Fabrício Ferreira de Oliveira, ex-assessor do deputado André Janones (Avante-MG) e autor de denúncias de “rachadinha”, fez novas acusações contra o parlamentar. Desta vez, o ex-assessor ligou Janones a um suposto esquema com “fortes indícios de desvio de erário público” envolvendo a prefeitura de Ituiutaba-MG, reduto eleitoral do deputado que tem como prefeita a também ex-assessora e ex-namorada de Janones, Leandra Guedes, apontada em denúncias anteriores como peça-chave na suposta engrenagem criada no gabinete do deputado para devolução de parte dos salários.
De acordo com as novas revelações feitas por Oliveira ao jornal Metrópoles, nesta terça-feira (12), Janones estaria metido em desvios envolvendo shows milionários custeados com dinheiro público, sem licitação, em Ituiutaba.
Oliveira disse que além das contratações milionárias de atrações musicais pagas com dinheiro enviado para o município por Janones via “emendas PIX”, um grupo ligado ao deputado, com vínculo familiar, teria lucrado com a venda de ingressos e bebidas nos eventos promovidos pela prefeitura.
“Metade do espaço para assistir aos shows era gratuito. No outro, ingressos eram vendidos como se fosse um camarote”, disse o ex-assessor.
Segundo o Metrópoles, a venda de ingressos e bebidas não poderia ocorrer, “uma vez que tais eventos foram organizados com verba pública”.
Um levantamento do jornal O Estado de São Paulo, divulgado no domingo (9), mostrou que o deputado priorizou o envio de emendas para a prefeitura de Ituiutaba. Ao todo, o parlamentar destinou R$ 58,4 milhões à prefeitura de Ituiutaba nos últimos quatro anos. O valor corresponde a 76,1% de todas as emendas indicadas pelo deputado no período.
Nesse mesmo período, o município promoveu festas com atrações como Gusttavo Lima, Jorge & Mateus, DJ Alok, Zezé Di Camargo & Luciano e a cantora Simone.
Até o ano passado, o deputado era crítico às chamadas “emendas PIX” pela falta de transparência e dificuldade de fiscalização.
Vale lembrar que um parlamentar pode destinar emendas para qualquer município, mas a Constituição determina que o Orçamento sirva para reduzir desigualdades regionais e combater as desigualdades sociais da população, o que nem sempre é levado em conta na distribuição dos recursos.
“Eu não queria que existisse esse tipo de emenda. Porque é um tipo de emenda que dificulta a fiscalização. Eu não tenho esse poder de acabar com a existência dessa emenda da noite para o dia”, disse Janones em entrevista ao jornal “Estado de Minas”, em 2022.
Apesar da crítica ao modelo de envio de dinheiro para as prefeituras, quando questionado sobre o envio de dinheiro público para o custeamento de shows, Janones disse que “as pessoas têm direito de se divertir, têm direito a lazer, têm direito a entretenimento”.
"O pobre quer ter prazer, quer ter diversão igual a gente. Parece uma coisa meio óbvia, talvez até populista, mas pobre é gente. Ele quer se divertir”, completou.
A Gazeta do Povo entrou em contato com o deputado e com a prefeitura de Ituiutaba e aguarda retorno.
Denúncias de “rachadinha”
Janones tem sido alvo de uma série de denúncias de ex-assessores divulgadas pelo Metrópoles.
Na última semana de novembro, o jornal divulgou um áudio em que o deputado cobra de assessores a devolução de parte dos salários.
De acordo com Janones, não se trata da prática conhecida como “rachadinha”, mas de uma contribuição dos assessores para que ele conseguisse recuperar parte do seu patrimônio usado para custear a sua campanha à prefeitura de Ituiutaba (MG), em 2016.
Um dia depois da primeira reportagem com a denúncia, o jornal divulgou um novo áudio em que Janones pede a assessores para transferir parte do salário para sua conta como forma de criar um caixa para bancar campanhas eleitorais. A estimativa de Janones era de arrecadar R$ 200 mil.
Para Janones, as acusações são “fake news”. O deputado também culpou a “extrema-direita” pela disseminação da reportagem do Metrópoles, jornal com viés de esquerda.
Após a repercussão negativa, o deputado tentou minimizar o escândalo dizendo que os áudios teriam sido gravados quando ele ainda não havia assumido o cargo de deputado e, portanto, estaria conversando com pessoas que, oficialmente, ainda não haviam sido nomeadas em seu gabinete.
No dia 4 de dezembro, o Metrópoles publicou outro trecho do áudio que contradiz a versão apresentada pelo deputado. No trecho divulgado, Janones aparece tratando de assuntos relativos ao exercício do mandato na mesma reunião em que pede parte dos salários dos funcionários para cobrir gastos com campanhas.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) já encaminhou as denúncias contra Janones para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi aberto um inquérito para apurar o caso.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF