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O ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, confirmou que 48 órgãos de inteligência, incluindo os do Supremo Tribunal Federal (STF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE), receberam dezenas de alertas por WhatsApp desde o dia 6 acerca dos riscos de manifestações violentas na Praça dos Três Poderes. Em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro nesta terça-feira (1) ele afirmou ter informado ao general Marco Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, desde as 8 da manhã do fatídico domingo, sobre o grave risco de ataques.
“Por telefone informei ele (Dias), às 13:30, que tinha a convicção de invasões”, disse respondendo a uma pergunta da relatora. A ligação teria ocorrido após o envio de outros informes alertando para o perigo. Havia uma polêmica sobre Gonçalves Dias ter recebido ou não alertas da Abin sobre a iminência dos ataques. O fato de ter recebido os alertas e não ter tomado providências pode indicar omissão ou conivência com os atos de vandalismo. Resta investigar as razões pelas quais o ex-ministro pediu a exclusão dos avisos que recebeu por telefone do relatório da Abin.
Uma primeira versão do relatório da Abin sobre quem recebeu os alertas de perigo chegou ao Congresso adulterada, supostamente para proteger Gonçalves Dias. Uma versão não alterada posteriormente foi enviada aos parlamentares. Ao responder uma pergunta do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), Cunha afirmou ter recebido um pedido direto de Gonçalves Dias para retirar seu nome do primeiro relatório. O ex-diretor disse ao deputado que não teria debatido com o general o motivo do pedido, tendo somente acatado a determinação.
Dias havia alegado anteriormente que um documento foi editado para tirar a palavra "ministro do GSI" como um dos receptores dos alertas por não estar naquela determinada lista de difusão. Mas não deixou claro se recebeu o alerta de outra forma. Com o depoimento de Cunha é possível saber que ele recebeu também um telefonema direto, falando da "convicção" dos ataques.
Flávio Bolsonaro quer saber os motivos dos relatórios alterados
A CPMI do 8 de janeiro retomou os seus trabalhos nesta terça-feira (1o), com o depoimento de Cunha. A testemunha ocupava o cargo de diretor da agência no domingo, quando ocorreu a depredação de prédios públicos na Praça dos Três Poderes. Ele deixou a função no começo de março.
Para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o depoimento é importante porque a Abin produziu uma série de alertas sobre os riscos de invasões violentas de Brasília, inclusive na véspera das invasões e depredação de patrimônio público no domingo. “É preciso esclarecer sobre as informações trocadas, as edições ou supressão de relatórios e, sobretudo, se houve a intenção de deixar o pau quebrar”, observou.
Antes do início do depoimento houve um debate de bastidores sobre o pedido da testemunha de falar em sessão secreta ou não. A vinda de Cunha ocorre após o vazamento do inquérito feito pelo Exército, que concluiu que não houve planejamento por parte do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão da Presidência da República responsável pela segurança do Palácio do Planalto, que não acionou a tropa de choque da Guarda Presidencial. A oposição sustenta com seus requerimentos o indício de omissão do GSI e outros órgãos federais, o que levou aos atos de 8 de janeiro por imprevidência.
No recesso parlamentar, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), recebeu grande volume de documentos sigilosos, que vão levar à apresentação de requerimentos para novas quebras de sigilo, sobretudo de supostos financiadores. Ela quer até fazer reconvocações e acareações.