O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Marco Edson Gonçalves Dias, prestou depoimento à Polícia Federal nesta sexta (21), em Brasília, sobre as imagens da invasão ao Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro em que aparece circulando entre os manifestantes.
O depoimento durou pouco mais de quatro horas e o ex-ministro não deu declarações à imprensa. O depoimento de Gonçalves Dias foi pedido nesta quinta (20) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após o vazamento das imagens, que estavam sob sigilo nas investigações que apuram as responsabilidades pelos atos de 8 de janeiro, que culminaram com a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes.
Segundo declarações do ex-ministro dadas em depoimento, divulgadas pela GloboNews e pela Folha de São Paulo no começo da noite, Gonçalves Dias afirmou que não tinha conhecimento da classificação de risco dada pelas autoridades para o dia dos ataques, que houve um “apagão geral do sistema pela falta de informações para a tomada de decisões” e que não tinha como deter sozinho o grupo de invasores.
Gonçalves Dias diz que chegou ao Palácio do Planalto por volta das 14h50 e viu a multidão “conseguir superar o bloqueio da PMDF [Polícia Militar do Distrito Federal] e partir em direção” à sede do Poder Executivo, pela frente do prédio e pela lateral, superando outra barreira formada pelo pelotão do Exército. Ele segue no depoimento relatando o avanço dos manifestantes sobre os policiais e que pediu reforço para o General Dutra, mas que não viu se o pedido foi atendido – disse que, ao final da operação, o contingente era de 487 militares e de 520 policiais militares.
“Ao entrar no prédio do Palácio do Planalto, se dirigiu ao 4º andar e verificou que havia invasores e estavam sendo retirados por agentes do GSI e, após descer para o 3º andar, fez uma varredura e encontrou outros invasores na sala contígua e conduziu essas pessoas à saída, após a porta de vidro”, relata um trecho do depoimento.
O ex-ministro disse à PF que solicitou ao coronel Vandeli a presença da tropa de Choque da PM para prender os envolvidos. Indagado pelo motivo de não ter feito prisões nos 3º e 4º andares do Palácio, Gonçalves Dias disse que “estava fazendo um gerenciamento de crise e essas pessoas seriam presas pelos agendes de segurança no 2º piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo”.
“O declarante não tinha condições materiais de sozinho efetuar prisão das três pessoas ou mais que encontrou, sendo que um dos invasores encontrava-se altamente exaltado”, relata outro trecho do depoimento.
O ex-ministro disse, ainda, que não deu ordem para "evacuar os invasores do prédio, mas se por ventura algum de seus subordinados deu essa ordem, não foi de seu conhecimento". Ele afirmou, ainda, que deu ordem de prisão e que "foram efetuadas mais de 200".
A Polícia Federal indagou Gonçalves Dias sobre a imagem que mostra o major José Eduardo Natale de Paula Pereira entregando uma garrafa de água a um dos manifestantes, e ele respondeu que o ato “deve ser analisado pelas circunstâncias do momento os motivos do major, mas que se tivesse presenciado, o teria prendido”.
Ele relatou, ainda, que as imagens divulgadas têm um “corte e edição na gravação de aproximadamente 30 minutos, ficando claro que não estava no mesmo tempo em que ele entregou a garrafa de água”, disse. Gonçalves Dias afirmou, ainda, que entregou todas as imagens do circuito de segurança às autoridades e que todas as pessoas que aparecem nos vídeos do 3º piso do Palácio do Planalto já foram identificadas e os nomes entregues ao STF.
Em declaração reservada à TV Globo após o depoimento, Gonçalves Dias disse que “o comparecimento na sede da Polícia Federal é, para mim, uma grande oportunidade de esclarecer os fatos que têm sido explorados na imprensa. Confio na investigação e na Justiça, que apontarão que eu não tenho qualquer responsabilidade seja omissiva ou comissiva nos fatos do dia 8 de janeiro”.
Em declaração reservada à TV Globo após o depoimento, Gonçalves Dias disse que “o comparecimento na sede da Polícia Federal é, para mim, uma grande oportunidade de esclarecer os fatos que têm sido explorados na imprensa. Confio na investigação e na Justiça, que apontarão que eu não tenho qualquer responsabilidade seja omissiva ou comissiva nos fatos do dia 8 de janeiro”.
Na decisão que pediu o depoimento de Gonçalves Dias, Moraes considerou como “gravíssimas” as imagens, e que “indicam a atuação incompetente das autoridades responsáveis pela segurança interna do Palácio do Planalto, inclusive com a ilícita e conivente omissão de diversos agentes do GSI”.
Além do interrogatório, Moraes cobrou da PF todas as imagens de câmeras, inclusive as do Palácio do Planalto, bem como as perícias e providências tomadas sobre elas – essa determinação foi feita no próprio dia 8 de janeiro. Moraes ainda pediu informações sobre depoimentos de militares do Batalhão da Guarda Presidencial, que fazem a segurança da Presidência – essa ordem foi dada no dia 27 de fevereiro.
Raio-x no GSI
Cappelli assumiu o comando interino da pasta na noite de quarta (19) a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve uma reunião reservada com Gonçalves Dias pouco antes do general se demitir do cargo. O novo ministro afirmou que prepara um relatório detalhado sobre a estrutura do GSI e avalia que mudanças podem ser realizadas.
O ministro passou parte desta sexta (21) em reuniões com agentes do GSI e outros membros do governo, e que o levantamento sobre a estrutura será apresentado ao presidente após o retorno da viagem à Europa. Ainda não há uma decisão se os militares que fazem parte da estrutura do gabinete serão exonerados ou não.
Um pouco mais cedo, o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, disse que um raio-x está sendo feito na estrutura do GSI e que todos os agentes que tiveram alguma participação indevida durante os atos de 8 de janeiro serão responsabilizados.
"Esse raio-x tem que ser feito, uma das ações neste momento de interinidade é exatamente esse raio-x, [assim] como as instituições que buscam identificar evidências de relação de servidores civis ou militares com os atos terroristas vem fazendo através da Polícia Federal e dos instrumentos do Judiciário", disse.
Em uma reunião na quinta com o comandante-geral do Exército Tomás Miguel Paiva, Cappelli afirmou que estuda tem feito "essa discussão em total sintonia tanto com civis quanto com o comando do Exército". O comandante diz que colabora e aceitará a decisão que vier a ser tomada, e que militares podem vir a ser julgados na Justiça comum a depender do que for decidido pelo STF.
Uma sindicância interna foi aberta no GSI para apurar a conduta de agentes civis e militares no dia 8 de janeiro, e um relatório deve ser produzido até meados de maio.
Militares do GSI foram identificados por interino
Alexandre de Moraes também ordenou à Polícia Federal que identifique todos os militares que aparecem nas imagens reveladas nesta quarta (19), tomando o depoimento deles nas mesmas 48 horas, caso já não tenham sido realizados. Na noite desta quinta (21), o ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli, disse que já os identificou e encaminhou ao magistrado.
“Acabei de responder aos questionamentos feitos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, acerca da identificação dos servidores que aparecem nas imagens divulgadas ontem (quarta, 19). Vamos acelerar a sindicância em curso no GSI”, disse em uma postagem no Twitter.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF