamos em momento algum. É claro que não falo em nome de todos os evangélicos, mas falo sem medo, em nome de grande maioria.  A presença de líderes evangélicos na manifestação reforçou isso”, disse o parlamentar à Gazeta do Povo.

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Ele também criticou a declaração de Lula e afirmou que a atitude do chefe do Executivo aprofunda o distanciamento com os evangélicos. “Lula, está sendo agora, o que sempre foi, mas escondeu. Ao atacar Israel, demonstra como já disse antes, o anão diplomático que é, expõe o Brasil ao ridículo diante do mundo. Sim, vai afastando os evangélicos que amam, respeitam e oram por Israel”, acrescentou.

Na leitura do cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, a manifestação deste domingo (25) reforça o alinhamento entre o ex-mandatário e o grupo religioso.

“As manifestações ocorridas ontem deixaram claros os contornos da polarização na sociedade brasileira, revelando um alinhamento expressivo de parte da comunidade evangélica em direção ao bolsonarismo. Jair Bolsonaro é reconhecido como um defensor confesso de Israel, o que contribui para fortalecer sua posição entre os evangélicos, mesmo diante das complexidades geopolíticas envolvendo o país do Oriente Médio”, disse.

Já para o cientista político Adriano Cerqueira, cientista político do Ibmec de Belo Horizonte, a participação da ex-primeira-dama também contribuiu para a participação evangélica na manifestação.

“A participação dela evidencia a importância desse grupo. Em termos religiosos, é o grupo que mais apoiou Bolsonaro nas eleições - tanto em 2018 quanto em 2022. Bolsonaro teve muito mais votos que o Lula entre os evangélicos. Acho que a principal força mobilizadora hoje conservadora aqui no Brasil têm sido os evangélicos, que estão cada vez mais presentes na sociedade brasileira”, disse.

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Relação entre Bolsonaro e evangélicos é antiga 

O relacionamento entre o ex-presidente e lideranças evangélicas já data de alguns anos. A primeira demonstração de aproximação pública pode ser notada em junho de 2013, quando milhares de manifestantes se reuniram em Brasília para protestar contra pautas de esquerda que estavam em debate no parlamento e no Judiciário, como o casamento civil homoafetivo.

Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF), 40 mil pessoas estiveram presentes. Assim como a manifestação deste domingo, o ato foi coordenado por Malafaia e contou com a presença de Feliciano, Malta e Bolsonaro.

Além de se posicionar contra pautas progressistas, o ato também foi direcionado para defesa de Feliciano, que na época era presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa. Ao ser atacado pelo PT e por grupos ligados à esquerda, lideranças evangélicas  também se sentiram atacadas e saíram em defesa do parlamentar ao convocar a manifestação.

"Mudaram os personagens, mas o enredo é o mesmo! Eles não aceitam que conservadores ocupem lugares de destaque. Quer seja uma simples comissão temática na Câmara dos Deputados ou a cadeira da Presidência da República. Lutar contra este preconceito ao lado destes gigantes, foi é é será sempre uma honra", disse Feliciano ao relembrar o evento de 2013.

Crise entre Lula e Israel deu força para manifestação

As explicações sobre a quantidade de pessoas no evento são diversas, mas o que é consenso entre os cientistas políticos é que Lula deu munição para o ato convocado por Bolsonaro ao comprar a guerra em Gaza com o extermínio feito pelos nazistas com o povo judeu.

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“O embate entre Lula e o governo de Israel adicionou um elemento de controvérsia à relação tradicional dos evangélicos com o país do Oriente Médio. Como resultado, observa-se uma tendência de afastamento ainda maior por parte do eleitor evangélico em relação ao presidente Lula, visto que as discordâncias políticas e as críticas direcionadas a Israel podem impactar negativamente essa conexão histórica e religiosa. Com isso, Lula perde a oportunidade de atração desse eleitor”, disse Juan Carlos.

O cientista político Elton Gomes ressalta que o distanciamento entre o PT e os evangélicos ocorreu porque aspectos religiosos considerados importantes para esse setor foram desrespeitados pela legenda do presidente.

“Cristãos pró-Israel consideram isso inaceitável do ponto de vista dos seus valores e crenças, do ponto de vista da visão de mundo, do entendimento da realidade. Não seria razoável você dizer que Israel é o culpado pelo conflito do Oriente Médio, tem toda a dinâmica de predestinação, povo escolhido. Isso é muito fortemente enfatizado por alguns ramos da fé protestante”, explicou o cientista.

Confira as personalidades evangélicas que estiveram no evento:

Silas Malafaia

Despontando como liderança evangélica desde os anos 80, Silas Malafaia é fundador da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ramificação da denominação Assembleia de Deus. Nos últimos anos, ele se dedicou combater em seu programa de televisão, bem como na internet, pautas de esquerda, como o aborto, a legalização das drogas e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

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Apesar de ter declarado voto em Lula, em 2003, o pastor se distanciou do petista após o partido defender pautas progressistas e contra os valores defendidos pelo cristianismo. O pivô desse afastamento foi observado na tramitação do PL 122/2006, que buscava criminalizar a homofobia. O texto original era da então deputada Iara Bernardi (PT-SP).

Michelle Bolsonaro

Natural de Brasília, a ex-primeira-dama teve forte ascensão durante o mandato do marido após focar sua atuação em projetos sociais, com destaque para o público surdo. A ligação com mundo evangélico se iniciou pela Igreja Batista Atitude, local onde aprendeu a língua de sinais no Ministério de Surdos e Mudos, em 2015.

Durante a campanha de 2022, ela se destacou por articular com lideranças religiosas o apoio de evangélicos a Bolsonaro. Apesar do esposo ter perdido o pleito, o contato entre Michelle e o setor evangélico continuou em 2023 e agora o partido almeja filiações femininas desse público.

Magno Malta

Pastor batista, Magno Malta iniciou sua carreira política em 1993 como vereador de Cachoeiro de Itapemirim (ES). Ele também exerceu os cargos de deputado estadual e federal pelo estado, chegando ao Senado em 2003.

Assim como Malafaia, Malta também apoiou o PT em 2002. No entanto, se afastou da legenda após discordâncias ideológicas e os escândalos de corrupção envolvendo o partido. Sendo um dos aliados mais próximos de Bolsonaro, ele se notabilizou por defender pautas conservadoras na Casa Alta.

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Marco Feliciano

Fundador e líder da Catedral do Avivamento, Marco Feliciano foi eleito à Câmara dos Deputados em 2010 pelo estado de São Paulo. Ele ganhou visibilidade ao longo dos anos por participar de debates políticos em programas de TV, como o SuperPop.

Feliciano se tornou uma espécie de "pai das pautas conservadoras de costumes" quando presidiu em 2013 a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e sofreu forte oposição da esquerda e de movimentos LGBT. Ele chegou a ser ameaçado de ter propriedades vandalizadas.

Ao lado de Malta, ele é um dos expoentes da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]