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Ao ser ouvido pela Polícia de São Paulo no âmbito das investigações sobre o assassinato do ex-chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta ou Magrelo, o contador João Muniz Leite, de 60 anos, admitiu ter prestado serviço para o traficante por cerca de cinco anos. Leite também foi contador do empresário Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, e já prestou serviços contábeis para Lula (PT).
O depoimento sigiloso foi obtido pelo jornal O Estado de São Paulo (Estadão) e divulgado nesta terça-feira (20).
Na oitiva, Leite também revelou ter ganhado 250 vezes em loterias. De acordo com o contador, somados, os prêmios chegaram a R$ 20 milhões.
Segundo o Estadão, Leite era homem de confiança do advogado Roberto Teixeira, que é compadre de Lula.
O contador chegou a ser ouvido como testemunha no âmbito da Lava Jato no caso do triplex do Guarujá. Na ocasião, Leite afirmou ter feito a declaração de imposto de renda de Lula entre os anos de 2011 e 2015, no escritório de Roberto Teixeira, que também integrou a carteira de clientes de Leite por 14 anos.
Segundo dados da Junta Comercial de São Paulo consultados pelo Estadão, de 11 de novembro de 2019 a 31 de julho de 2023, Lulinha manteve uma de suas empresas, a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital, registrada no mesmo endereço do escritório de Leite, em Pinheiros, zona oeste da capital.
Procurada pelo jornal, a defesa de Lulinha disse que as investigações contra o contador nunca atingiram o filho do presidente. Já o Planalto disse que o presidente Lula (PT) não tem laços com Leite, apenas se utilizou dos serviços do contador poucas vezes.
O depoimento de Leite à polícia se deu no âmbito das investigações sobre o assassinato de “Cara Preta”, morto em 27 de dezembro de 2021, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Cara Preta foi morto ao lado do seu motorista, Antonio Corona Neto, o Sem Sangue.
No ano seguinte, em junho de 2022, a 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da Justiça Estadual de São Paulo determinou o bloqueio de R$ 45 milhões em imóveis e ônibus de integrantes do PCC e do contador.
Segundo o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), por diversas vezes as apostas feitas por Leite na loteria superaram os valores dos prêmios. A suspeita é de que o objetivo do contador seria esquentar o dinheiro ilegal.
Ao admitir ter trabalhado para Cara Preta, o contador disse que conhecia o cliente apenas pelo nome de Eduardo Camargo de Oliveira, o identidade falsa usada pelo traficante para comprar empresas e lavar parte do dinheiro do narcotráfico.
Ainda, de acordo com depoimento do contador, ele teria conhecido o traficante através do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, que em 2023 foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por lavagem de dinheiro do PCC e como suposto mandante do assassinato de Cara Preta.
Segundo o MPF, Gritzbach teria dado um golpe de R$ 100 milhões em Cara Preta, apropriando-se de investimentos em criptomoedas.
Após o assassinato de Cara Preta, a cúpula do PCC ordenou as mortes dos traficantes Cláudio Marcos de Almeida, o Django, e Noé Alves Schaum.
Julgados pelo tribunal do crime, Django foi obrigado a se enforcar sob o viaduto da Vila Matilde, na zona leste, em 27 de janeiro de 2022, e Schaum foi esquartejado e teve a cabeça abandonada em uma praça no Tatuapé.
Na véspera do Natal do ano passado, Gritzbach escapou de um atentado em seu apartamento .
O advogado de Gritzbach negou ao Estadão o envolvimento do cliente com o assassinato de Cara Preta.
“Desafio qualquer um a apresentar uma prova de que o Vinícius operava criptomoedas para o Anselmo (Cara Preta) . É invenção para motivar a acusação de mando do homicídio. Meu cliente era apenas um corretor de imóveis, jovem e ganancioso, que vendeu imóveis de luxo a pessoas erradas. Querem transformá-lo em bode expiatório. Por que a polícia não indiciou os compradores dos imóveis? É uma história macabra”, afirmou o advogado Ivelson Salotto.