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O diretor geral da Polícia Federal, Leandro Daiello durante a posse do novo superintendente no Rio de Janeiro, Jairo Souza da Silva (Fernando Frazão/Agência Brasil)
O ex-diretor geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. (Foto: Fernando Frazão/ABr)| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Quando o gaúcho Leandro Daiello assumiu o comando da Polícia Federal, em 2011, sua chefe era a petista Dilma Rousseff, então presidente da República. Não havia pânico instalado entre políticos e empreiteiros. Três anos mais tarde, porém, a Operação Lava Jato iniciou uma devassa em contratos da Petrobras e avançou para cima de doleiros, lobistas, empreiteiros e agentes públicos.

Daiello se aposentou em novembro de 2017, após seis anos e dez meses no cargo. O país já não estava mais nas mãos do PT e gente do mundo empresarial e político tinha ido para a cadeia. A Lava Jato continua até hoje investindo sobre personagens com poder econômico e com mandato.

Agora, aos 53 anos, Daiello resolveu voltar à ativa, mas desta vez do outro lado do balcão. Após cumprir uma quarentena de seis meses, ele hoje atua no escritório Warde Advogados, em São Paulo, especializado em direito econômico e societário, atuando na área de compliance (medidas anticorrupção) e investigação empresarial.

A banca do escritório tem como clientes empresas como o grupo J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, delatores da Lava Jato.

Questionado se já trabalhou para alguma empresa enroscada na Lava Jato, ele busca na memória. "Não. Não, deixa eu pensar. Compliance para empresa vinculada à Lava Jato, não. Mas possivelmente ocorra. Eu ainda acho que eles ainda têm um pouco de medo do personagem ex-policial. Não entenderam que o compliance não é uma advocacia criminal. Compliance é o seguinte: meu amigo, você tem um sistema interno e seu sistema interno tem algumas brechas que permitem não cumprir a lei. Ponto. Está aqui a solução."

Mais tarde, na conversa com a reportagem, ele volta a refletir sobre atender clientes atingidos pelas operações da Polícia Federal, que ele comandava. "Tu fez uma boa pergunta. Até vou fazer essa discussão no escritório para nossa postura ética quanto a isso. Mesmo porque uma coisa as pessoas não entenderam. Eu fiz a quarentena, certo? Mas o que eu obtive de dados sigilosos, eles continuam sigilosos. Eles só deixarão de ser sigilosos quando a Polícia Federal disser que eles não são mais sigilosos. A obrigação de sigilo não desaparece com a aposentadoria."

Na banca, ele faz parceria com outro egresso do governo federal, o ex-ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU) Valdir Simão. "É um escritório empresarial e societário que praticamente não faz criminal e eu fiquei com o ministro Valdir Simão na parte de investigações empresariais e societárias e de compliance. Então ficou bom para mim, porque eu não entro na parte criminal. Então dá para fazer o quê? Dá para trabalhar, ganhar um bom dinheiro, bom, razoável, e não expor, entendeu, que era o mais difícil. Porque, quando eu saí [da PF], as pessoas não me queriam para fazer um trabalho, diria assim, republicano, né? Aí não dava."

Nesta segunda-feira (22), o ex-chefe da Polícia Federal será moderador de um painel sobre segurança pública no Fórum Jurídico de Lisboa. No mesmo evento, mas em outro painel, estará também o ministro da Justiça, Sergio Moro, que ele considera estar fazendo um bom trabalho no governo de Jair Bolsonaro.

"Eu não comentaria a ida do Moro [para o governo]. Eu comentaria que o ministro Moro está fazendo um bom trabalho, importante hoje. Eu acho muito importante o trabalho que ele está fazendo tanto na questão do enfrentamento da criminalidade, do sistema penitenciário e outras frentes. Eu acho que ele está fazendo um bom trabalho e acho isso muito bom para que os órgãos de persecução continuem fazendo seu trabalho com tranquilidade."

Daiello não entra em detalhes sobre o pacote anticrime que Moro tenta fazer passar no Congresso, mas entende que são necessárias mudanças legislativas para o avanço do combate à criminalidade. "É um tema interessante. Muito se falou do Congresso e do mundo político. Mas se tu fizer uma avaliação, a própria Operação Lava Jato decorre de evoluções legislativas que ocorreram dentro do Congresso", diz.

Sobre o futuro a Lava Jato, o ex-chefe da PF diz que a investigação continua sólida. "A investigação continua em várias frentes dentro do que tanto a mídia quanto todos nós esperávamos. Acho que o enfrentamento à corrupção segue porque hoje já tem os órgãos do estado bem fomentados nesse sentido, aqui eu falo Polícia Federal, Receita Federal, Coaf, Banco Central, o Ministério Público já tem a sua estrutura, uma capacidade operacional."

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